|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Maior crise de crédito pode precisar de pressão do Fed para ser resolvida
GEORGIA NASCIMENTO
DA REPORTAGEM LOCAL
A escassez nas linhas de crédito
comercial é a maior já vista no
mercado brasileiro, superando as
crises da dívida externa de 1983,
1987 e 1989. Mas, segundo especialistas, a oferta deve voltar ao
normal depois da assinatura do
acordo com o FMI.
Os analistas ouvidos pela Folha
ainda arriscam a hipótese de que
pode ser necessária uma pressão
sobre os bancos -por parte dos
BCs americano e europeu- a fim
de fazer com que o volume de crédito volte ao nível pré-crise.
De forma semelhante à negociação feita na década de 80, espera-se que o Banco Central e os organismos internacionais tomem
medidas para que as linhas voltem ao normal.
"O Fed (banco central dos Estados Unidos) e o BCE (Banco Central Europeu) vão forçar esse movimento. E isso é fundamental para que diminua a pressão cambial", diz o economista Carlos
Langoni, diretor do Centro de Estudos Internacionais da FGV e ex-presidente do Banco Central.
Segundo Emilio Garofalo Filho,
ex-funcionário do BC, a crise
atual pode ser pior que a de 83. Na
época, o BC pediu aos bancos que
se comprometessem com a manutenção do crédito ao Brasil, especificamente com as linhas de
crédito relacionadas ao comércio,
o chamado Projeto 3.
Segundo ele, nas crises de 87 e
89, houve alterações nas taxas e
nos prazos dos empréstimos, mas
mesmo assim os fluxos de financiamento continuaram.
Segundo Antonio Carlos Manfredini, professor da Eaesp-FGV
(Escola de Administração de Empresas de São Paulo da Fundação
Getúlio Vargas), essa possibilidade tem precedentes. "O Fed pode
fazer o que fez com a Rússia: "convidou" os bancos a voltarem a
ofertar suas linhas para o país".
A escassez de novas linhas e a
dificuldade para rolar as dívidas
faz com que as empresas tenham
que comprar dólares para pagar o
que devem e, segundo Manfredini, essa foi uma das causas da alta
do câmbio na semana passada.
Caso a situação se estenda, cenário pouco provável, segundo os
analistas, a alta do dólar pressionará também a dívida externa do
governo denominada em dólar.
Além disso, a corrida pela moeda norte-americana e a queda das
reservas públicas faz com que o
investidor fique mais tenso e
agrave ainda mais a crise. "Uma
explosão cambial prolongada trará a explosão da inflação. Mas depois de assistirmos à crise Argentina, não se espera que passemos
por isso", diz Langoni.
Segundo Otaviano Canuto, professor de economia da USP e da
Unicamp, "nem mesmo a estupidez republicana norte-americana
vai deixar acontecer com o Brasil
o que houve na Argentina"
Texto Anterior: BNDES avisou governo sobre crise do dólar Próximo Texto: Empresas buscam negociação, e bancos até aceitam alguma perda Índice
|