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Cenário não previa
piora na Argentina
SÍLVIA MUGNATTO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo reduziu sua estimativa de crescimento econômico
neste ano após o agravamento da
crise argentina. Se antes esperava
um crescimento do PIB (Produto
Interno Bruto) de pelo menos
2,5%, a equipe econômica trabalha agora com uma estimativa de
2% e, no cenário mais otimista, de
no máximo 2,5%.
A piora na situação econômica
da Argentina, principal parceiro
do Brasil no Mercosul e mercado
importante para as exportações
brasileiras, não constava nos cenários da área econômica. Com a
nova previsão, o crescimento do
PIB neste ano, caso se confirme,
vai ficar pouco acima do 1,5% registrado em 2001.
De janeiro a abril, as exportações brasileiras para a Argentina
tiveram queda de 68% em relação
ao mesmo período do ano passado. "Isso não saiu de acordo com
o planejado", disse o secretário de
Política Econômica da Fazenda,
José Guilherme dos Reis.
A Argentina passou da segunda
colocação no ranking de parceiros comerciais do Brasil para
quinto lugar. O país está buscando novos mercados, mas não teve
como compensar essa perda.
Agora, a área econômica do governo voltou a trabalhar com o intervalo de 2% a 2,5% para o crescimento da economia. Segundo o
Ministério do Planejamento, cada
0,5 ponto percentual de queda no
crescimento significa menos R$
1,6 bilhão na arrecadação de impostos.
Como o governo já tem o problema do atraso na votação da
prorrogação da CPMF para compensar, todos os cálculos para o
cumprimento da meta de superávit primário (receitas menos despesas, exceto juros) estão sendo
refeitos. O atraso representa, até
agora, cerca de R$ 5 bilhões a menos na receita neste ano.
Para manter o acordo com o
FMI (Fundo Monetário Internacional), o setor público (governo
federal, Estados, municípios e
empresas estatais) precisa economizar R$ 34,1 bilhões até o final de
setembro.
No primeiro trimestre deste
ano, o objetivo era economizar R$
11,4 bilhões. E o setor público superou a meta em apenas R$ 155
milhões. "Nos dois últimos anos
nós tivemos mais folga, mas esperamos que o resultado das estatais
seja revertido nos próximos meses", afirmou Reis.
Estatais
De janeiro a março, as estatais
apresentaram déficit por causa de
uma operação de capitalização
feita pela Petrobras em seu fundo
de pensão. Como o fundo é considerado uma empresa privada, a
transação representou uma saída
de recursos do setor público. No
ano, a área econômica está mantendo a previsão de lucro de R$
7,5 bilhões para o conjunto das estatais.
Para compensar a perda com a
CPMF, o ministro do Planejamento, Guilherme Dias, disse que
o governo trabalha em duas frentes. A primeira delas é aumentar
tributos (Imposto sobre Operações Financeiras e alguma outra
contribuição) e cortar despesas
no Orçamento deste ano.
Tem como alternativa encontrar argumentos jurídicos fortes
para convencer o Congresso a reduzir o prazo de 90 dias exigidos
para vigência da CPMF. Pela regra
atual, a cobrança termina no dia
17 de junho. Aprovada na Câmara, a proposta de prorrogação do
tributo até 2004 ainda precisa passar por duas votações no Senado.
Fora a queda das exportações
para a Argentina, nenhum outro
dado sobre o nível de atividade
econômica tem surpreendido o
governo. Segundo Reis, o crescimento da inadimplência é normal
nessa época do ano por causa dos
gastos realizados no final do ano
anterior.
Sobre os números que mostram
aumento do desemprego, Reis
disse que alguns indicadores ficaram estáveis, embora a PEA (População Economicamente Ativa)
tenha crescido no período.
Ele também minimizou a revisão da classificação que alguns
bancos de investimento fizeram
sobre a dívida brasileira. Na semana passada, bancos estrangeiros recomendaram a redução dos
investimentos no Brasil em razão
da subida nas pesquisas do pré-candidato do PT à Presidência,
Luiz Inácio Lula da Silva.
Para Reis, a apesar das discussões políticas em torno da reavaliação, os bancos apenas modificaram uma classificação que estava acima da média para uma classificação de mercado.
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