São Paulo, domingo, 05 de maio de 2002

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ECONOMIA EM XEQUE

Demanda abaixo do previsto e troca de comando no Planalto diminuem confiança dos empresários

Renda baixa e eleições freiam investimentos

FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Os bilhões de reais investidos no país em 2001 por grandes grupos devem virar milhões neste ano. Empresas do porte da Companhia Siderúrgica Nacional, Pão de Açúcar e Acesita vão investir menos em 2002. Não são as únicas.
Consultas a empresários mostram que há agora bem mais cautela na hora de definir os investimentos para 2002. Ou porque a economia não deslanchou ou porque parte do ciclo de investimentos pesados das companhias chegou ao fim. Sem esquecer do clima de ansiedade eleitoral.
Um indicador da perda de fôlego para investir: duplicou o percentual de indústrias paulistas -de 10% para 21%, segundo a Fiesp- que não farão investimentos neste ano em relação a 2001.
O confiante espírito do industrial brasileiro sobre o futuro da economia, que estava no auge em janeiro de 2001, esmoreceu. Os empresários consultados em abril mostraram-se menos confiantes no país do que em janeiro, segundo Índice de Confiança do Empresário Industrial, da CNI.
"As perspectivas de investimentos são péssimas", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial).
"Na minha opinião, a economia não se recupera", diz Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado de São Paulo).
A Dixie-Toga, fabricante de embalagens, que tradicionalmente investe cerca de US$ 10 milhões por ano no país, não vai desembolsar nada neste ano.
"Estamos cautelosos com os investimentos", afirma Sérgio Haberfeld, diretor-presidente da companhia. "Não há expectativa de melhora nem da economia brasileira nem da mundial."

Evitar mais pessimismo

Muitas empresas que decidiram brecar os investimentos preferem não tocar no assunto, até como forma de não gerar clima mais pessimista no país, segundo a Folha apurou. Mas também há casos de empresas que, na melhor das hipóteses, devem manter os investimentos neste ano.
A CSN, que investiu pesado nos últimos anos, tirou o pé do freio e vai colocar R$ 478 milhões (com base no câmbio de sexta-feira) no país neste ano -R$ 1 bilhão em 2001. No caso da CSN, chega ao fim o programa de atualização e modernização da usina Presidente Vargas, que totalizou US$ 2,25 bilhões nos últimos seis anos.
Na Telemar, a situação se repete, assim como nas empresas de telefonia em geral. No primeiro trimestre, a Telemar investiu R$ 400 milhões -no mesmo período do ano passado foi R$ 1,8 bilhão. A redução dos investimentos resulta do fim do Plano de Antecipação de Metas negociado com o governo.
Há outros grupos sem muitos projetos para compra de empresas dentro ou fora do Brasil e, por isso, em princípio, devem gastar menos, informam analistas.
A Votorantim aplicou US$ 1 bilhão para adquirir a canadense St. Marys Cement, além de parte da Aracruz, em 2001. E ainda investiu outro R$ 1,3 bilhão. Para este ano será menos: R$ 2 bilhões.

Conter gastos

As razões que levaram o empresário brasileiro a tirar menos dinheiro no bolso são quase as mesmas. Em primeiro lugar está a demanda por bens. Ao contrário do que se previa no início do ano, o consumo não deslanchou. Os estoques, portanto, são maiores.
O nível de utilização da capacidade das fábricas, que era de 79,5%, em média, em janeiro deste ano, que já é um mês fraco de atividade, caiu para 79,1% em abril, segundo levantamento feito pela FGV.
As exportações, outra forma de desovar a produção, também não estão indo tão bem quanto a previsão do final do ano. Caíram 1,9% em abril em relação a abril de 2001. E tem sido assim em todos os meses do ano. É sabido que a crise na Argentina e a retração da economia norte-americana estavam levando o Brasil a reduzir as vendas externas em 2001. A questão é que no primeiro trimestre de 2002 isso não mudou.
O país ainda precisará lidar com dois novos fatores em 2002 -não presentes no ano passado- que podem pressionar mais a decisão de desembolsar recursos. São eles: a troca de governo e o fim do processo de investimentos de algumas empresas.
As companhias definem períodos para colocar em prática planos pesados de expansão, ampliação ou modernização dos parque fabris -ou dos pontos-de-venda, no caso do varejo. Fechado esse ciclo, elas gastam menos.
Isso ocorre com o Pão de Açúcar e acontece o mesmo com a CSN. A decisão não tem a ver com questões econômicas, necessariamente, mas com planos estratégicos de médio prazo.
A eleição é o outro fator atípico no ano. A expectativa sobre como será o futuro governo assusta um pouco. Mais da metade (53%) dos empresários paulistas acredita que a disposição para investimentos depende do clima eleitoral.


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