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ECONOMIA EM XEQUE
Demanda abaixo do previsto e troca de comando no Planalto diminuem confiança dos empresários
Renda baixa e eleições freiam investimentos
FÁTIMA FERNANDES
ADRIANA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Os bilhões de reais investidos no
país em 2001 por grandes grupos
devem virar milhões neste ano.
Empresas do porte da Companhia Siderúrgica Nacional, Pão de
Açúcar e Acesita vão investir menos em 2002. Não são as únicas.
Consultas a empresários mostram que há agora bem mais cautela na hora de definir os investimentos para 2002. Ou porque a
economia não deslanchou ou
porque parte do ciclo de investimentos pesados das companhias
chegou ao fim. Sem esquecer do
clima de ansiedade eleitoral.
Um indicador da perda de fôlego para investir: duplicou o percentual de indústrias paulistas
-de 10% para 21%, segundo a
Fiesp- que não farão investimentos neste ano em relação a
2001.
O confiante espírito do industrial brasileiro sobre o futuro da
economia, que estava no auge em
janeiro de 2001, esmoreceu. Os
empresários consultados em abril
mostraram-se menos confiantes
no país do que em janeiro, segundo Índice de Confiança do Empresário Industrial, da CNI.
"As perspectivas de investimentos são péssimas", afirma Júlio
Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Iedi (Instituto de
Estudos para o Desenvolvimento
Industrial).
"Na minha opinião, a economia
não se recupera", diz Horacio Lafer Piva, presidente da Fiesp (Federação das Indústrias do Estado
de São Paulo).
A Dixie-Toga, fabricante de embalagens, que tradicionalmente
investe cerca de US$ 10 milhões
por ano no país, não vai desembolsar nada neste ano.
"Estamos cautelosos com os investimentos", afirma Sérgio Haberfeld, diretor-presidente da
companhia. "Não há expectativa
de melhora nem da economia
brasileira nem da mundial."
Evitar mais pessimismo
Muitas empresas que decidiram
brecar os investimentos preferem
não tocar no assunto, até como
forma de não gerar clima mais
pessimista no país, segundo a Folha apurou. Mas também há casos
de empresas que, na melhor das
hipóteses, devem manter os investimentos neste ano.
A CSN, que investiu pesado nos
últimos anos, tirou o pé do freio e
vai colocar R$ 478 milhões (com
base no câmbio de sexta-feira) no
país neste ano -R$ 1 bilhão em
2001. No caso da CSN, chega ao
fim o programa de atualização e
modernização da usina Presidente Vargas, que totalizou US$ 2,25
bilhões nos últimos seis anos.
Na Telemar, a situação se repete, assim como nas empresas de
telefonia em geral. No primeiro
trimestre, a Telemar investiu R$
400 milhões -no mesmo período do ano passado foi R$ 1,8 bilhão. A redução dos investimentos resulta do fim do Plano de Antecipação de Metas negociado
com o governo.
Há outros grupos sem muitos
projetos para compra de empresas dentro ou fora do Brasil e, por
isso, em princípio, devem gastar
menos, informam analistas.
A Votorantim aplicou US$ 1 bilhão para adquirir a canadense St.
Marys Cement, além de parte da
Aracruz, em 2001. E ainda investiu outro R$ 1,3 bilhão. Para este
ano será menos: R$ 2 bilhões.
Conter gastos
As razões que levaram o empresário brasileiro a tirar menos dinheiro no bolso são quase as mesmas. Em primeiro lugar está a demanda por bens. Ao contrário do
que se previa no início do ano, o
consumo não deslanchou. Os estoques, portanto, são maiores.
O nível de utilização da capacidade das fábricas, que era de
79,5%, em média, em janeiro deste ano, que já é um mês fraco de
atividade, caiu para 79,1% em
abril, segundo levantamento feito
pela FGV.
As exportações, outra forma de
desovar a produção, também não
estão indo tão bem quanto a previsão do final do ano. Caíram
1,9% em abril em relação a abril
de 2001. E tem sido assim em todos os meses do ano. É sabido que
a crise na Argentina e a retração
da economia norte-americana estavam levando o Brasil a reduzir
as vendas externas em 2001. A
questão é que no primeiro trimestre de 2002 isso não mudou.
O país ainda precisará lidar com
dois novos fatores em 2002 -não
presentes no ano passado- que
podem pressionar mais a decisão
de desembolsar recursos. São eles:
a troca de governo e o fim do processo de investimentos de algumas empresas.
As companhias definem períodos para colocar em prática planos pesados de expansão, ampliação ou modernização dos parque
fabris -ou dos pontos-de-venda,
no caso do varejo. Fechado esse
ciclo, elas gastam menos.
Isso ocorre com o Pão de Açúcar e acontece o mesmo com a
CSN. A decisão não tem a ver com
questões econômicas, necessariamente, mas com planos estratégicos de médio prazo.
A eleição é o outro fator atípico
no ano. A expectativa sobre como
será o futuro governo assusta um
pouco. Mais da metade (53%) dos
empresários paulistas acredita
que a disposição para investimentos depende do clima eleitoral.
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