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Bancos já se preparam
para explosão do calote
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Se o mercado de crédito for usado como termômetro da recuperação da economia brasileira, então as perspectivas do país para
este ano não são as melhores. A
oferta total de empréstimos está
estagnada. Já o crédito de pior
qualidade se encontra em franca
expansão. E os bancos, preocupados, aumentam provisões para se
prevenirem contra calotes.
Esse quadro nada animador é
confirmado por quase todos os
dados referentes a crédito no país.
Em outubro do ano passado, o
volume total de crédito ofertado
era de R$ 335,3 bilhões. Seis meses
depois, as taxas de juros caíram
apenas meio ponto percentual
para 18,5%, a massa salarial está
em queda e a indústria se recupera a passos de tartaruga.
Conclusão: as otimistas expectativas em relação à expansão do
crédito foram frustradas e a oferta
total de empréstimos continuava
estagnada em R$ 335,5 bilhões em
março passado.
Se por um lado não há oferta
nova de recursos, aumenta o percentual de empréstimos já concedidos que caminham para o calote. Um levantamento feito, a pedido da Folha, pelo professor Ricardo Leal, da Coppead, instituto de
pesquisa da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro), mostra que o crédito de pior qualidade- atrasado há mais de 90
dias- cresceu 12,6%, passando
de R$ 12,7 bilhões para R$ 14,3 bilhões. Apesar desse crédito representar um pequeno percentual do
volume total de empréstimos, sua
deterioração já preocupa.
Não é à toa que os bancos estão
reforçando suas provisões para os
chamados créditos de liquidação
duvidosa, ou seja, cujo risco de calote é grande. Essa tendência já
era forte no fim do ano passado.
Dados levantados pela consultoria Austin Asis mostram que o volume total de provisões aumentou
86% em dezembro de 2001 em relação ao mesmo mês em 2000.
Os balanços dos bancos do primeiro trimestre deste ano que começaram a ser divulgados mostram que essa tendência de reforço nas provisões se acentuou.
O Bradesco, maior banco privado do país, aumentou sua carteira
de crédito em apenas 0,3% nos
primeiros três meses do ano. Durante uma teleconferência com
jornalistas na última quinta-feira,
Luiz Trabucco, vice-presidente da
instituição, explicou que a módica
expansão dos empréstimos é resultado da fraca demanda por
crédito. E lembrou:
"Durante o mesmo período no
ano passado, a carteira de crédito
cresceu quase 6%", diz Trabucco.
As provisões, no entanto, crescem em ritmo acelerado. Em
março de 2001, o Bradesco tinha
um total de R$ 2,59 bilhões de
provisões para créditos de liquidação duvidosa. Em dezembro
passado, este número havia subido para R$ 2,94 bilhões. Já em
março passado, as mesmas provisões somavam R$ 3,48 bilhões.
Outra rubrica do balanço do
Bradesco que indica, por um lado,
a fortaleza do banco e, por outro,
o receio de problemas econômicos à vista, segundo Erivelto Rodrigues, da Austin Asis é a chamada provisão excedente, que vai
além do provisionamento exigido
pelo Banco Central. No caso do
Bradesco, as provisões excedentes
cresceram 148% entre o primeiro
trimestre de 2001 e o mesmo período neste ano.
"Isso indica que o banco enxerga a possibilidade do aumento de
inadimplência", disse Rodrigues.
Além do Bradesco, Itaú, Banespa e o espanhol BBV Banco também reforçaram suas provisões
neste início de ano. Analistas dizem que o BC está mais rígido na
fiscalização, o que tem contribuído para o aumento das provisões,
mas afirmam que o risco da inadimplência é o que mais tem levado a isso.
Os próprios bancos admitem o
receio maior com a inadimplência. Em seu balanço, o Itaú ressalta que as provisões feitas, concentradas nos créditos concedidos a
pessoas físicas "refletem a deterioração dos níveis de inadimplência do segmento no Brasil".
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