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Argentina deve voltar ao FMI em 2005
CLÁUDIA DIANNI
DE BUENOS AIRES
A Argentina suspendeu o atual
acordo com o FMI até a conclusão
da reestruturação da dívida pública, mas pretende voltar ao organismo de crédito no ano que vem.
Ainda que critique a política do
Fundo no país nos anos 90, o governo de Néstor Kirchner sabe
que ainda não pode prescindir da
instituição, pois necessita do dinheiro para pagar dívidas.
"Ainda bem que me reuni com
os representantes de Deus, porque daqui a pouco vou me encontrar com o representante do diabo", disse Kirchner na semana
passada a um grupo de bispos,
antes de receber o diretor-geral
do FMI, Rodrigo Rato.
Apesar de contar com um câmbio equilibrado atualmente (cerca
de três pesos por dólar), superávit
fiscal de 4% do PIB projetado para o ano e inflação controlada, diferentemente do Brasil, a Argentina não pode dispensar o FMI porque tem que garantir a sustentabilidade do pagamento da dívida.
O país está em moratória com
os credores privados desde dezembro de 2001, mas não com os
organismos internacionais, para
quem deve cerca de US$ 150 bilhões. Mesmo antes de voltar a
pagar aos credores privados, o governo precisa do dinheiro do Fundo para pagar juros a esses organismos. No mês passado, a Argentina teve que recorrer às reservas internacionais para quitar
parte dos juros que deve ao Fundo, que se negou a liberar a terceira parcela do acordo de US$ 13,8
bilhões assinado em setembro de
2003 porque o país não cumpriu
as metas da carta de intenção.
"O FMI não tem nenhum direito de dizer como a Argentina deve
conduzir sua política em matéria
de serviços públicos. A única coisa que eles têm que fazer é observar o tipo de câmbio. E o da Argentina está equilibrado, e o governo também tem superávit fiscal. O FMI deveria dar-se por satisfeito. Pode fazer comentários,
mas não exigência", disse Eduardo Conesa, professor de macroeconomia da Universidade de Buenos Aires, embora concorde que o
país ainda precisa do Fundo.
Essa é a razão da crise entre a
Argentina e o Fundo. O FMI admitiu que foi longe demais ao
apoiar a política econômica dos
anos 90, mas o governo quer que
ele ajude o país sem impor regras.
"Um maior esforço fiscal vai
produzir efeitos sociais, porque o
país não poderá baixar o desemprego e empregar recursos na solução de problemas sociais", disse
Rubens Ricupero, secretário-geral da Unctad (Conferência das
Nações Unidas sobre Comércio e
Desenvolvimento), que apóia a
decisão da Argentina de afastar o
Fundo durante as negociações
com os credores. "Em 1987, o Brasil também negociou a moratória
sem acordo com o FMI."
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