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EVENTO
Trabalho será apresentado em nova versão do Fórum Nacional, que discutirá, na quinta-feira, os reflexos sociais do crescimento
Anos 70 e Real fizeram pobreza despencar, diz estudo
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Com o objetivo de debater principalmente os efeitos do crescimento sobre a redução da pobreza, o Inae (Instituto Nacional de
Altos Estudos) realizará na próxima quinta-feira um "mini" Fórum Nacional, e um dos trabalhos
a serem apresentados revela que a
expansão econômica dos anos 70
fez despencar o número de pobres no país. Segundo estudo da
economista Sônia Rocha, da FGV
(Fundação Getúlio Vargas), obtido pela Folha, o percentual de pobres caiu de 68,4% da população
em 1970 para 20,7% em 2002 (os
dados são do IBGE).
Ao traçar uma perspectiva histórica, ela mostra que o efeito benéfico do crescimento aparece em
dois momentos: na década de 70,
quando o país crescia à "excepcional" taxa média de 8% ao ano,
e com menos intensidade nos primeiros anos do Real.
"Embora o crescimento econômico não seja uma panacéia, garantir um ritmo sustentado de expansão da renda tornaria muito
mais fácil estabelecer mecanismos de combate a pobreza", diz.
O Inae decidiu realizar essa versão reduzida do Fórum Nacional
-que acontece anualmente em
maio e é conhecido por seus debates econômicos- para comemorar os 50 anos do Ipea (Instituto
de Pesquisa Econômica Aplicada). Por esse motivo, decidiu dar
ênfase à discussão social.
Para Rocha, embora haja uma
visão "saudosista" dos anos 70
(quando o país era principalmente rural), não resta dúvida de que
a pobreza é menor hoje.
Em seu trabalho, Rocha compara a evolução da pobreza utilizando o padrão de consumo dos anos
70, corrigido pela inflação do período. Segundo ela, o nível de
consumo aumentou desde então,
mas só é possível fazer uma análise de longo prazo dessa forma.
Por esse critério, é considerada
pobre uma família de São Paulo
que tem renda per capita de R$
142 -a linha de pobreza traçada
pela especialista é regionalizada.
Pelo atual padrão de consumo,
apurado pela POF (Pesquisa de
Orçamentos Familiares) de 1996,
o percentual de pobres é de 34%.
De acordo com ela, o "excepcional" crescimento econômico dos
70 (8,6% ao ano) possibilitou o
aumento do rendimento, o principal motor da queda da pobreza.
Rocha ressalta, no entanto, que a
elevação da renda fez crescer também a desigualdade de rendimentos entre as pessoas. A renda dos
chamados não-pobres equivalia,
em 1970, a 2,83 vezes o rendimento dos pobres. Em 1980, essa relação subiu para 5,20.
Cruzado e Real
Na época do Plano Cruzado, o
controle de preços que resultou
na redução temporária da inflação fez também cair a proporção
de pobres, que chegou a 23,7% em
1986. Mas, com a volta da inflação
já em 1987, o percentual voltou
para a casa dos 30%. Um dos motivos dessa piora, segundo o trabalho, é o fato de a renda ter ficado estável de 1981 a 1990 devido à
instabilidade econômica e à deterioração do mercado de trabalho.
Uma nova melhora na pobreza
só voltou a acontecer nos primeiros anos do Plano Real -o número de pobres caiu de 30,4% em
1993 para 20,6% em 1995.
Rocha destaca que o Real melhorou a renda especialmente das
parcelas mais pobres da população. O motivo é a chamada "âncora verde" (o comportamento moderado do preços dos alimentos).
A redução da pobreza nos primeiros anos do Real, diz Rocha,
aconteceu apesar da piora do
mercado de trabalho, que viveu
período de ajuste com mais gente
procurando trabalho e demissões
por causa da modernização da indústria. A deterioração do emprego foi compensada, em parte, pelo
menor crescimento demográfico.
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