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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
EUA fazem guerra com bomba, economia e infra-estrutura
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O avanço da guerra no Iraque e o vislumbre da ocupação de Bagdá provocaram
duas importantes mudanças no
foco da mídia e dos governos da
coalizão invasora. São dois aspectos que desde o início foram
menosprezados, em parte porque a cobertura "shownalística"
(especialmente a televisiva) direcionou o olhar para o complexo tecnológico-militar.
O primeiro é o do jogo de interesses econômicos envolvidos
na ocupação e controle do Iraque. França, Alemanha e Rússia
são os países cujas empresas e
militares mais se envolveram
com o regime iraquiano depois
da Guerra do Golfo. Retorna a
questão que mobilizou as lideranças políticas e diplomáticas:
qual será o papel da ONU. Os
EUA preferem orientar a negociação com os canos ainda fumegantes de canhões e fuzis.
O segundo aspecto relevante
para o futuro do Iraque e das relações internacionais, também
subestimado pelo olhar dominante, é o da estratégia mais
adequada para controlar um
país. Nesse campo, o poder das
armas tende a declinar em favor
de estratégias mais sutis. Elas incluem controle territorial, mas o
fator decisivo é a inteligência do
sistema de dominação. Não é
por acaso que Colin Powell afirmou, na sexta-feira, que encontrar ou não Saddam Hussein, vivo ou morto, é irrelevante.
Se a questão econômica envolvida na ocupação militar do território iraquiano fica aos poucos
mais visível e merece até a atenção do Congresso norte-americano (como sempre, protecionista, agora já "protegendo" o
"seu" território no Oriente Médio), é preciso evitar a ingenuidade mais chauvinista. Esse é o
papel de Colin Powell, tido como "pombo" entre os militares,
mas a rigor um exímio negociador que há pelo menos duas semanas faz um "road show" de
oportunidades de cooperação
entre as forças da coalizão e interesses europeus no butim da reconstrução do Oriente Médio.
Como outros assessores menores da cúpula militar americana já deixaram claro, seus
olhares já não se dirigem apenas
para o palco iraquiano, tido como favas contadas. O mapa relevante vai da questão palestina
aos governos da Síria e do Irã, do
Mediterrâneo ao Afeganistão.
Negociar com russos, franceses
e canadenses a gestão de um novo Oriente Médio significa ao
mesmo tempo abrir mão de
oportunidades de negócios e
compartilhar uma parte dos
custos da "democratização" que
ameaça as lideranças tribais de
boa parte do mundo árabe.
O discurso da tecnoburocracia
militar americana é também
muito didático quanto à inteligência das condições de controle de um país. Assim como na
economia, a estratégia vale mais
que as bombas nesse terreno.
Além da precisão balística, há
uma destruição seletiva: os
bombardeios e o controle territorial devem culminar com um
controle das redes de comunicação e transporte. Tendo isso sob
controle, torna-se então secundário saber se Saddam Hussein,
ou qualquer de seus generais, está vivo ou morto, se continuará
ou não andando por Bagdá.
Mais que as armas, embora
dependa delas para se instalar, a
dominação estrangeira se organiza por meio de arranjos econômicos e pelo controle da infra-estrutura de um país.
Aliás, em muitos países onde a
ocupação não tem sido violenta,
americanos e europeus têm
sempre dado atenção à reengenharia econômica e estratégica
como parte de seus modelos de
desenvolvimento. Quando se
chega a esse nível de refinamento, a dominação estrangeira já
não depende mais do nome, estatura ou partido político do
presidente de plantão.
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