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Dívida atrasada
e burocracia
param BNDES
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
O BNDES (Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e
Social) enroscou-se na inadimplência de US$ 415 milhões da
norte-americana AES com seus
cofres e ainda não deslanchou no
governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As aprovações
de novos projetos caíram 66% nos
dois primeiros meses do ano (último dado disponível) em relação
ao mesmo período de 2002.
Carlos Lessa, presidente do banco estatal que é praticamente a
única fonte de financiamentos de
longo prazo do país, afirma que o
principal motivo para a retração é
a carência de projetos na fila para
aprovação. "No dia 23 de dezembro a diretoria anterior fez um esforço gigantesco e aprovou mais
de 70 operações. Praticamente
aprovou tudo que estava mais ou
menos maduro", disse.
Setores técnicos do banco ouvidos pela Folha têm pontos de vista diferentes de Lessa. Eles vêem
lentidão mesmo. Para uns, motivada simplesmente pelo período
de aprendizado das novas chefias,
que foram praticamente todas
trocadas. Para outros, estaria havendo um reexame excessivamente rigoroso, com viés de suspeição, dos projetos herdados da
gestão passada.
Essa prática estaria reduzindo o
número de processos examinados nas reuniões semanais de diretoria a um terço do que seria
normal. Lessa não contesta o reexame, mas afirma que não se trata
de suspeição.
"Na hora em que o Brasil passa
a pensar mais com a categoria desenvolvimento, e que cai em plano menos relevante a categoria
investimento [do BNDES", é muito natural que esse sinal, emitido
pela administração da República,
esteja produzindo uma atitude de
renovado interesse sobre os projetos em carteira", argumentou.
Reforma administrativa
Lessa disse também que a origem da reforma administrativa
que ele fez no banco nas primeiras
semanas da sua gestão, considerada por seus críticos outra das
causas da morosidade nas ações
atuais, foi justamente ele ter recebido "dezenas de queixas de empresários" sobre a demora no
tempo de análise de projetos do
banco. A atual gestão prometeu
reduzir esse tempo à metade.
O presidente do BNDES confirma que o caso AES tem sido outro
fator de perturbação sobre o fluxo
normal de trabalhos do banco, e
insinua que casos parecidos podem estar para eclodir.
"No plano externo a grande
preocupação nossa tem sido ligada a operações herdadas do processo de privatização. Muitas delas, em razão de vicissitudes várias, se apresentam com aspectos
inquietantes para o banco", disse.
O caso AES, empresa que deve
ao BNDES US$ 1,131 bilhão apenas pela compra de ações da Eletropaulo, é o que emergiu até agora. Lessa disse que não pode citar
outros porque "os quadros ainda
não se explicitaram".
Os problemas estariam ligados
à falta de exigência de "garantias
colaterais" nas operações. No caso AES, as garantias são, basicamente, ações da própria Eletropaulo. "Tudo isso nos deu muito
trabalho e nos tomou muito tempo", afirmou.
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