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EXUBERÂNCIA DE PAPEL
Indicadores da economia americana não são suficientes para determinar recessão, diz comitê
EUA devem ter espasmos de crescimento
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
A alternância de pequenos espasmos de crescimento com momentos de declínio será a tônica
da economia americana nos próximos anos.
A afirmação é do Serviço Nacional de Pesquisa Econômica
(NBER, na sigla em inglês). O comitê, que reúne renomados economistas dos EUA, determina a
duração dos ciclos econômicos
norte-americanos.
Indicadores de atividade econômica, como índice de confiança
dos consumidores e queda das
vendas no varejo, também apontam para esse caminho. Dados revelados na semana passada pelo
OEF (Oxford Economic Forecast)
mostram que em fevereiro deste
ano as vendas no varejo caíram
1,6% em relação ao mês anterior.
A compra de bens duráveis também declinou 1,9% no período.
O estudo do OEF mostra que o
índice de confiança dos consumidores caiu 2,3%, atingindo 62,5
pontos em março. Esse é o patamar mais baixo desde 1991, quando a economia americana passava
por uma grave recessão.
Para o NBER, entretanto, esses
sinais não são suficientes para endossar previsões de uma nova recessão. "Não se pode falar que os
EUA estão atravessando um novo
período de recessão, já que o fim
da recessão [pós-bolha" ainda
não foi declarado. Mas, obviamente, a queda da confiança dos
consumidores é preocupante pois
o crescimento que os EUA tiveram no último ano foi sustentado
principalmente pelo consumo interno", afirma Jeffrey Frankel, um
dos membros do conselho de economistas da instituição.
David Gould, diretor de Análise
Econômica Global do IIF (Instituto Internacional de Finanças),
também faz coro com os que dizem não prever uma recessão
iminente. "Ano passado foi um
ano positivo no que diz respeito
ao consumo interno dos EUA. Já,
no primeiro trimestre deste ano,
percebemos um decréscimo no
ritmo de consumo. Não dá para
saber, porém, se essa é uma tendência de longo prazo ou apenas
um espasmo. Afinal, os EUA acabaram de sair de uma recessão, tivemos um crescimento muito pequeno no ano passado e prevemos um patamar modesto para
este ano", diz.
Na semana passada, o IIF divulgou uma carta alertando para o
perigo de uma estagnação global
em decorrência de problemas estruturais nas economias do G-7.
Desequilíbrios estruturais
No caso dos EUA, há dois nós
estruturais evidentes que atravancam uma aceleração do crescimento. Um deles é o déficit comercial do país. No último trimestre de 2002, o valor chegou a
US$ 548 bilhões, equivalente a
5,2% do PIB (Produto Interno
Bruto). A manutenção desse déficit faz com que o país se torne cada vez mais dependente de investimentos estrangeiros a fim de cobrir esse rombo, caso contrário o
dólar corre o risco de despencar.
A estimativa é que sejam necessários US$ 400 bilhões ao ano.
Esse desequilíbrio também pode levar à alta do déficit orçamentário, que se tornará muito mais
difícil de financiar. Neste ano, a cifra prevista é de US$ 350 bilhões.
Se esses sintomas de fragilidade
da economia americana são incontestáveis, há também aqueles
que ainda são pouco explícitos. O
mais controverso é a perspectiva
da explosão de uma nova "bolha",
desta vez no mercado imobiliário.
Segundo relatório divulgado
pelo FMI (Fundo Monetário Internacional) na última sexta-feira,
os preços dos imóveis nos EUA
aumentaram 27% acima da inflação desde a metade da década de
90. Esse recorde preocupa os economistas do Fundo, que temem
que o estouro da "bolha" desencadeie uma crise bancária.
Entretanto Frankel, do NBER é
cauteloso na avaliação desse indicador."Não existem sinais claros
de uma "bolha imobiliária". Não
há elevação generalizada nos preços dos imóveis nos EUA", diz.
A guerra no Iraque é mais um
motivo de inquietação. "Uma
guerra prolongada poderia agravar o já elevado déficit orçamentário. Também poderia acarretar
o encolhimento da poupança interna e alargar o déficit comercial", analisa Stephen Roach, economista-chefe do banco de investimentos Morgan Stanley no seu
recente artigo "A dysfunctional
world" (em português, algo como
mundo caótico).
O espectro de novas fraudes nas
empresas norte-americanas, que
poderiam recrudescer a crise de
confiança do mercado, e o prognóstico de uma guerra mais longa
que o previsto anteriormente
também são apontados como
pontos de fragilidade dos EUA
pelo comitê.
Dólar fraco
Ao longo de 2002, a cotação do
dólar se desvalorizou 25% em relação à do euro. O aspecto positivo desse fenômeno é que um dólar mais fraco poderia servir para
ajustar o déficit comercial americano. O lado ruim, porém, é que
esse enfraquecimento sinaliza recuo no nível de investimentos estrangeiros no país.
Para Nariman Behravesh, economista-chefe da consultoria
GlobalInsight, a tendência é a retomada gradual a um patamar de
equilíbrio entre as duas moedas.
"Os Estados Unidos ainda são o
melhor mercado entre os países
industrializados no que se refere a
oportunidades de investimento e
dinamismo econômico", afirma.
Antonio de Lacerda, presidente
da Sobeet (Sociedade Brasileira de
Estudos de Empresas Transnacionais e da Globalização Econômica), diverge: "A desvalorização do
dólar deverá acentuar-se ante o
euro, já que os efeitos dos gastos
com a guerra contra o Iraque deverão agravar o desequilíbrio orçamentário", avalia.
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