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Bush subestima os gastos no Iraque, afirma Nordhaus
ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK
O governo de George W. Bush
não calcula direito os gastos que
terá para reconstruir o Iraque e
depois terá de cortar na carne para fechar suas contas.
A afirmação é do economista
William Nordhaus, 61, co-autor
do livro "Economics", clássico da
economia que já vendeu mais de 4
milhões de exemplares. "Acho
que estão subestimando isso [os
custos com a guerra" por uma
margem muito grande."
Nordhaus é há 30 anos professor da Universidade Yale. Nesse
período, pertenceu ao Conselho
Econômico do presidente Jimmy
Carter e integrou diversas comissões econômicas dos EUA. Hoje,
integra um grupo de especialistas
em orçamento do Congresso.
A seguir, os principais trechos
da entrevista.
Folha - Os US$ 75 bilhões [pedidos pela Casa Branca ao Congresso"
pagarão a guerra?
William Nordhaus - Os US$ 75 bilhões são apenas para o ano fiscal
corrente, que termina em setembro. Provavelmente, o governo
pedirá mais. Mas eles não disseram nada sobre os custos depois
desse período de seis meses, e
penso que será consideravelmente acima disso.
Folha - Quanto seria?
Nordhaus - É muito difícil dizer,
porque não sabemos qual seria o
cenário do pós-guerra. O governo
tem falado sobre administração e
ocupação em cerca de seis meses
ou um ano. Acho que é muito,
muito otimista. Minha visão é que
vai demorar muitos anos para democratizar o Iraque. Acho que estão subestimando isso por uma
margem muito grande.
Folha - Quais seriam as consequências para o Orçamento?
Nordhaus - Vai aumentar o déficit, mas não é algo que a economia não possa pagar. Acho que o
principal impacto será em outros
programas do governo federal,
em programas civis, de ajuda,
programas não-militares.
Folha - No próximo ano haverá
eleições nos EUA. Como o governo
lidará com esses cortes?
Nordhaus - Esse será um fator
importante, mas é cedo para dizer. Teremos de esperar para ver
como a guerra se desenvolve. Se
me perguntar daqui a seis meses,
posso dar uma resposta melhor.
Folha - No começo da guerra havia um certo otimismo no mercado.
Desde então, só houve números
ruins. Como ficará a economia?
Nordhaus - Tem havido muita
volatilidade na opinião pública.
Mas acho que, no geral, os resultados mostram prejuízos menores
do que as pessoas esperavam.
Folha - O mercado avalia a chance
de recessão. É possível?
Nordhaus - Acho que o mercado
está, antes de tudo, focado na
guerra. As dificuldades que a economia tinha em relação ao preço
do petróleo foram reduzidas. Então, acho que está um pouco melhor do que parecia há um mês.
Folha - O Iraque pode ajudar a pagar a reconstrução?
Nordhaus - O problema principal é que o total da venda de petróleo é pequeno perto dos custos
que existirão. Estamos falando de
venda de petróleo abaixo de US$
1.000 per capita. A economia do
Iraque está péssima. O petróleo
tem que ir primeiro para pagar
comida, habitação, vestuário etc.
Folha - Então os gastos terão de
ser pagos só pelos EUA?
Nordhaus - Tenho certeza que os
EUA tentarão persuadir outros
países a contribuir. Só não sei se
terão sucesso, considerando que
os outros poderão dizer: "Você fez
a bagunça, você que limpe". E os
EUA têm essa obrigação.
Folha - O Congresso discutiu na
semana passada os cortes de impostos. Alguns lembraram que os
EUA historicamente não cortam
impostas durante guerras. Outros
lembraram que a Guerra da Independência começou por causa disso. Os EUA têm condições de cortar
impostos agora?
Nordhaus - A República vai sobreviver, mas do ponto de vista
econômico acho que é uma política extremamente ruim. Há um
déficit muito grande, e ele crescerá muito rapidamente. A perspectiva no curto prazo é ruim, e no
longo prazo é ainda pior. Acho
que é basicamente irresponsável.
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