São Paulo, domingo, 06 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

VAREJO

Rede americana diz que país está na lista de investimentos e que pretende manter preços até 7% inferiores aos da concorrência

Wal-Mart admite erros e faz planos no Brasil

ADRIANA MATTOS
ENVIADA ESPECIAL A FAYETTEVILLE

Em 1995, quando chegou ao Brasil, o Wal-Mart vendia equipamentos para esquiar e tacos de beisebol. No Natal do ano seguinte, na tentativa de atrair consumidores, a empresa norte-americana teve de espalhar tendas pelos estacionamentos, pois a quantidade de itens que queria desovar não cabia nas lojas.
É tudo página virada, diz a companhia, que admite falhas iniciais. O que a maior rede de comércio varejista do mundo tenta fazer no Brasil "é encontrar um caminho e apagar erros cometidos", diz Alberto Serrentino, sócio-diretor da Marcos Gouvea, consultoria especializada em varejo.
Em reunião anual realizada na última semana em sua sede, no Estado de Arkansas, a cadeia varejista admitiu falhas passadas, disse estar de olho em novas aquisições no Brasil e afirmou que o país está na lista de novos investimentos, ao lado de China, Índia, México e Rússia. Para o Brasil, seu diferencial para ganhar mercado será focar ainda mais em preço, a bandeira dos seus concorrentes também. A rede pretende manter os preços, no mínimo, 7% inferiores aos dos competidores.
Com faturamento mundial anual de US$ 256 bilhões e acusada de concorrência predatória nos EUA, a empresa tinha, até há três meses, 26 lojas no Brasil. O Pão de Açúcar, com US$ 4 bilhões de receita, estava com 442, e o Carrefour, multinacional francesa concorrente mundial do Wal-Mart, tinha 329 pontos-de-venda.
Na sexta posição do ranking nacional de supermercados até março, a companhia pulou para o terceiro lugar ao comprar o Bompreço e passou a 144 pontos-de-venda. "A questão agora é ver se a arrancada acontece", diz Eugenio Foganholo, sócio-diretor da Mixxer Consultoria.
"Há outras redes em situação delicada, como a bandeira Big, e, como a empresa percebeu que crescer de forma orgânica [abrindo lojas] demora e dá trabalho, pode haver novos negócios."
Ha ações que, discretamente, já mostram mudanças no Bompreço. Assim como também há razões que colocam em xeque a possibilidade de uma expansão acelerada da rede.
Um dos pontos favoráveis para a empresa está na estrutura de seu negócio. Como, ao comprar a rede nordestina, o Wal-Mart aumentou o volume de lojas, a companhia vai negociar montantes ainda maiores de mercadorias, o que eleva o seu poder de barganha com a indústria. Dessa forma, a negociação fica mais fácil para a empresa, que pode requisitar maiores descontos.
Dentro da cadeia, mudanças acontecem sem estardalhaço. Fornecedores regionais do Bompreço já estiveram em contato com a direção do Wal-Mart para iniciar o processo de negociação de venda de produtos. A Mais por Menos, marca própria da rede americana, vai entrar nas gôndolas do Bompreço e conviver com a marca própria da cadeia nordestina. Além disso, o Wal-Mart vai inaugurar até o final do ano mais um Supercenter em Curitiba e, neste momento, "caça" outros terrenos para tentar reforçar o seu processo de expansão orgânica.
De qualquer forma, independentemente do desempenho futuro da rede, é fato que atualmente há dois Wal-Marts em tamanho: aquele no formato norte-americano, com grande presença no mercado e que tem em caixa quase US$ 16 bilhões para gastos operacionais (dividendos e investimentos em expansão); e o estabelecido no Brasil.


A jornalista Adriana Mattos viajou a convite da Wal-Mart

Texto Anterior: Concorrência: Iguatemi vai à Justiça para manter lojas exclusivas
Próximo Texto: "Não queremos qualquer coisa"
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.