|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Japão quer que Bush fixe metas para gases
DO ENVIADO ESPECIAL A TÓQUIO
O governo japonês, anfitrião
da cúpula do G8 deste ano, está
fazendo esforços de última hora para tentar convencer o presidente norte-americano,
George W. Bush, a concordar
com metas numéricas obrigatórias para a redução da emissão de gases que provocam o
aquecimento global.
Bush reúne-se hoje com o
primeiro-ministro do Japão,
Yasuo Fukuda, um dia antes do
início da cúpula entre os governantes de Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino
Unido, Itália, Canadá e Rússia.
Na quarta-feira, o grupo reúne-se com o G5 (Brasil, China, Índia, África do Sul e México).
O esforço japonês destina-se
a evitar que o G8 caminhe para
a irrelevância ou suas cúpulas
se limitem a declarações meramente retóricas ou repetitivas.
É o caso da mudança climática, o tema que os japoneses elegeram como principal para a
reunião deste ano, a realizar-se
na ilha de Hokkaido, a mais ao
norte do Japão.
Na cúpula de 2007 (Heiligendamm, Alemanha), os líderes
do G8 haviam concordado em
"considerar seriamente" a proposta de Japão, União Européia e Canadá de reduzir as
emissões globais até 2050, uma
meta de longo prazo.
"Considerar seriamente" já é
uma maneira de fugir de decisões. Se há acordo, em vez de
"considerar", adota-se a proposta e ponto.
Para a cúpula seguinte, a de
Hokkaido, o único passo adiante seria pôr números nas "sérias considerações". Os EUA,
no entanto, opõem-se, a menos
que haja compromissos de outros grandes emissores, em especial China e Índia, de também reduzirem as emissões.
Com essa meta em vista,
Bush organizou, no ano passado, uma nova coalizão, batizada
de MME ("Meeting of Major
Economies", ou Reunião das
Grandes Economias), que reúne o G8 a outros oito países
(Austrália, Brasil, China, Índia,
Indonésia, México, Coréia do
Sul e África do Sul).
Juntos, respondem por 80%
das emissões dos gases que provocam o aquecimento global (o
que levou um jornal japonês a
trocar "major economies" por
"major emitters", mantendo a
sigla). Um acordo entre eles seria, portanto, o primeiro passo
para solucionar o problema.
Só que, nas reuniões prévias,
o acordo não apareceu. Tanto
que o esboço de declaração final do MME, que também se
reúne em Hokkaido, repete a
idéia de "considerar seriamente" e apenas acrescenta "[considerar seriamente] ambiciosos
cenários" para cortar as emissões até 2050.
Barbarização mundial
O esforço de último momento dos japoneses se volta para
as duas pontas do impasse: apela a Bush enquanto oferece à
Índia e à China um pacote de
incentivos financeiros e tecnológicos para que possam adotar
metas ambiciosas de uso eficiente da energia.
A oferta japonesa obedece ao
"enfoque setorial" que o G8 está analisando. Trata-se de identificar os cinco maiores poluidores em cada setor e ajudá-los
a reduzir as emissões com dinheiro e com tecnologia.
Reduzir as emissões é uma
questão vital. "Se nada for feito,
as mudanças climáticas poderão levar-nos a uma barbarização no mundo; os ricos se fecharão em comunidades confinadas e protegidas, enquanto
bilhões de pobres terão de viver
nos lugares destroçados", diz
Mohan Munasingh, vice-presidente do Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC), o organismo técnico que analisa os efeitos do
aquecimento global.
O Brasil chega a Hokkaido
com uma proposta ainda mais
ambiciosa, já exposta pelo presidente Lula: cortar as emissões entre 60% e 80% até 2050.
Mas a diplomacia brasileira
condiciona a adoção dessa meta pelo país a que os países desenvolvidos façam a sua parte.
"O Brasil está disposto a fazer
mais, desde que os países desenvolvidos adotem as medidas
apropriadas", diz o embaixador
Everton Vargas, principal negociador técnico para assuntos
multilaterais.
Mas o embaixador mostra-se
compreensivo com a hipótese
de que os números desse
"mais" não surjam em Hokkaido: "Não é plausível, no âmbito
do G8 ou do G8+G5, dizer que
vamos cortar x% ou y%. E o
mesmo vale para os países desenvolvidos".
Se o Japão não conseguir
convencer Bush a dizer quanto
cortará e, por extensão, puxar
os outros grandes emissores a
também fazê-lo, ficará valendo
a cáustica análise do G8 que ganhou a capa da revista "The
Economist" desta semana:
"Hoje em dia, cúpulas produzem principalmente extensos
comunicados e oportunidades
para fotos [dos líderes]".
(CR)
Texto Anterior: Contra "agflação", G8 quer mais estoques Próximo Texto: Escolha de local das lojas levou à crise da Starbucks nos EUA Índice
|