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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Mercado financeiro não acredita em ciclos econômicos
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
O momento pessimista no
sistema financeiro global
fortalece as visões de uma economia mundial patinando por
anos, crescendo pouco, de crise
em crise, marcada pela instabilidade. O cenário de longo prazo
mais provável é o de uma recuperação longa e lenta. O fantasma da estagnação japonesa como destino da economia americana assombra muitos analistas.
Essas expectativas expressam
um sentimento de que não existe mais ciclo econômico. Apenas
uma trajetória de longo prazo
com crescimento baixo ou declinante.
A crise de confiança nas instituições financeiras, a aversão ao
risco dos investidores e o fracasso retumbante de todas as tentativas de coordenação de políticas econômicas seriam complicadores irreversíveis.
É como se não existissem mais
ciclos econômicos (sucessão de
altos e baixos, anos de vacas gordas e outros de vacas magras).
Ocorre que, a bem da verdade,
a economia mundial vem registrando taxas de crescimento declinantes ao longo das últimas
três décadas. Todas as tentativas
de coordenação de políticas econômicas, monetaristas e keynesianas, de esquerda e de direita,
falharam, muitas vezes.
Curiosamente, esse cenário
deprimente lembra o mesmo erro de cinco anos atrás.
Quando a crença na "nova
economia" baseada em tecnologias de informação e comunicação estava na moda, também se
dizia que o ciclo econômico deixava de existir a partir de então.
O prolongado crescimento da
economia norte-americana, liderando a revolução tecnológica
que conduziria à sociedade da
informação, animava as utopias
de um novo renascimento, de
uma economia do conhecimento libertada de condicionantes
materiais, feitos de átomos.
A própria passagem de uma
visão para outra, num intervalo
de menos de uma década, comprova, afinal, que existem ciclos
na economia. E que os investidores financeiros são ciclotímicos, disparando em estampidos
de manada quando há mudanças bruscas de expectativas.
Talvez os ciclos existam mesmo. Em 2001, os investimentos
diretos nos países desenvolvidos
tiveram uma queda da ordem de
50%. A crise detonada pelo ataque de 11 de setembro continua
impondo seu tributo.
Mas há quem aposte numa visão de ciclo de longuíssimo prazo. São os chamados ciclos de
Kondratieff, economista russo
que visualizava ondas de até 60
anos, associadas a processos de
inovação tecnológica e a mudanças no eixo geopolítico dominante em escala global.
Os últimos 60 anos correspondem ao período do pós-guerra.
Nos anos 70, os sinais de esgotamento eram visíveis e já apareciam como instabilidade no valor internacional do dólar.
Para os crentes do Kondratieff, essa longa curva descendente do ciclo do pós-guerra poderia estar chegando agora ao
fim. Terminada a etapa de queima de capitais, consolidação de
empresas e redesenho de eixos
geopolíticos, teria início uma
nova fase de expansão, uma nova ordem mundial.
Os mercados financeiros privados, no entanto, operam sob
horizontes de curtíssimo prazo.
O mais inteligente a que se
conseguiu chegar em termos de
avaliação de "perspectivas" são
os indicadores de risco, manipulados por agências também
privadas. Nada garante que esses observadores (incluindo o
FMI no bolo) estejam realmente
atentos aos fundamentos de
longo prazo do desenvolvimento econômico.
Para os mercados financeiros,
não há ciclo nem trajetórias,
apenas um contínuo e volátil
agora.
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