São Paulo, segunda-feira, 07 de julho de 2008

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Encontro do G8 no Japão fracassa antes de começar

France Presse
O presidente dos EUA, George W. Bush (à esq.), e o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukunda, dão entrevista em Toyako (Japão)


EUA e anfitrião apontam que não houve avanço sobre redução da emissão de gases

Falta de acordo sinaliza que reunião não deve passar de retórica, já que o seu eixo principal é o combate ao aquecimento global

CLÓVIS ROSSI
ENVIADO ESPECIAL A HOKKAIDO

O presidente George Walker Bush e o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, deixaram ontem implícito o fracasso da cúpula do G8, 24 horas antes de que ela comece, em Hokkaido, ilha ao norte do Japão.
Os dois governantes se reuniram no local da cúpula, o Windsor Hotel Toya, para discutir as relações bilaterais mas também para que Fukuda fizesse uma última tentativa de convencer Bush a concordar com a meta de, até 2050, reduzir pela metade a emissão de gases que causam o aquecimento global.
A meta é defendida por Japão, União Européia e Canadá, mas os Estados Unidos condicionavam a sua aceitação a que dois grandes emissores de gás, a China e a Índia, se comprometessem a aceitar metas ambiciosas com o mesmo objetivo.
Após a reunião, os dois deixaram claro que não houvera avanço. "Vou ser realista. Se a China e a Índia não compartilharem a mesma aspiração [de redução ambiciosa de emissões], não há como resolver o problema", disse Bush. Fukuda, ao seu lado, afirmou que os dois países "vão continuar cooperando" (na discussão sobre aquecimento global na reta final para a cúpula do G8, uma forma diplomática de dizer que não houve entendimento).
Por que a falta de acordo sobre aquecimento global significa um fracasso da cúpula de Hokkaido? Simples: o Japão, o anfitrião, escolheu o tema como o eixo da cúpula deste ano, tanto que a levou para Toyako, que é parte do parque nacional Shikotsu-Toya, um paraíso natural da ilha de Hokkaido.
Sair da belíssima paisagem de Toyako (que significa "o lago na colina") sem fixar números para a redução da emissão de gases significa apenas repetir declarações anteriores do G8, que não passam de retórica.
O premiê britânico, Gordon Brown, chegou a dizer, ao viajar para o Japão, que "a cúpula será um sucesso se os países do G8 puderem dar provas de sua unidade e apoiarem fortemente esforços contra a mudança climática". Como não deram tais provas, não há sucesso.
Da mesma forma, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, pôs como parâmetro para o sucesso "resultados concretos -principalmente em mudança climática". Barroso acha que é pouco apenas reforçar os compromissos assumidos na cúpula do ano passado. A UE, além da meta de cortar 50% das emissões até 2050, se compromete a reduzir em ao menos 20% as emissões até 2020.
Já a chanceler (primeira-ministra) alemã, Angela Merkel, também ao embarcar para o Japão, fez uma crítica velada aos EUA. Lembrou que a União Européia se comprometera com "metas muito exigentes, sem esperar pelos outros", enquanto os EUA, conforme Bush fez questão de reiterar ontem, esperam um movimento de China e Índia, pelo menos.
O desacordo não surpreendeu os canadenses. "Não creio que haja acordo. Este se dará sob os auspícios das Nações Unidas, em 2009, em Copenhague", disse o ministro de Meio Ambiente do Canadá, John Baird, a bordo do avião que trazia a comitiva do país ao Japão.
É uma alusão a uma nova conferência sobre o clima, no âmbito das Nações Unidas, marcada para a capital da Dinamarca, em busca de metas para a partir de 2012, quando vence o pouco eficaz Protocolo de Kyoto. O protocolo foi adotado em dezembro de 1997, mas entrou em vigor em fevereiro de 2005, depois que foi ratificado por 55% dos países, que, juntos, produzem 55% das emissões.
O documento prevê a meta de redução de 5% sobre o nível de emissões de 1990, por parte dos países industrializados. Foi ratificado por 182 países, mas não pelos EUA, o maior emissor (embora suspeite-se que a China tenha assumido a liderança em 2007, o que ainda não tem confirmação oficial).


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