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Merkel diz que crise da inflação ameaça segurança internacional
ENVIADO ESPECIAL A HOKKAIDO
A chanceler alemã (primeira-ministra), Angela Merkel, enviou carta a seus pares do G8 dizendo que a crise provocada
pela disparada de preços de alimentos poderia "pôr em perigo
a democratização, desestabilizar os Estados e se transformar
em problema para a segurança
internacional". Parte da carta
vazou para o semanário alemão
"Der Spiegel", que começa a
circular hoje.
A avaliação de Merkel combina à perfeição com comentários igualmente alarmistas de
entidades multilaterais. Tanto
o Fundo Monetário Internacional como o Banco de Compensações Internacionais (o
banco central dos bancos centrais) usaram "situação crítica"
para definir o momento que
atravessa a economia global.
Robert Zoellick, presidente
do Banco Mundial, também em
carta aos líderes do G8, preferiu
comparar a crise a um tsunami,
com a agravante de ter sido
produzida pelo homem, não
por um fenômeno natural.
Merkel, ao embarcar para o
Japão, afirmou que o grupo dos
sete países ricos do mundo
mais a Rússia, anunciará uma
série de medidas para aliviar a
crise alimentar no curto prazo
e estabelecerá uma estratégia a
longo prazo para aumentar a
produção mundial.
No cardápio dos líderes, no
entanto, não figura nada além
de promessas de ajuda aos países hiperpobres, os 44 que perderam entre 3% e 10% de sua riqueza como conseqüência da
disparada combinada de preços
de petróleo e alimentos.
Não há, em princípio, nada
de relevante na pauta para tentar conter a alta de preços, que
causa problemas também para
países "classe média", como o
Brasil, e para os pobres até de
nações ricas.
Tanto que o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, limitou-se a dizer ontem, após se
reunir com o presidente Bush,
que os dois concordaram em
que há necessidade de "esforços expeditos sobre esses temas [altas dos alimentos e do
petróleo]". Nada mais.
Não há nem sequer acordo
sobre as causas da disparada de
preços, seja de alimentos, seja
do petróleo. Países como a
França, a Alemanha e a Itália
põem ênfase na acusação aos
especuladores, ao passo que o
secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Henry Paulson, recorre à antiga mas nunca revogada lei da oferta e procura.
Afirma que o desequilíbrio entre uma demanda superaquecida e uma oferta contida levou
aos picos dos preços.
A falta de clareza sobre as
causas faz os líderes do G8 atirarem para todos os lados. Ontem, o jornal "The Daily Yomiuri", o mais bem informado
sobre as negociações técnicas
para a cúpula de Hokkaido, diz
que o grupo pretende fortalecer a cooperação com vistas a
promover a energia nuclear como forma de reduzir a dependência do petróleo.
Até que o preço do petróleo
começasse a disparar, a energia
nuclear era uma espécie de besta-negra, principalmente para
os ambientalistas, o que levou à
paralisação ou a uma lentidão
na construção de novas usinas
desse tipo na Europa.
Relançá-la no debate justamente quando se discute simultaneamente ambiente é
uma demonstração de desespero ou impotência ante os níveis
de preço do barril de petróleo.
Além disso, é contraditório
com a ênfase que os Estados
Unidos põem em paralisar o
programa nuclear do Irã, alegando que não é para uso pacífico, ao contrário do que dizem
os líderes iranianos.
Ainda ontem, Bush voltou a
cobrar que o Irã atenda "as justas demandas do mundo" e suspenda "de maneira verificável o
programa de enriquecimento
de urânio". O urânio enriquecido tanto serve para finalidades
pacíficas, como as que o G8
quer agora estimular, como para a bomba atômica.
Por isso, a cooperação para
disseminar a energia nuclear
como contraponto ao petróleo
deverá ser cercada de cautelas,
sempre segundo o "Daily Yomiuri". Entre elas, proibir o uso
de tecnologias associadas à
energia nuclear para desenvolver armas atômicas.
(CLÓVIS ROSSI)
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