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Caixa deve manter rentabilidade
para atingir objetivos, diz Mattoso
VIVALDO DE SOUSA
COORDENADOR DE ECONOMIA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Mattoso, 53,
disse que, nas atuais circunstâncias, "as operações de crédito da
Caixa estão de bom tamanho".
Folha - O presidente Lula orientou os bancos públicos a baixar os
juros para forçar uma baixa das taxas cobradas pelos bancos privados. A Caixa fará isso já?
Jorge Mattoso - Em primeiro lugar, a Caixa já opera com taxas inferiores ao mercado. Em segundo,
é nossa intenção preservar e ampliar as condições de rentabilidade e de equilíbrio econômico e financeiro da Caixa. Tivemos no
primeiro trimestre um aumento
de 60% [na rentabilidade] em relação ao primeiro trimestre de
2002. É obvio que é em termos nominais, tem aí de 10% a 15% ou
mais de inflação, tem o efeito taxa
de juros, mas, objetivamente, a
rentabilidade tem sido boa.
Folha - Reduzir as taxas agora seria pôr em risco essa rentabilidade?
Mattoso - Teremos condições de
reduzir essa taxa e aumentar a
participação dos bancos públicos
no crédito com a ampliação da
atividade econômica. Dadas as
restrições macroeconômicas que
existem hoje, que implicam juros
elevados e a obtenção de 4,25% de
superávit primário com um crescimento relativamente baixo, as
operações de crédito da Caixa estão de bom tamanho. Nosso objetivo é preparar a Caixa para o momento seguinte, que esperamos
que seja o mais próximo possível,
de redução das taxas de juros e
ampliação do crescimento econômico. Isso estamos fazendo.
Folha - Qual é o "spread" bancário médio da Caixa hoje?
Mattoso - Pessoa física, 58%,
contra 61,7% do mercado, tirando
dessa média a Caixa.
Folha - E não daria para a Caixa
diminuir seu ganho para se distanciar mais da média de mercado?
Mattoso - Já é mais baixo do que
o mercado. E, se você pegar o
"spread" da Caixa por faixa, é
maior: o "spread" pessoa física é
de 58% contra 86% do mercado, é
enorme a diferença; o "spread"
pessoa jurídica é de 22% contra
35%. Para o conjunto das operações de pessoas físicas e jurídica,
são 46,6% contra 71,4%.
Folha - Sem baixar a Selic não dá
para fazer o que o presidente Lula
achou que dava para fazer?
Mattoso - O crédito não se amplia somente pela redução das taxas de juros, essa é uma questão
importante. Depende de questões
referentes ao mercado de trabalho, à distribuição de renda. Se você achar que só os juros vão resolver o problema, está errado. A
Caixa faz o esforço de bancarização, de microcrédito e de alavancar o crédito privado para a construção civil. A Caixa faz isso prevendo a redução futura das taxas
de juros para ter uma maior participação na oferta de crédito.
Folha - Esse futuro é para quando, para o segundo semestre?
Mattoso - É o futuro, a Deus pertence. E essa é uma decisão do BC.
Estamos trabalhando com uma
redução da taxa de juros no segundo semestre e estamos operando no sentido de capacitar a
Caixa para enfrentar essa redução. Porque vamos deixar claro: é
muito fácil para os bancos operar
com taxas de juros elevadas, as
pessoas nem gostam de dizer isso.
Folha - Em quanto deve aumentar em termos de bilhões a oferta
de crédito?
Mattoso - A Caixa financia 90%
da construção civil. É um erro. Na
maioria dos países avançados, a
participação do setor privado é
muito elevada, é dominante. A
Caixa assumiu isso aqui, e 67%
das operações são destinadas às
faixas até cinco salários mínimos.
É uma demonstração de espírito
público. São R$ 5,3 bilhões disponíveis para 2003, dos quais já usamos 30%. Para enfrentar o déficit
habitacional num prazo razoável
de dez anos, seriam necessários
R$ 10 bilhões. Achamos que é insuficiente porque o setor privado
não participa. Estamos fazendo
um esforço para alavancar recursos do setor privado através do
lançamento desses projetos pilotos de dois fundos de recebíveis
de direitos creditórios. Isso deve
ser anunciado pelo presidente da
República proximamente.
Folha - Vai ser anunciado junto
com o microcrédito?
Mattoso - Não, vai ser depois do
microcrédito. Soubemos pelo
presidente do BNDES. O professor [Carlos] Lessa nos garantiu
que o banco teria condições de
alavancar recursos que podem
chegar a R$ 700 milhões, só o
BNDES, no próximo ano. É muito
dinheiro, no ano passado, foram
investidos R$ 4 milhões.
Folha - E o papel da Caixa?
Mattoso - A Caixa está desenvolvendo é um processo intenso de
bancarização. Com esse processo,
acreditamos favorecer o processo
de microcrédito, através sobretudo dos correspondentes bancários. O papel da Caixa é expandir
o número de contas para a população de baixa renda.
Folha - Existe alguma regra que
exija uma rentabilidade mínima
nas operações comerciais da Caixa?
Mattoso - Existem sim determinações legais, inclusive estatutárias. Temos de cumprir as regras.
Folha - O sr. acha que houve curto-circuito de informação para o
presidente Lula defender algo que
não é possível fazer? Faltou informação à cruzada do governo contra os juros cobrados pelos bancos?
Mattoso - Entendo a inquietação
e a preocupação, mas os bancos
oficiais já funcionam como chamariz da redução das taxas.
Folha - A Caixa é mais um banco
comercial do que social?
Mattoso - No passado, se trabalhou muito com essa dicotomia.
Ou era um banco ou era uma
agência social. Ao longo do tempo, essa dicotomia deixou de existir. A Caixa apresenta rentabilidade e é crescentemente um banco
social. E pode fazer isso graças à
rentabilidade. As taxas em operações comerciais garantem que
possamos fazer políticas públicas.
A Caixa já tem dado uma contribuição extraordinária.
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