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COMÉRCIO EXTERIOR
Exportação cresce em setor de pouco conteúdo tecnológico
Produto "barato" garante
saldo comercial recorde
VINICIUS MOTA
DA REPORTAGEM LOCAL
As exportações brasileiras aumentaram em setores de pouco
conteúdo tecnológico e cuja fatia
de mercado vem encolhendo no
comércio internacional.
Essas são as principais conclusões de um estudo inédito do Iedi
(Instituto de Estudos Industriais)
sobre a balança de comércio brasileira entre janeiro e abril, a ser
publicado amanhã.
O trabalho mostra que, apesar
de o Brasil ter obtido seu maior
saldo comercial de todos os tempos (para o período) nos primeiros quatro meses de 2003, alguns
fatores podem dificultar a continuidade da obtenção de grandes
saldos no futuro.
O desempenho das vendas em
setores cuja participação no comércio mundial seguem tendência declinante foram responsáveis
por 84% do aumento do saldo comercial no primeiro terço de
2003, em relação ao mesmo período do ano passado.
Em outro exercício realizado no
estudo, dividiram-se em dois grupos os setores exportadores brasileiros. No primeiro foram enquadrados os segmentos que apresentaram desempenho negativo
no comércio global ao longo dos
cinco anos que vão de 1996 e 2001.
No segundo, foram alocados os
que, no comércio mundial, cresceram à média mínima anual de
5% nesse quinquênio.
Resultado: de janeiro a abril de
2003, as exportações brasileiras
nos setores de desempenho mundial negativo cresceram 28,6% em
relação ao terço inicial de 2002. Já
as vendas externas dos setores de
alto crescimento global aumentaram num ritmo menor: 10%.
Outro destaque do relatório do
Iedi diz respeito ao conteúdo tecnológico. De janeiro a abril deste
ano, as vendas externas da indústria intensiva em pesquisa e desenvolvimento instalada no Brasil
declinaram 23% em relação aos
quatro primeiros meses de 2002.
O estudo também concluiu que
o crescimento das exportações no
primeiro terço de 2003 (em relação ao mesmo período de 2002)
foi mais alto (35%) para as mercadorias de baixa e média-baixa intensidade tecnológica. Nos produtos de alta intensidade, houve
queda de 29% nas exportações.
Para alcançar um aumento médio de 26% nas vendas externas
no primeiro quadrimestre, sobre
o primeiro terço do ano passado,
o Brasil dependeu mais de produtos primários (que não sofrem
transformação). Nesse segmento,
empresas instaladas no país venderam para o exterior 44% mais
que no mesmo período de 2002.
Problemas para o futuro
Exportações mais lastreadas no
desempenho de setores pouco dinâmicos no comércio mundial,
menos dotadas de conteúdo tecnológico e mais dependentes de
produtos primários em geral indicam problemas para a manutenção de saldos externos volumosos no futuro.
Todos esses fatores, no médio e
no longo prazo, tendem a estabelecer limites para o aumento das
vendas externas.
No seu estudo, o Iedi manifesta
essa preocupação. Identifica dois
instrumentos para lidar com a
ameaça: a política de negociações
comerciais -para retirar barreiras do mundo rico contra produtos brasileiros- e a industrial
-no sentido de agregar mais valor às exportações, estimular inovações tecnológicas e atrair investimentos para setores que exportem produtos de alta tecnologia.
O instituto, porém, faz ressalvas
a conclusões muito pessimistas
sobre esses resultados.
Para o diretor-executivo do Iedi, Júlio Sérgio Gomes de Almeida, o fato de o Brasil ser competitivo no comércio de mercadorias
de baixo valor agregado agiu, paradoxalmente, como um antídoto
contra os efeitos da conjuntura
econômica mundial, marcada pela desaceleração da atividade.
Segundo Almeida, países cujas
exportações dependem de produtos mais acabados tendem a ser
mais prejudicados nesse contexto. Já a demanda por commodities agrícolas, por exemplo, é mais
resistente à queda nos momentos
de desaceleração da renda global.
O outro fator que contribuiu para a escalada das vendas externas
desses produtos menos acabados
foi, na opinião do diretor do instituto, a resposta diferenciada ao
estímulo da desvalorização cambial. Para Almeida, commodities
como as agropecuárias tendem a
reagir mais rapidamente aos estímulos do barateamento do real.
No relatório de sua pesquisa, o
Iedi aponta variações sazonais
que podem ter influído no resultado "menos nobre" da balança
comercial: a safra de soja foi contabilizada com atraso em 2002,
houve recuperação das exportações para a Argentina neste ano e,
também, a irrupção da China como o segundo maior comprador
de mercadorias brasileiras.
Outro matiz colocado pelo Iedi
é sobre o conteúdo tecnológico
exportado. Na opinião do instituto, o resultado modesto nos filões
mais nobres da tecnologia não é
decorrência de perda de competitividade do parque produtivo nacional, mas consequência do baixo desempenho econômico dos
países desenvolvidos.
Assim que houver retomada do
crescimento nos países desenvolvidos, acredita o Iedi, as exportações nesse setor poderão reagir.
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