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MODA
A maneira sensual de vestir maiôs, jeans e camisetas e as linhas mais urbanas das grifes paulistanas ganham mercado
Grifes de São Paulo conquistam a Europa
ANNE-LAURE QUILLERIET
DO "LE MONDE", EM SÃO PAULO
Um calção de banho reduzido a
um conjunto de tiras, um biquíni
microscópico feito de escamas
douradas, um maiô preso por laços que se cruzam nos quadris...
Os modelos da Rosa Chá rapidamente fazem esquecer o ar condicionado da sala de desfiles.
A cada ano, Amir Slama fundador, em 1989, da marca Rosa Chá,
desenha pelo menos 400 maiôs e
biquínis, adotados por clientes
que vão de Beyoncé a Hillary
Clinton. Para a temporada 2004,
ele pediu a estilistas brasileiros
que reinterpretassem lendas locais, como a do Boitatá ou a do
pássaro Uirapuru, usando para isso alguns centímetros de tecido.
Depois de chegar aos Estados
Unidos em 1997, a grife de São
Paulo começa a se desenvolver
agora no mercado europeu.
Além dos desfiles e do fenômeno das modelos transformadas
em ícones, o edifício projetado
por Oscar Niemeyer no Parque do
Ibirapuera acolherá, a partir de 15
de setembro, uma exposição de
rara envergadura ocupando seus
8.000 metros quadrados. Orquestrada por Jean-Louis Froment,
com a cumplicidade das historiadoras de moda Florence Muller e
Pamela Golbin, "Fashion Passion" explorará as interações entre roupas e fotografia.
"Não existe uma cultura da moda no Brasil, ainda, as pessoas
usam jeans e camisetas, mas elas
adoram se arrumar com um verdadeiro senso de cor e glamour",
diz Ana Luiza Pessoa de Queiroz,
encarregada de divulgar na Europa os produtos de Carla Amorim
e da Ellus, uma das mais renomadas grifes paulistanas. Na Europa,
a Ellus conseguiu chegar a prateleiras prestigiadas como as da Selfridges em Londres e as da Galleries Lafayette de Paris, graças a
jeans de corte astucioso que ajudam a corrigir a anatomia.
Mais de 50 modelos e tonalidades diferentes são propostos a cada temporada, do "lift", que arrebita o bumbum, ao "hiper-Tropez", um jeans de linha muito baixa. Outra precursora desse tipo de
corte, a Zoomp, com seu logotipo
em forma de relâmpago, responde à obsessão pelo corpo perfeito
que aflige essa pátria da cirurgia
estética. Seguindo o exemplo da
Ellus e da Forum, a Zoomp não
hesita em recorrer aos serviços de
jovens estilistas formados nas escolas de moda locais, cada vez
mais numerosas e respeitadas.
"As marcas começaram copiando
as tendências européias, mas passados cinco anos temos uma verdadeira busca de identidade", diz
Ana Luiza Pessoa de Queiroz.
Se a moda paulista é mais urbana e recatada que a do Rio, ela exibe arrojo nas cores e na mistura
de estampas e ressalta uma maneira sensual e espontânea de vestir jeans, camisetas ou maiôs. "Do
norte ao sul, o Brasil oferece mais
de oito mil quilômetros de praias,
uma verdadeira fonte de inspiração que permitiu estabelecer a reputação de nossa moda balneária", explica a Associação Brasileira das Indústrias Têxteis (Abit).
Em 2003, as exportações de roupas de banho cresceram em 80%,
e atingiram os US$ 13 milhões. De
Sommer a Água de Coco, passando pela British Colony, raras são
as marcas que negligenciam os
maiôs de corte insensato, acompanhados por linhas completas
de roupas para praia. Aproveitando a tendência, a cadeia sueca H
& M escolheu as areias cariocas
para sua campanha de verão.
Mas é ainda a sandália de dedo
que funciona como o melhor embaixador do estilo brasileiro, depois de se difundir por todo o planeta. Das favelas às passarelas da
moeda, passando pelas calçadas
de Paris, o sucesso de dois gigantes das sandálias abertas, Havaianas e Grendene, é estonteante. A
Havaianas chegou ao mercado
francês só em 2001, mas já vendeu
500 mil pares em 2003.
O estilista Alexandre Herchcovitch, 33, diplomado pela academia de moda Santa Marcelina, de
São Paulo, obteve destaque internacional ao desfilar em Paris. Outros pretendem seguir seu exemplo, como prova o grande número de participantes brasileiros no
salão de prêt-à-porter de Paris,
que se realizará de 3 a 6 de setembro. Com 30 expositores, ante os
sete que participaram da versão
de janeiro, a presença brasileira é
quase tão importante quanto a
britânica, com 50 marcas.
"A imagem dos produtos têxteis
brasileiros na Europa é muitas vezes associada a um mercado industrial de baixa qualidade", reconhece Hervé Huchet, diretor de
moda da Federação Francesa de
Prêt-à-Porter, que em abril assessorou 60 empresas do Nordeste
sobre estratégias de exportação.
Para sua seleção de jovens criadores, o salão convidou quatro estilistas "que usam o artesanato local de maneira contemporânea"
Lino Villaventura, Andréa Lima,
Marcelo Quadros e Mário Queiroz. Suas coleções serão desfiladas
no salão, antecipando a realização
do salão brasileiro na França, de
março a dezembro de 2005.
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