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TRABALHO
A partir de sites de tribunais do Trabalho, patrões listam funcionários que fazem reclamações trabalhistas
Empresas criam "cartel antitrabalhador"
João Wainer/Folha Imagem
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Silhueta de Maria, que passou em concurso e foi discriminada por ser portadora de deficiência |
FÁTIMA FERNANDES
CLAUDIA ROLLI
DA REPORTAGEM LOCAL
Um pacto antiemprego, ação
conjunta de empresas para não
contratar o funcionário que vai à
Justiça fazer reclamações trabalhistas, começa a se proliferar no
país por meio de "listas negras"
on-line. Elas estão sendo criadas a
partir de informações retiradas de
sites da Justiça do Trabalho que,
ao fornecer dados sobre processos, revelam também os nomes de
quem moveu ações trabalhistas.
O Ministério Público do Trabalho já conduz 182 investigações
em empresas de vários setores em
20 Estados em razão de denúncias
feitas por trabalhadores. Cerca de
80 empresas já assinaram termo
no órgão para pôr fim às listas.
Se quebrarem o compromisso,
podem pagar multas diárias de
até R$ 500 ou indenizações de até
R$ 10 mil por trabalhador. Os nomes das vítimas e das empresas
são mantidos em sigilo pelos procuradores para não prejudicar o
andamento das investigações.
A Procuradoria Geral do Trabalho entende que essas listas funcionam como uma espécie de cartel no mercado de trabalho e, portanto, precisam ser eliminadas.
Esse combate às listas, dizem os
procuradores, tem de ser parecido com o que é feito pela SDE (Secretaria de Direito Econômico),
que analisa prática de abuso econômico em várias atividades.
Em algumas regiões do país, as
"listas negras" já foram encontradas nos arquivos de computadores das empresas, após decisão judicial para realizar ação de busca
e apreensão desse material. Em
Mato Grosso do Sul, uma transportadora de carga que adotava
essa prática acabou assumindo
compromisso com o Ministério
Público do Trabalho de não mais
fazer listas nem divulgar nomes
para outras empresas do setor.
A lista apreendida no computador dessa transportadora, arquivada como bolapret.doc, tinha 67 nomes de motoristas e
funcionários do setor de manutenção que haviam procurado a
Justiça para fazer reclamações
trabalhistas. Ao lado de cada nome havia também palavras para
identificar a conduta do empregado, como "perigoso", "desobediente", "criador de caso" e "boca do ministério" -esse último
em referência ao fato de o trabalhador ter recorrido ao MPT.
No Paraná, a criação de listas
virou até negócio. Duas empresas de serviços já foram punidas
por vender esse tipo de informação para indústrias que não querem ter em seus quadros de pessoal os tais "reclamões". A Justiça
do Trabalho (em Londrina e em
Curitiba) condenou as empresas
ControlSystem Informática e Intersystem Informática por adotarem essa prática. No caso da Intersystem, a multa determinada
foi de R$ 513 mil -não paga porque o dono da empresa sumiu.
Em Campinas (SP), procuradores apreenderam até material
publicitário que divulgava o serviço de empresas desse tipo. A
Serem, de Indaiatuba (SP), por
exemplo, chega a comparar o seu
banco de dados ao da Serasa, que
oferece serviços para aprovação
de crédito. No folheto, afirma:
"Nossa proposta visa fornecer
exclusivamente às diretorias das
empresas associadas (mediante
senha) as informações de trabalhadores que tiveram seus nomes
envolvidos em reclamatórias trabalhistas". AFolha tentou localizar os proprietários da Serem,
mas não conseguiu. O Ministério
Público do Trabalho informou
que esse tipo de empresa muda
sempre de telefone e endereço.
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