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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Financiamento externo não ajuda o desenvolvimento
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Muitas toneladas de
papel foram impressas
nas últimas décadas repetindo
que o desenvolvimento econômico pode dar saltos se os países
mais pobres abrirem suas economias ao financiamento externo. Para atraí-lo, teriam de
abrir-se às importações, oferecer oportunidades para empresas estrangeiras investirem em
seu território e, coroando o processo, desnacionalizar o próprio
sistema bancário.
Embora os países que seguiram mais de perto esse roteiro
estejam agora em estado de putrefação, como se vê na Argentina, é impressionante o silêncio
que paira sobre a questão. No
momento atual, predominam
os muxoxos, na campanha presidencial ninguém chega nem
sequer perto dessa questão.
Para entender o tema é bom
recorrer a estudos técnicos. É o
caso de um relatório publicado
em junho pelo BIS (Bank of International Settlements), uma
câmara de compensações internacionais. Em "Determinants of
international bank lending to
emerging market countries"
(Determinantes dos empréstimos bancários internacionais
aos países com mercados emergentes), Serge Jeanneau e Marian Micu examinam detalhada
e exaustivamente as estatísticas
mais recentes sobre fluxos financeiros dirigidos a países em
desenvolvimento (http:// www.
bis.org/publ/work112.pdf).
Algumas evidências já são conhecidas, mas os dados atualizados ajudam a refrescar a memória com relação ao período entre
1989 e 1997, por exemplo.
Esse período foi uma espécie
de era dourada dos fluxos de financiamento para os mais pobres, pós-Muro de Berlim.
Os empréstimos internacionais saíram de zero para quase
US$ 150 bilhões por ano. Sarney,
Collor, Itamar e FHC abriram o
que puderam, venderam quase
tudo, tomaram empréstimos
com euforia. O roteiro foi seguido na maior parte da América
Latina e do Leste Europeu e, em
menor grau, na Ásia.
Esse estudo mostra que nesse
período os empréstimos foram
assumindo um perfil cada vez
mais de curto prazo. Na América Latina, no começo do processo pouco mais de 30% dos empréstimos tomados no mercado
internacional eram de curto
prazo (até um ano).
No auge da farra (e da taxa de
câmbio ancorada), os empréstimos de curto prazo passavam de
50% do total. Na Ásia, passaram
de 60% do total de empréstimos.
Ora, não é preciso entender
muito de economia para concluir que processos de desenvolvimento, ou seja, mudanças que
levam muito tempo para amadurecer (são transformações de
longo prazo), tornam-se frágeis
se o seu financiamento repousa
cada vez mais sobre instrumentos de curto prazo.
A afirmação chocante de que o
financiamento externo não contribui para o desenvolvimento
ganha, portanto, pleno sentido.
O que ocorreu nas últimas décadas foi a montagem de modelos de desenvolvimento cujo padrão de financiamento era insustentável. Quem mais faturou
foram os intermediários desse
jogo perverso, os bancos e os investidores com agilidade suficiente para correr de um mercado "emergente" a outro.
Há muitas outras informações
relevantes no estudo publicado
pelo BIS. Ele mostra também
que os fluxos de empréstimos
acompanham os ciclos de crescimento dos países mais ricos.
Isso contraria outra hipótese
muito comum, a de que os investidores e banqueiros veriam
nos mercados dos países em desenvolvimento uma alternativa
de valorização de seus capitais
para os momentos em que a
rentabilidade cai no centro do
sistema capitalista.
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