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MERCADO FINANCEIRO
Em três meses, prejuízo médio das administradoras chega a 13%; crise acelera processo de vendas
Fundos perdem até 34% do patrimônio
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
Três meses depois de deflagrada
a mais severa crise no mercado de
fundos de investimento brasileiro, a situação de alguns gestores
continua crítica.
Há administradoras de fundos-as chamadas empresas de
asset management-que já perderam até 34% do seu patrimônio
líquido. Essa crise deverá acelerar
a tendência de vendas das instituições que não se mantiverem
competitivas.
Os prejuízos foram regra geral
no mercado nos últimos meses. A
perda de patrimônio líquido (PL)
média do mercado, entre 29 de
maio e 29 de agosto deste ano, foi
de 13%. Mas, para alguns gestores, o baque foi maior.
Entre as 35 maiores instituições,
encabeçam a lista das piores perdas de PL as empresas de asset
management controladas por
Bank of America (-33,9%), Credit
Lyonnais (-30,37%), ABN Amro
Real (-28,13%) e Caixa Econômica Federal (-26,94%). Os dados
foram levantados pela Folha no
site Fortuna, que tem dados atualizados sobre a movimentação
dos fundos.
Saques
Essa crise foi provocada por
uma onda desenfreada de saques
que teve duas causas principais.
Primeiro, novas regras de contabilidade dos fundos, que entraram em vigor no final de maio
deste ano, levaram a fortes quedas
de rentabilidade. Os gestores passaram a ter de contabilizar os ativos dos fundos pelo seu valor de
mercado-e não mais pela projeção futura de ganhos.
Como a maioria desses ativos
eram títulos públicos, cujo valor
despencou devido ao medo de
um possível calote do próximo
governo, o retorno dos fundos
caiu. Foi quando investidores insatisfeitos ou apavorados partiram para os saques.
Esse movimento foi acentuado
pelo próprio pânico do mercado
financeiro com o avanço da oposição nas pesquisas eleitorais, que
fez dólar e risco-país brasileiro
dispararem, tornando os investidores ainda mais ressabiados.
Recentemente, o Banco Central
(BC) tomou medidas que tornaram as novas regras de contabilidade dos fundos mais flexíveis. A
idéia era recuperar a rentabilidade dos fundos DI e de renda fixa e
melhorar a captação das instituições. Embora algumas empresas
de asset continuem tendo captação líquida (depósitos menos resgates) negativa, o ritmo dos saques, de fato, caiu.
Mas, segundo analistas, os gestores levarão um longo tempo para recuperar os prejuízos. E, em
alguns casos, as perdas poderão
ser irreversíveis. Quem sofreu saques, por exemplo, porque teve
rentabilidade pior do que a média
do mercado, ficou com a credibilidade arranhada.
Por isso, especialistas apostam
em uma nova onda de concentração no mercado bancário, com a
venda, principalmente, de empresas de asset management de bancos de investimento menores, que
não consigam competir por clientes cada vez mais exigentes.
"Os investidores mais sofisticados querem taxas de administração muito baixas e altos retornos.
Quando uma asset pequena perde
muitos recursos, perde escala, o
que prejudica sua competitividade", afirmou Erivelto Rodrigues,
sócio da Austin Asis.
Segundo o analista do setor
bancário de uma instituição financeira, as empresas de asset são
subsidiadas pelos bancos que as
controlam. Se não trazem retorno
ou, ainda pior, se geram prejuízos, tendem a ser vendidas.
Mesmo antes da crise recente,
esse movimento já havia começado. Foi o caso da Lloyds Asset Management, vendida para o Itaú, da
asset do Deutsche Bank, comprada pelo Bradesco, e da administradora de fundos do Dresdner,
comprada pelo ABN Amro Real.
Para os bancos de varejo, essas
compras são interessantes porque
contribuem para o aumento da
fatia que detêm do mercado.
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