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É preciso simplificar escolha, diz consultor
DA REPORTAGEM LOCAL
As pessoas gastam hoje não
mais do que 20 minutos na cozinha, para preparar o jantar em casa. Mais precisamente, 17 minutos. Nos anos 50, eram 131 minutos. A redução ocorreu graças aos
avanços da indústria na produção, um fato inegável. A questão,
porém, está em como manter esse
consumidor fiel às marcas e aos
produtos sem sufocá-lo com centenas de novidades, diz Peter Sealey, 62, consultor da Coca-Cola e
autor do livro "Marketing da
Substituição". "Cerca de 44% dos
lançamentos hoje são feitos apenas para as marcas manterem sua
participação de mercado. É só
uma atitude defensiva", diz. Leia
trechos de entrevista concedida à
Folha por Sealey.
Folha - O senhor acredita que as
empresas já perceberam que o consumidor não está interessado em
sair da loja estressado, em ter de
escolher entre dezenas e dezenas
de produtos a cada nova compra?
Peter Sealey - Acredito que isso está acontecendo cada vez mais. A
questão passa a ser operar com a
linha de produção a toda carga
apenas com produtos de alta lucratividade. Ou seja, seguir mais a
linha do "faça o que vende" e não
"venda o que você faz". Isso, claro, nem sempre é possível. Mas é
preciso focar o negócio pensando
em reduzir o estresse do cliente.
Isso ocorre, em parte, simplificando o processo de escolha.
Folha - Como isso pode ser feito?
Sealey - A Wal Mart (a maior rede varejistas do mundo), por
exemplo, está experimentando
nos EUA lojas com 25% do tamanho de seus grandes pontos. Eles
descobriram que muitos clientes
simplesmente não querem ir a
uma loja com centenas de opções
a cada compra.
Folha - O Brasil é um país com
mercado consumidor respeitável,
mas novamente está sob o fantasma da inflação e da queda na renda. Faz sentido, neste momento,
colocar menos itens no mercado e
simplificar a compra?
Sealey - O segmento de varejo é
um mercado que acompanha o
crescimento demográfico. Um
país com 170 milhões de pessoas
indica que devem existir 50 milhões vivendo na classe média para cima. Se você está pensando em
redes de varejo para esse mercado, o comportamento delas será o
mesmo aplicado em outras partes
do mundo, como Europa e América do Norte, independentemente de questões pontuais, como a
volta da inflação.
Folha - Isso quer dizer que
uma disparada nos preços não
altera a política de marcas e produtos de uma empresa?
Sealey - A inflação rouba das
pessoas o poder de compra. Eu
acredito que o presidente eleito,
Luiz Inácio Lula da Silva, encontrará vontade e determinação para realizar uma reforma tributária
e manter a atual política econômica. Isso porque o mercado será
cruel com qualquer um que violar
as leis de estabilidade econômica
e produzir inflação. O problema
todo está no mercado acreditar
que o preço subirá no futuro e começar a antecipar a subida, elevando preços antes mesmo de os
custos crescerem.
Folha - No livro "Marketing de
Substituição", o senhor defende os
"4 Rs" -recolocar, reposicionar,
reagrupar e repor- como estratégia para fazer um produto virar sucesso. Na hora de vender uma mercadoria, em qual desses passos as
empresas mais cometem erros?
Sealey - Os erros mais comuns
acontecem quando a empresa
precisa reposicionar um produto.
Seja para torná-lo mais acessível
ou para mudar uma imagem ou
conceito antigo. É esse reposicionamento correto que impede que
marcas antigas morram. E tudo
deve ser feito tendo na cabeça a
razão pela qual um cliente decide
ou não comprar um produto. Um
erro aqui pode ser fatal porque a
empresa está arriscando a promessa de uma marca perante o
consumidor.
Folha - O senhor poderia citar
exemplos?
Sealey - Um exemplo é a Mercedes. Quando, em 1994, ela reduziu
o preço de uma de suas linhas caras para, em média, US$ 30 mil, a
empresa permitiu que mais clientes tivessem acesso à marca. E não
só reduziu preço como alterou o
estilo de propagada e de comunicação com o mercado.
Folha - Como é possível convencer uma empresa a simplificar, cortar linhas ou recolocar itens se o
concorrente "enche" o mercado de
novos produtos, um atrás do outro?
Sealey - Nesse caso, prefiro usar
um exemplo. A General Motors,
nos EUA, anunciou o fim de uma
de suas divisões, a Oldsmobile. A
GM descobriu que cinco divisões
eram demais. Ficava difícil definir
uma posição no mercado para cada segmento. Com isso, pode focar o negócio nos departamentos
mais lucrativos. A DaimlerChrysler também acabou com a divisão
Plymouth . Ambas precisavam ficar "mais magras" e mais focadas.
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