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TIPO EXPORTAÇÃO
Venda ao exterior reage, e faturamento do setor cresce 32,8%; celulose e mineração também avançam
Siderurgia festeja desvalorização do real
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As siderúrgicas, os fabricantes
de celulose e papel e as mineradoras foram os grandes beneficiados, na área industrial, com a disparada do dólar no ano passado.
Esses setores, juntos, faturaram
R$ 52,8 bilhões -um ganho de
25% em relação a 2001.
Em um ano de fraco desempenho da economia, eles geraram
receitas equivalentes a 5,5% do
PIB (Produto Interno Bruto, a soma dos bens e serviços produzidos pelo país em um ano).
As empresas engordaram suas
receitas e lucros por dois caminhos: o do crescimento das exportações, que trouxe mais dólares aos seus cofres, e o do aumento dos preços internos, que acompanharam a cotação dos produtos
no mercado internacional.
Como a maior parte dos custos
desses setores é em reais, a dolarização de parte das receitas em um
ano em que a moeda local perdeu
53,2% do valor foi, para eles, sopa
no mel.
No mês passado, a sopa começou a correr o risco de azedar. O
ministro do Desenvolvimento,
Luiz Fernando Furlan, disse, em
encontro com empresários, que o
governo poderá adotar um imposto sobre as exportações de
produtos siderúrgicos como aço e
ferro-gusa, além de celulose e outros itens.
O objetivo seria frear a inflação
provocada pelo aumento dos preços internos desses produtos que,
historicamente, acompanham os
preços internacionais.
Procurados pela Folha, o IBS
(Instituto Brasileiro de Siderurgia) e a Bracelpa (Associação Brasileira de Celulose e Papel) não se
manifestaram.
Aço forte
O setor siderúrgico foi o que
mais ganhou com a variação cambial de 2002. Além de receber
mais reais para cada dólar obtido
com exportações, as indústrias se
beneficiaram também da recuperação dos preços internacionais
do aço.
"O ano de 2002 foi muito bom
operacionalmente para a siderurgia. Os preços internacionais, que
no início do ano atingiram seu
menor nível em 14 anos, se recuperaram. Internamente, o preço
médio dos produtos siderúrgicos
subiu mais de 40%", diz Katia
Brollo, analista do Unibanco.
Resultado: o faturamento do setor cresceu 32,8% em 2002, atingindo R$ 26,7 bilhões, segundo o
IBS (Instituto Brasileiro de Siderurgia). Para este ano, a previsão é
de um crescimento de 7%.
O ganho extraordinário da siderurgia brasileira foi alimentado
pelo crescimento da demanda
global. O consumo mundial teve
uma expansão de 10,5%, segundo
a consultoria britânica Meps International.
Com a demanda excepcionalmente aquecida, os preços das bobinas de aço laminado a quente
subiram 41% no mercado internacional, e os das bobinas de aço
laminado a frio, 37%, segundo levantamento da Meps.
Esses são os principais produtos
do segmento de aços planos, destinados à industria automotiva,
construção civil e eletrodomésticos da linha branca.
Surpresa
Em um ano marcado pelo crescimento do protecionismo internacional, o desempenho da siderurgia mundial surpreendeu e
contrariou a expectativa da maioria dos analistas.
Em março do ano passado o governo americano impôs cotas tarifárias (um imposto adicional de
importação quando são superados determinados limites quantitativos) de até 30%. Na esteira das
salvaguardas americanas a União
Européia e a China adotaram medidas similares.
O objetivo das proteções aos
mercados locais era garantir preços melhores aos produtores internos desses países e forçar uma
queda da produção global .
"A disseminação de várias medidas de proteção comercial teve
como impacto a elevação dos preços siderúrgicos naqueles mercados, como era esperado", observa
Germano Mendes de Paula, do
Instituto de Economia da Universidade Federal de Uberlândia e especialista no setor siderúrgico.
Efeito China
O que os especialistas não esperavam é que, paralelamente ao
aumento dos preços dentro dos
mercados protegidos, os preços
internacionais também reagiram,
e a produção global, em vez de encolher, deslanchou.
A produção mundial de aço
bruto cresceu 6,4%, depois de
permanecer praticamente estagnada entre 1975 e 2000, quando
registrou uma taxa anual de crescimento de apenas 1,1%. Essa expansão, segundo Paula, foi puxada pela China. "Se eliminarmos o
efeito China, o mercado não é tão
pujante", diz ele.
A "bolha chinesa", como está
sendo chamada por analistas, foi
a principal alavanca para a recuperação dos preços no mercado
internacional. Os chineses consumiram todo o aço que produziram -181,5 milhões de toneladas, 30 milhões de toneladas a
mais do que o fabricado em 2001.
Insaciáveis, ainda importaram 31
milhões de toneladas.
Para se ter uma idéia do tamanho do salto do mercado chinês,
toda a produção da indústria brasileira no ano passado chegou a 29
milhões de toneladas de produtos
siderúrgicos.
"O consumo da China cresceu
dois Brasis. Não há modelo econométrico que explique essa explosão", diz Paula.
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