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DIAS DE TENSÃO
Efeitos podem ser piores do que os vividos antes da Guerra do Iraque
Demanda alta agrava crise do petróleo, dizem analistas
JOSÉ ALAN DIAS
CÍNTIA CARDOSO
DA REPORTAGEM LOCAL
Os efeitos da atual crise do petróleo podem ser muito mais sérios do que os causados no período pré-Guerra do Iraque (2003),
avaliam analistas do setor ouvidos pela Folha.
O maior argumento: desta vez, a
alta de preços ocorre em um período de ""prosperidade mundial", puxada pelo aumento da
atividade econômica nos EUA e
pela voraz expansão da economia
chinesa. Ou, como resume Heliodoro Quintero, ex-governador da
Venezuela na Opep (a organização dos países exportadores): ""Se
descontarmos os eventos pontuais, constataremos que essa crise decorre mais de um processo
natural, de aumento de demanda
e de uma capacidade por ora saturada de produção do que de elementos conjunturais".
É fato que nos últimos dias se
acumularam eventos com poder
de catalisar a crise: o assassinato
de funcionários de uma refinaria
na Arábia Saudita (disseminando
o temor de que essas instalações
virem alvo de terrorismo) e o novo risco de interrupção na produção de petróleo no Iraque (2,4 milhões de barris/dia), que não poderia ser suprida de imediato pelos demais produtores mundiais.
Na última turbulência nos preços, em 2003, a maior cotação do
barril do petróleo negociado em
Nova York foi US$ 37,83, registrada em 12 de março daquele ano
-ou seja, uma semana antes de
os EUA deflagrarem a ofensiva
militar contra o Iraque. Na última
sexta, o barril fechou cotado a
US$ 39,93 -alta de 6,82% na semana.
As contas apresentadas pelos
analistas são as seguintes: os países-membros da Opep têm uma
cota de produção limitada a 23,5
milhões de barris/dia. A própria
Opep, no entanto, já havia aumentado essa cota nos últimos
meses para 25 milhões de barris
(descontado o Iraque). Mesmo
que a Opep incremente de novo a
cota de produção, em sua reunião
no próximo dia 3, no Líbano, somente Arábia Saudita e Kuait teriam capacidade ociosa para aumentar em 1 milhão de barris e
em 300 mil barris, respectivamente, sua produção diária. ""Os demais países produtores estão no
limite ou muito próximo disso.
Ficamos na dependência de descobertas no mar Cáspio ou de novos poços que possam ser explorados em pouco tempo no Oriente Médio", afirma Quintero.
Além disso, os estoques dos
EUA, país que detém 5% da população mundial, mas consome
45% do petróleo produzido, estão
3,3 milhões de barris/dia abaixo
do nível considerado normal.
O analista Paulo Gomes, da Global Invest, avalia que a atual crise
não guarda margens de comparação com o grande choque do petróleo no final dos anos 70. Primeiro porque, afirma ele, o mercado mundial está mais protegido
depois do desenvolvimento de
combustíveis alternativos. Lembra ainda que o número de países
produtores aumentou (embora
os custos de exploração também).
Para os países emergentes, como o Brasil, o impacto dos altos
preços do produto pode ser preocupante. "Esses países, especialmente aqueles com setor industrial em expansão, são muito vulneráveis. Isso também é verdade
para países que têm moedas atreladas ao dólar", avaliou Nariman
Behravesh, economista da consultoria Global Insight.
A Petrobras já estaria se utilizando de um "colchão" de R$ 2
bilhões, formado no ano passado
graças à prática de preços dos
combustíveis acima dos níveis do
mercado internacional, para evitar reajuste agora, segundo os cálculos de Adriano Pires Rodrigues,
do CBIE (Centro Brasileiro de Infra-Estrutura).
""Essa é uma crise semelhante à
pré-Guerra do Iraque. Até pior,
pois hoje a economia americana
está com um nível de atividade
econômica bem mais elevado, depois do forte crescimento do PIB
[nos últimos 12 meses, a economia americana cresceu 4,9%]",
diz Gomes. ""Esse maior nível de
atividade, somado à China, se traduz em maior demanda."
O analista da Global Invest enumera problemas adicionais em
países produtores, como Argélia,
Nigéria e Geórgia.
""Pelo menos até o final do verão
nos EUA os preços vão oscilar de
US$ 35 a US$ 40. Se por algum
motivo tivermos uma interrupção no Iraque, os efeitos serão
mais graves", diz Quintero.
Segundo Behravesh, a atual cotação do petróleo vai comprometer o desempenho da economia
norte-americana.
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