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"FMI deveria pressionar por redução da dívida"
DE WASHINGTON
Leia a seguir a conclusão da entrevista concedida à Folha pelo
economista Morris Goldstein, especialista em mercados internacionais de capitais.
Folha - O FMI poderia ou deveria
ter pressionado mais o Brasil a reduzir sua dívida pública?
Morris Goldstein - Deveria e poderia. Sei que é difícil obrigar um
país a reestruturar sua dívida,
principalmente quando o dinheiro está entrando. Nos próximos
cinco anos, o FMI e as economias
emergentes terão de mudar sua
maneira de contrair dívidas e de
lidar com elas, domésticas ou externas. Hoje o FMI não quer forçar o país a reestruturar para não
ser acusado de estimular o calote.
Então, a dívida vira um elefante
na sala que as pessoas fingem não
ver. Mas é o elefante que causa o
problema.
Folha - Como o sr. acha que o secretário do Tesouro dos EUA, Paul
O'Neill, agiria com o Brasil no caso
de uma crise de pagamento? Como
lidou com a Argentina, fechando os
cofres e desprezando a hipótese de
contágio?
Goldstein - Eles tenderiam a ajudar o Brasil devido ao histórico
recente de sucesso da política econômica e do bom andamento do
programa com o FMI. Além disso, o Brasil é maior, e eles teriam
mais medo de contágio.
Folha - E se Lula ganhar? O FMI e
O'Neill ajudariam o país?
Goldstein - Depende das políticas que Lula adotar. Se parecer a
eles que a culpa da crise é do próximo governo, as chances de um
novo pacote serão pequenas. Mas
o Brasil está numa situação da
qual não sairá apenas com um novo pacote do FMI. Precisa avançar
para uma situação em que o perfil
de sua dívida se torne sustentável.
É por isso que o FMI e o Tesouro
estão tentando encontrar um mecanismo alternativo para resolver
dívidas de países emergentes.
Folha - Segundo autoridades brasileiras, economistas estrangeiros
como o sr. nunca lidaram com a rolagem da dívida interna brasileira,
não entendem sua dinâmica nem
reconhecem a tradição oficial do
país de administrá-la. Dizem que a
dívida interna é grande, mas está
nas mãos de investidores domésticos que não têm planos de fugir do
país. Citam como exemplo as eleições de 1998, quando o BC e o Tesouro também foram obrigados a
encurtar o perfil da dívida mobiliária, mas não houve uma reprogramação forçada da dívida.
Goldstein - Todos os países têm
peculiaridades que os fazem acreditar que são diferentes. Mas os
investidores domésticos, como os
estrangeiros, vêem a situação como ela é. Não quero desmerecer o
Brasil. Acho que o país está numa
situação muito melhor que a Argentina. E Malan e Fraga fizeram
um trabalho estupendo no país.
Mas a dívida externa brasileira sozinha é enorme se comparada
com as exportações. Além disso, é
muito mais indexada ao dólar do
que era em 1998. Historicamente,
países nessa situação dificilmente
escapam da armadilha da dívida
por muito tempo. Meu coração
espera que o Brasil escape, mas
minha cabeça sugere outra coisa.
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