|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
PERDAS E DANOS
Até o final de ano vencem US$ 10,8 bi de dívidas de empresas e bancos no exterior; falta refinanciamento
Fica difícil para empresas "rolar papagaios"
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
As empresas e bancos brasileiros que têm US$ 10,8 bilhões de
dívidas que vão vencer no mercado internacional, até o final do
ano, já enfrentam dificuldades
para rolar (refinanciar) esses "papagaios".
"Não há linhas para refinanciar
esses débitos no exterior. O crédito está rarefeito, os bancos só estão refinanciando empresas de
primeira linha", diz Marcos Camargo, diretor de mercado de capitais do BankBoston.
As taxas de juros pedidas na rolagem das dívidas, mesmo para
empresas de primeira linha, estão
subindo e os prazos concedidos
estão cada vez menores. Além disso, muitas instituições estão exigindo um pacote de garantias aos
devedores que inclui seguro de
risco político e caução (comprometimento de bens em garantia).
A pior situação, segundo Camargo, é a das empresas de segunda e terceira linhas que, no
passado, emitiram títulos da dívida e hoje não têm recursos para
resgatá-los. Como os demais especialistas ouvidos pela Folha ele
prefere não citar quais são as
companhias nessa situação.
"A economia entrou em retração, essas empresas perderam receita e estão em dificuldades. Algumas delas, se conseguirem oferecer novas garantias, podem até
refinanciar a dívida; outras, que se
alavancaram demais [tomaram
muito dinheiro proporcionalmente ao seu capital" vão quebrar", acrescenta Camargo. Ele
diz, no entanto, não acreditar em
"risco sistêmico".
Também os bancos locais que
emitiram títulos lá fora para captar recursos estão sentindo o
aperto. "Os bancos grandes sempre tiveram acesso fácil ao mercado, mas os menores estão tendo
problemas de refinanciamento.
Nas últimas semanas piorou a situação de rolagem da dívida dos
pequenos", diz Rafael Guedes, diretor-geral de FitchRatings, agência de classificação de risco.
A dificuldade de rolagem da dívida externa das empresas é consequência do estreitamento do
crédito internacional para o país,
que começou no final do ano passado, e se acentuou nas últimas
duas semanas em consequência
das turbulências sofridas pelo
mercado financeiro local.
As eleições, e a possibilidade de
mudança na política econômica,
estariam por trás do estreitamento do crédito para o país, segundo
especialistas ouvidos pela Folha.
Mas há, também, movimentos
oportunistas de instituições financeiras internacionais.
"Há bancos segurando o crédito
agora, esperando que as taxas subam mais até o final do ano para
emprestar por um custo maior",
diz Ernesto Meyer, vice-presidente de operações estruturadas de
corporate do BNP Paribas.
A rigor, o crédito para mercados emergentes, como o Brasil,
começou a minguar após o 11 de
setembro quando o dinheiro que
voa pelo mundo buscou o porto
seguro dos títulos do tesouro
americano. O cenário político interno ajudou a fechar as torneiras
dos agentes financeiros, mas dificuldades setoriais também estão
impactando o crédito.
Empresas do setor elétrico, que
perderam receita com o racionamento e carregam pesadas dívidas em dólar, estariam com maior
dificuldade para rolar os débitos
que vencem nos próximos meses.
É o caso da Eletropaulo, que tem
um vencimento de US$ 400 milhões em eurobonds e R$ 100 milhões em debêntures no segundo
semestre. "Se o candidato do governo continuar patinando nas
pesquisas, a empresa não conseguirá rolar a dívida", diz Gustavo
Alcântara, analista do banco
Prosper.
Segundo Alcântara, a geração
de caixa da Eletropaulo também
não é suficiente para saldar essa
dívida. "A situação da empresa é
difícil, já que não pode nem recorrer aos acionistas controladores",
observa. A americana AES, que
controla a Eletropaulo, passa por
dificuldades e suas ações caíram
90% em um ano, segundo o analista. Procurada pela Folha, a empresa não se manifestou.
Também no setor de telecomunicações, que enfrenta uma crise
de excesso de capacidade e baixa
demanda, algumas companhias
estariam com dificuldades de rolagem de suas dívidas.
Mesmo o setor siderúrgico, que
por ser exportador sempre usufruiu de crédito fácil, já sofre restrições. Os fabricantes de aços
planos, que podem ver suas vendas encolherem por conta do protecionismo dos EUA, já estariam
enfrentando restrições ao crédito
e problemas para rolar as dívidas.
Texto Anterior: "FMI deveria pressionar por redução da dívida" Próximo Texto: Até bancos devem ter lucros mais modestos Índice
|