São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2008

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Teles não estão prontas para portabilidade

Agência mantém data de início da regra que permite mudar de operadora e manter número, mas empresas pressionam por adiamento

Anteontem, apenas 1 entre 10 testes realizados teve resultado satisfatório; governo diz que decisão final sai na próxima semana

JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL

As operadoras de telefonia (fixas e móveis) levaram um "puxão de orelha" ontem da Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações). O presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, cobrou de cada companhia, isoladamente, uma descrição dos problemas enfrentados que, segundo elas, comprometeriam a entrada em vigor da portabilidade, o serviço que permitirá ao consumidor mudar de operadora e ficar com o número de telefone.
Na reunião, Sardenberg negou o pedido das teles pelo adiamento da portabilidade, que começa gradativamente no país a partir de 1º de setembro, e encaminhou o caso ao conselho da Anatel. A decisão sairá na próxima semana. As operadoras receberam o recado de que a Anatel não assumirá o custo político pelo novo atraso. O primeiro foi há três anos.
Desde junho, as teles vinham tentando postergar o prazo por meio de suas associações para escapar de punições que pudessem, nesta fase final, ser aplicadas pela agência. Primeiro, mandaram cartas à Anatel pela ABRT, associação que gerenciará a portabilidade no país. Depois, por meio da Abrafix (associação das teles fixas) e da Acel (das móveis).
O presidente da Abrafix, José Fernandes Pauletti, confirmou os problemas. "Estamos fazendo uma mudança gigantesca nas redes", diz. "Seria razoável o adiamento por uma questão de qualidade. Pode haver transtornos para os clientes."

Situação dramática
A Folha conferiu os testes apresentados a Sardenberg. Anteontem, a média de sucesso das companhias foi de 11% (ou seja, em 10 só 1 teste deu certo).
Segundo um executivo que esteve na reunião, o problema é que, no relatório, aparece o desempenho de cada operadora, mas não dá para saber de quem é a culpa pelo resultado.
Caso uma empresa com sistema em ordem mande um de seus clientes "portados" para a base da outra com problemas, o teste falha. Assim, chamadas também não se completam.
A situação complica na hora da tarifação das chamadas. Hoje, as operadoras têm redes e sistemas internos (cadastro de clientes, por exemplo) organizados de uma forma e, agora, precisam colocá-los para "conversar" entre si, tanto na rede fixa quanto na móvel -embora a portabilidade só passe a valer de telefone fixo para fixo e de móvel para móvel.
O empecilho é que, para completar chamadas e cobrar por elas, as companhias precisam ser informadas sobre quando um número for transferido. É por isso que todas, sem exceção, precisam estar prontas. Técnicos que acompanham a fase final dos testes acreditam que, para funcionar direito, a data deveria ser adiada para, no mínimo, novembro. Mas eles acreditam que, caso a Anatel mantenha o prazo, as operadoras colocarão em prática um "plano B", sobrecarregando seus "call centers".
Os atendentes ficariam responsáveis por inserir manualmente os dados dos clientes "portados" em sua base -um "jeitinho" até que o sistema completo seja implantado corretamente. Mesmo assim, seriam grandes as chances de falhas porque os clientes precisam ser desligados das centrais e conectados pela concorrente.
As teles que investiram na portabilidade não querem assumir esses riscos, especialmente aquelas que podem sair ganhando. As concessionárias fixas deverão perder mais clientes, especialmente entre as grandes empresas.


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