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Teles não estão prontas para portabilidade
Agência mantém data de início da regra que permite mudar de operadora e manter número, mas empresas pressionam por adiamento
Anteontem, apenas 1 entre 10 testes realizados teve resultado satisfatório; governo diz que decisão final sai na próxima semana
JULIO WIZIACK
DA REPORTAGEM LOCAL
As operadoras de telefonia
(fixas e móveis) levaram um
"puxão de orelha" ontem da
Anatel (Agência Nacional de
Telecomunicações). O presidente da agência, Ronaldo Sardenberg, cobrou de cada companhia, isoladamente, uma
descrição dos problemas enfrentados que, segundo elas,
comprometeriam a entrada em
vigor da portabilidade, o serviço que permitirá ao consumidor mudar de operadora e ficar
com o número de telefone.
Na reunião, Sardenberg negou o pedido das teles pelo
adiamento da portabilidade,
que começa gradativamente no
país a partir de 1º de setembro,
e encaminhou o caso ao conselho da Anatel. A decisão sairá
na próxima semana. As operadoras receberam o recado de
que a Anatel não assumirá o
custo político pelo novo atraso.
O primeiro foi há três anos.
Desde junho, as teles vinham
tentando postergar o prazo por
meio de suas associações para
escapar de punições que pudessem, nesta fase final, ser aplicadas pela agência. Primeiro,
mandaram cartas à Anatel pela
ABRT, associação que gerenciará a portabilidade no país.
Depois, por meio da Abrafix
(associação das teles fixas) e da
Acel (das móveis).
O presidente da Abrafix, José
Fernandes Pauletti, confirmou
os problemas. "Estamos fazendo uma mudança gigantesca
nas redes", diz. "Seria razoável
o adiamento por uma questão
de qualidade. Pode haver transtornos para os clientes."
Situação dramática
A Folha conferiu os testes
apresentados a Sardenberg.
Anteontem, a média de sucesso
das companhias foi de 11% (ou
seja, em 10 só 1 teste deu certo).
Segundo um executivo que
esteve na reunião, o problema
é que, no relatório, aparece o
desempenho de cada operadora, mas não dá para saber de
quem é a culpa pelo resultado.
Caso uma empresa com sistema em ordem mande um de
seus clientes "portados" para a
base da outra com problemas, o
teste falha. Assim, chamadas
também não se completam.
A situação complica na hora
da tarifação das chamadas. Hoje, as operadoras têm redes e
sistemas internos (cadastro de
clientes, por exemplo) organizados de uma forma e, agora,
precisam colocá-los para "conversar" entre si, tanto na rede
fixa quanto na móvel -embora
a portabilidade só passe a valer
de telefone fixo para fixo e de
móvel para móvel.
O empecilho é que, para
completar chamadas e cobrar
por elas, as companhias precisam ser informadas sobre
quando um número for transferido. É por isso que todas,
sem exceção, precisam estar
prontas. Técnicos que acompanham a fase final dos testes
acreditam que, para funcionar
direito, a data deveria ser adiada para, no mínimo, novembro.
Mas eles acreditam que, caso a
Anatel mantenha o prazo, as
operadoras colocarão em prática um "plano B", sobrecarregando seus "call centers".
Os atendentes ficariam responsáveis por inserir manualmente os dados dos clientes
"portados" em sua base -um
"jeitinho" até que o sistema
completo seja implantado corretamente. Mesmo assim, seriam grandes as chances de falhas porque os clientes precisam ser desligados das centrais
e conectados pela concorrente.
As teles que investiram na
portabilidade não querem assumir esses riscos, especialmente aquelas que podem sair
ganhando. As concessionárias
fixas deverão perder mais
clientes, especialmente entre
as grandes empresas.
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