|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Brasil é exceção na crise, diz Armínio
Para ex-presidente do BC, efeitos da atual turbulência são muito menores que os momentos de tensão do passado
Para economista, se o gasto não estivesse tão alto, seria melhor; por isso, ele sugere prudência na condução
da política econômica
GUILHERME BARROS
COLUNISTA DA FOLHA
O ex-presidente do Banco
Central Armínio Fraga não se
mostra muito preocupado com
o pessimismo que se abateu nos
últimos dias sobre o mercado
financeiro, especialmente no
Brasil. Ele considera até o Brasil exceção diante desse quadro
de tensão econômica global.
"O que ocorre no Brasil não é
nada anormal diante do quadro
global que estamos vivendo,
afirmou.
Apesar de considerar o Brasil
uma exceção, Armínio diz que o
país vai sentir os efeitos da crise, embora agora sejam, segundo ele, muito menores do que
os momentos de tensão vividos
no passado. Ele estava à frente
do BC na crise cambial de 1999.
Armínio recomenda muita
prudência ao governo na condução da política econômica.
"Seria melhor se os gastos não
estivessem crescendo tanto."
FOLHA - Qual a sua avaliação da
decisão do governo americano de
intervir nas duas empresas de hipotecas imobiliárias?
ARMÍNIO FRAGA - Algum socorro
já era esperado. Havia alguma
dúvida de quando ocorreria e a
extensão do socorro, mas, nas
atuais circunstâncias, era inevitável. O próprio secretário do
Tesouro americano, Henry
Paulson, disse que havia uma
ambigüidade com relação à responsabilidade do governo com
as duas empresas (Fannie Mae
e Freddie Mac), que eram privadas, mas tinham uma garantia implícita governamental.
Devido ao tamanho das duas
empresas, o governo americano resolveu tomar essas medidas, que me parecem adequadas, dado que se chegou a esse
ponto. Melhor teria sido se, lá
atrás, tivessem tomado outras
medidas preventivas.
FOLHA - Por que essa reação negativa ontem do mercado, depois da
euforia de segunda-feira?
ARMÍNIO - As tensões econômicas, tanto nos Estados Unidos
como fora, especialmente na
Europa, no Japão e um pouco
na China, continuam, e, por isso, não houve, do ponto de vista
do mercado, uma reação positiva duradoura à decisão do governo de socorrer as duas empresas. O grande problema é
que persiste a ameaça de recessão no mundo.
FOLHA - O objetivo da intervenção
não era o de reverter o mau humor
do mercado?
ARMÍNIO - Nesse momento, o
objetivo não era resolver todos
os problemas. Existem outros
problemas que vão ter de ser
resolvidos ao longo do tempo,
como a desaceleração econômica e a saúde geral do sistema
financeiro dos Estados Unidos
e de outros países. O Brasil é
uma exceção nesse processo de
grande desalavancagem que
vem acontecendo já há vários
meses.
FOLHA - Mas o Brasil também está
sentindo os reflexos da crise...
ARMÍNIO - O mecanismo de
contaminação aqui veio pelo lado das commodities. Em parte
porque o Brasil é um dos favoritos na carteira dos investidores
globais neste momento em que
outros fundos pelo mundo afora estão tendo de administrar
resgates. O país que ocupa uma
fatia maior nas carteiras desses
fundos, num momento como
este, como é o caso do Brasil,
sempre sente um pouco. Diria
que não é nada de anormal
diante do quadro global que estamos vivendo.
FOLHA - O sr. arrisca fazer alguma
previsão?
ARMÍNIO - Ninguém sabe o que
vai acontecer. O que temos visto até agora é que a crise financeira tem tido um efeito bastante limitado no Brasil. Mas o
Brasil não está isolado do mundo... Ainda assim, o que estamos vivendo hoje está muito
distante das crises que vivemos
no passado.
FOLHA - Como o governo deve reagir à crise?
ARMÍNIO - Administrar, manter
a prudência na condução da política econômica e ponto.
FOLHA - E isso está acontecendo?
ARMÍNIO - O saldo da política
fiscal seria melhor se o gasto
não estivesse crescendo tanto,
mas, de qualquer forma, o superávit primário tem sido preservado.
FOLHA - O IBGE divulga hoje o resultado do PIB do segundo trimestre
e as previsões são positivas. O sr.
acha que a crise vai afetar o crescimento?
ARMÍNIO - Os números são
bons, mas alguma desaceleração vai acontecer. Não se espera nada de dramático, mas vai
haver alguma desaceleração.
Texto Anterior: Vinicius Torres Freire: Liquidação até o final do estoque Próximo Texto: Tendência do dólar é de alta, diz Mantega Índice
|