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FUTUROLOGIA
Taxas ficam acima do previsto por instituições; resultado pressiona juros e eleva valor dos títulos que elas detêm
Banco ganha com previsão errada de inflação
FABRICIO VIEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A divulgação dos últimos índices de inflação mostrou que as
projeções econômicas das instituições financeiras nem sempre
estão certas. Mas, nesse caso, errar pode ter tido suas vantagens
para os bancos.
Os dados apresentados pelos
principais índices de preços (como o IPCA e o IPC-Fipe) para setembro vieram abaixo do que
projetava a maioria das instituições financeiras.
O cenário mais pessimista esperado pelos bancos ajudou a pressionar as projeções futuras de juros. Com essas projeções mais altas, as taxas pagas pelo governo
em seus leilões de LTNs (Letras
do Tesouro Nacional, títulos públicos prefixados) subiram entre
julho e setembro.
"Os bancos acabaram tendo
vantagens com o próprio erro",
diz o analista Antônio Carlos Carvalho Filho, da ABM Consulting.
A taxa máxima paga pelo governo para vender a LTN com prazo
de vencimento de 12 meses saltou
de 17,35% anuais em meados de
julho para 18,19% anuais no leilão
de 21 de setembro. O 0,84 ponto
percentual de diferença entre as
duas taxas ganha relevância
quando se fala em grandes somas
de recursos: 0,84% de R$ 1 bilhão
são R$ 8,4 milhões.
Semanalmente, o Banco Central
divulga o boletim Focus, realizado a partir de consultas a cerca de
cem instituições financeiras. O
Focus do último dia 1º trazia a
mediana das expectativas do mercado para o IPCA de setembro:
0,50%. A taxa que veio foi bem
menor: 0,33%.
Os dados computados pelo Focus têm forte influência sobre as
taxas futuras do mercado financeiro. A elevação dessas taxas
pressiona os juros pagos pelos títulos públicos, além de terem peso na decisão do Copom sobre o
rumo da Selic (taxa básica da economia, hoje em 16,25% ao ano).
"Esse é o paradoxo dos juros e
infelizmente é assim. E sempre é a
sociedade quem paga. Além de
poderem ganhar mais com a alta
das taxas dos títulos públicos, os
custos dos financiamentos concedidos pelos bancos também acabam subindo, gerando retornos
maiores", afirma Alexsandro
Agostini, economista da consultoria Global Invest.
Os bancos têm, em suas carteiras, aproximadamente 35% dos
títulos emitidos pelo governo.
Na opinião de Roberto Troster,
economista-chefe da Febraban
(Federação Brasileira de Bancos),
é mais interessante para as instituições financeiras que os juros
estejam baixos.
"O cenário de queda de juros é
melhor, pois assim crescem as expectativas de crescimento e a conseqüente expansão do crédito",
diz Troster. O economista afirma
que "alguma coisa" nas expectativas de inflação deve acabar por
ser revista pelas instituições financeiras nos próximos dias.
Taxas altas
Por enquanto, os dados menores de inflação não fizeram os juros recuarem. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), a taxa
do contrato DI -que considera
os juros praticados entre os bancos- mais negociado, com prazo
de resgate em abril de 2005, fechou a 17,06% na sexta-feira.
Uma semana antes, o contrato registrou taxa de 17,08%.
E, se depender das "projeções"
do mercado, as taxas não devem
recuar muito. Isso porque muito
se tem falado que setembro foi
"atípico" no que se refere à desaceleração dos preços.
Para a LCA Consultores, haverá
uma reaceleração da inflação neste último trimestre do ano, que
"deverá abortar a [eventual] revisão para baixo nas projeções de
inflação para 2005, e poderá até
levar a que essas projeções voltem
a subir um pouco".
Alimentos
Em relação a setembro, até mesmo a Fipe (Fundação Instituto de
Pesquisas Econômicas) errou em
suas estimativas. A própria fundação estimativa que o IPC registraria 0,40% no mês. O índice que
veio foi de 0,21%.
A alta abaixo do esperado se deu
principalmente devido ao fato de
produtos "in natura" e remédios
terem registrado recuo acima do
esperado. A queda teve a ver com
uma renda fraca dos consumidores. No setor de alimentação, também houve uma oferta maior.
"A forte queda dos preços em
setembro não deve impedir uma
nova alta da Selic. O BC deve elevar de novo os juros em 0,25 ponto percentual", avalia Agostini.
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