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CRISE NO AR
Desde sua fundação, empresa alterna avanços e projetos malsucedidos
Vasp segue trajetória controversa
MAELI PRADO
DA REPORTAGEM LOCAL
Congelamento tarifário, variações do dólar, uma incursão malsucedida em vôos internacionais,
a entrada de companhias aéreas
mais enxutas no mercado, as dificuldades em renovar sua frota. E
uma história que, a partir da privatização da empresa, foi pontuada por lances controversos.
Essas são as razões, segundo especialistas, que reduziram a Vasp
ao seu estado atual -em poucas
semanas, a empresa acumulou
um pedido de falência, enfrentou
paralisações de trabalhadores, teve a operação de seis aeronaves
suspensa e correu o risco de não
ter sua concessão para voar renovada pelo governo. Sem falar na
possibilidade de não decolar mais
a partir do dia 13 por não pagar
dívidas com a Infraero.
Os problemas estiveram presentes desde os primeiros anos da
vida da companhia aérea. A Viação Aérea São Paulo foi fundada
em 1933, criada por um grupo de
empresários de São Paulo, e estatizada em 1935, quando os prejuízos operacionais evidenciaram a
necessidade de investimentos: o
governo do Estado se tornou o
controlador da Vasp.
Ironicamente, 55 anos depois,
quando foi privatizada, em 1990, a
companhia acumulava uma dívida de US$ 750 milhões. No meio
do caminho, falta de autonomia
nas administrações, já que o poder público interferia diretamente
nas decisões, quantidade excessiva de funcionários -a aérea chegou a ter 9.300 funcionários- e
baixa ocupação de seus assentos.
Canhedo
Quando passou para as mãos de
Wagner Canhedo, em 1990, por
US$ 43 milhões, a aérea tinha cerca de 7.000 funcionários. A frota
já era considerada antiga. O novo
dono da Vasp, a quem os jornais
na época atribuíam um patrimônio de US$ 1 bilhão, foi considerado uma espécie de salvador pelos
trabalhadores, que se aliaram a ele
na compra do controle da Vasp.
O empresário tinha quatro empresas de transporte de passageiros, a Wadel, de transporte de cargas, e negócios em mineração e
agropecuária, entre outros.
No início, chegou a ser chamado pelos funcionários de "Midas",
aquele que transforma em ouro
tudo o que toca.
Ao final de um ano sob nova direção, a empresa aumentou sua
frota de 32 para 58 aviões, mas aumentou a sua dívida em dólar.
Nas rotas internacionais, teve a
mais baixa ocupação da indústria.
A privatização da empresa passou a ser investigada: foi criada
uma CPI (Comissão Parlamentar
de Inquérito), que apontou irregularidades, como o fato de os
bens que Canhedo deu em garantia de compra da aérea terem sido
superavaliados pelo Estado de
São Paulo, segundo a CPI. O governador na época era Orestes
Quércia, que investiu US$ 53 milhões na companhia aérea às vésperas da venda.
A comissão apontou que a empresa fora vendida por 25% do
seu valor, com um prejuízo de pelo menos US$ 150 milhões ao governo estadual. Em 1992, empregados da Vasp já ameaçavam fazer greve por falta de pagamento.
No mesmo ano, 22 aviões foram
arrestados por falta de pagamento
de leasing. A empresa tinha uma
dívida de US$ 16 milhões com a
Infraero, segundo os jornais.
Sem crédito, a Vasp chegou a recorrer aos Correios, que pagaram
uma fatura antecipadamente.
Em 94 e 95, os resultados da empresa voltaram ao azul, após anos
seguidos de prejuízo. A Vasp, na
época a segunda maior empresa
em participação de mercado, decidiu comprar a companhia aérea
Lloyd Aéreo Boliviano. A Varig
havia desistido do negócio por
considerar a empresa inviável
economicamente. A Vasp venderia a Lloyd em 2001.
Em 98, a empresa voltou a ter
prejuízo. No ano seguinte, uma
manobra reduziu a participação
acionária do Estado, que tinha
40% da Vasp, a pó: duas empresas
de Canhedo foram incorporadas
à companhia, avaliadas em um
valor aprovado apenas pelo acionista majoritário. A participação
do Estado caiu para 4,6%.
Em 2000, após ter suas últimas
quatro maiores aeronaves arrestadas, a empresa decidiu sair do
mercado de vôos internacionais.
No mesmo ano, Canhedo chegou a negociar a venda da Vasp
para a igreja evangélica Assembléia de Deus.
Nos anos seguintes, com uma
frota menor e com uma política
agressiva de promoções, a Vasp
voltou ao azul. Mas as aeronaves
antigas começaram a representar
um problema cada vez maior.
A entrada da Gol no mercado,
em 2001, também prejudicou a
empresa. Com uma estrutura enxuta, a Gol forçou a Vasp a competir com os baixos preços da
concorrente. A tentativa agravou
ainda mais a já combalida situação financeira da companhia.
A Vasp tinha, ao fim de 2003,
uma dívida de cerca de R$ 2,7 bilhões. A sua frota atual conta com
26 aeronaves, das quais 15 em
operação. A GE (General Electric)
pediu a falência da aérea. A boa
notícia da semana passada foi a
renovação, pelo governo, da concessão provisória que permite à
Vasp continuar a operar.
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