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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
EUA concentram poder para evitar declínio global
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
No momento em que a
geopolítica do presidente
Bush financia e dá apoio político
à nobreza da Arábia Saudita,
que por sua vez é a principal financiadora do terror anti-EUA,
o sistema de relações internacionais entra em curto-circuito
completo. Os extremos se tocam
de modo espantosamente evidente, convergindo na supremacia da violência como principal modo de manutenção da
atual ordem internacional.
Sem Guerra Fria, os EUA criaram um novo inimigo que é tão
global quanto a sua própria supremacia. Na economia, arma-se o mesmo tipo de situação. Em
princípio, o capitalismo não tem
mais adversário e portanto se estabeleceu de forma consolidada
e irreversível em escala global.
No entanto, essa vitória se faz
acompanhar de um declínio
econômico tão global quanto a
vitória do capitalismo selvagem.
Instituições multilaterais como a ONU e o FMI, passando
pelos bancos multilaterais e
agências de desenvolvimento,
tornaram-se inúteis, pois o que
vale é o império da força.
Além da inutilidade política,
tornaram-se incapazes economicamente. É fato que a dimensão gigantesca dos fluxos livres
de capitais globais tornam a capacidade de intervenção até
mesmo do FMI parecer pouco
mais que uma gota.
Os principais bancos centrais
são incapazes de se coordenar.
Na semana passada, depois de
uma surpreendente redução de
juros nos EUA, que jogou as taxas em seu nível mais baixo das
últimas quatro décadas, o Banco
Central Europeu decidiu que
não devia acompanhar o esforço
de Alan Greenspan, presidente
do Fed (banco central dos EUA).
O diferencial entre as taxas induz os capitais a se moverem em
busca da proteção e do rendimento oferecidos pelos Estados
europeus. O euro se valorizou.
A valorização do euro, no entanto, dificulta as exportações
européias, tornando ainda mais
nebuloso o futuro de trabalhadores na Alemanha, por exemplo. Os EUA, que reduziram os
juros na tentativa de tirar a economia da estagnação iminente,
tornam-se nesse contexto mais
competitivos. Mas como os
EUA vão exportar mais para os
europeus, com o câmbio desvalorizado, se o principal problema da União Européia é a falta
de crescimento?
Em resumo: sem coordenar
suas políticas de juros, EUA e
UE dificultam ainda mais a retomada do crescimento econômico mundial (o Japão continua
patinando). E a livre movimentação de imensos volumes de capitais internacionais torna-se o
mecanismo fiador, o elemento
mediador, frequentemente violento e sem compromissos de
longo prazo.
Há portanto uma simetria macabra entre o predomínio da
violência na geopolítica e a violência que resulta da supremacia
das finanças globalizadas sobre
o destino de todo o sistema internacional.
Essa proximidade não escapou ao olhar dos melhores analistas da economia mundial, como Michel Aglietta e André Orlean (http://www.cepii.fr/francgraph/publications/
livres/odilejacob/monnaieaglietta.htm).
Entre a violência e a confiança,
a moeda é o fato social total que
encerra em si a essência da
(des)ordem global.
O anúncio do corte histórico
dos juros nos EUA coincide com
a acachapante vitória do Partido
Republicano nas eleições do
meio de mandato do presidente
Bush, com base na retórica do
medo e da guerra. A maior economia do mundo se esforça para evitar o declínio com o uso simultâneo da força, da política
econômica e da convergência
das energias nacionais numa liderança conservadora.
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