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TRANSIÇÃO
Para analistas, Fundo não deve fazer novas exigências pelo menos agora
PT e FMI terão encontro de
'reconhecimento de terreno'
ÉRICA FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O encontro entre integrantes do
FMI (Fundo Monetário Internacional) e membros do novo governo será como "um reconhecimento de terreno". A definição de
Daniel Gleizer, que até fevereiro
passado era diretor de assuntos
internacionais do Banco Central,
resume bem o que pensam economistas do mercado e do próprio PT.
A expectativa é que o Fundo não
mude nem aumente as exigências
de desempenho da economia na
revisão do acordo que o Brasil
tem com a instituição, que ocorrerá durante as próximas duas semanas. A missão do FMI chega ao
país amanhã.
"É uma visita que tem um lado
de reconhecimento de terreno.
Acho que, para o Fundo, muito
mais importante do que mudar o
superávit primário agora é tentar
extrair da equipe de transição
uma informação que vai balizar
todas as projeções do futuro:
quais são as reais intenções de política econômica do próximo governo", afirma Gleizer, que, desde
agosto passado, é diretor da área
de mercado de capitais do Dresdner Bank.
Se, de fato, não houver mudanças, o superávit primário (esforço
fiscal) que o próximo governo terá de cumprir em 2003 continuará
sendo de 3,75% do PIB (Produto
Interno Bruto).
Argumentos
São dois os principais argumentos que sustentam essa tese. O primeiro é que, apesar de os principais indicadores macroeconômicos terem se deteriorado desde
agosto, quando foi fechado o último acordo, o cenário parece estar
se acalmando agora.
"O mercado financeiro viveu
uma fase muito tumultuada antes
das eleições, quando os preços
dos ativos se distorceram. Agora
as coisas estão melhorando", afirma o deputado federal Ricardo
Berzoini, um dos principais porta-vozes econômicos do PT.
Por isso, ele não aposta em uma
revisão de metas agora.
Para Sérgio Werlang, diretor do
Banco Itaú, não há motivo aparente para que a meta de superávit
mude agora. "A taxa de câmbio
está recuando e o Banco Central
fez um ajuste na taxa de juros suficiente para conter as pressões inflacionárias", disse.
Transição
Outra razão para postergar
qualquer alteração nos termos do
acordo é o fato de o país estar em
plena transição de governos.
A equipe de governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB) está se despedindo. E a do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva
(PT), ainda não está formada. Em
outras palavras, há dúvidas quanto à legitimidade que alterações
de contrato teriam a essa altura.
Além disso, dentro do PT, comenta-se que ainda não existe
nem um esboço de qual será a
equipe econômica do próximo
governo, que poderia discutir tecnicamente qualquer mudança.
Segundo um importante assessor econômico do PT, seria prematuro mudar as metas antes que
o próximo governo assuma.
Essa deverá ser a posição defendida pela cúpula do partido que se
sentará para conversar com a
equipe do Fundo.
Segundo informação já publicada pela Folha, a equipe do FMI
preferiria elevar o superávit fiscal
agora. Para o Fundo, isso seria um
sinal de austeridade que o próximo governo estaria dando ao
mercado. Mas tudo indica que a
equipe de negociação não vai se
opor em adiar essa discussão para
fevereiro de 2003, quando acontece nova revisão do acordo.
Reformas
Segundo a Folha apurou, o foco
principal das conversas do FMI
com a equipe de transição do PT
recairá sobre o programa do próximo governo para as reformas
tributária e previdenciária.
Gleizer, que acumulou experiência na negociação de acordos
internacionais nos três que esteve
no BC, diz que é importante que
essas reformas sejam discutidas:
"Essa discussão é fundamental.
A partir dela, o Fundo terá condições de avaliar melhor a capacidade de estabilização da relação entre a dívida do governo e o PIB
(hoje em 63%)", diz.
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