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SISTEMA FINANCEIRO
Em dez anos, país perdeu um terço das instituições financeiras; dez maiores detêm hoje 80% dos depósitos
Aumenta a concentração bancária no país
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
Nos últimos dez anos, o Brasil
perdeu 82 bancos. O número de
instituições caiu de de 246, em
1994, para 164, no ano passado,
segundo estudo recém-concluído
pela Febraban (Federação Brasileira de Bancos). Ou seja, em dez
anos, o número de bancos caiu diminuiu em um terço.
O processo de concentração
bancária não pára. De 2002 para
2003, o número de bancos encolheu de 167 para 164. Já o "spread"
(a diferença entre o custo de captação e o de empréstimo dos bancos) médio ficou praticamente estável, caindo de 42,46 pontos percentuais para 41,52 pontos, de
2002 para 2003. Em 1994, o
"spread" era de 139 pontos.
Segundo Roberto Luís Troster,
economista-chefe da Febraban e
responsável pelo trabalho, o número de bancos não é o melhor
termômetro da concentração
bancária, mas, seja qual for o indicador, a conclusão será a mesma.
Os dez maiores bancos, que em
2002 concentravam 67,2% dos
ativos, em 2003 ampliaram suas
participações para 74,5%. Já os
três maiores bancos do país aumentaram suas fatias no ativo de
38,2% para 47,3% no período.
Em relação ao total do crédito,
os dez maiores bancos aumentaram suas participações de 65%
para 76% de 2002 para 2003. O
salto dos três maiores bancos foi
de 35% para 45%. O mesmo ocorreu com os depósitos. Os dez
maiores bancos, que em 2002
concentravam 77% dos depósitos, passaram a ser responsáveis
por 80%. A participação dos três
maiores foi de 48% para 52%.
Troster argumenta que, nos últimos dez anos, houve mudanças
significativas na estrutura bancária. No período, o sistema sofreu a
maior transformação da história
com a estabilização (Plano Real),
a privatização de bancos públicos,
a abertura a bancos estrangeiros e
o saneamento dos bancos com
problemas de solvência.
Tendência
O número de bancos diminuiu
não só no Brasil como no mundo
inteiro, principalmente nos países
latino-americanos. Entre os anos
1995-2001, Brasil, Argentina, México e Chile viveram um processo
de concentração semelhante.
Segundo Troster, estudo recente do Banco Mundial mostra que
a taxa de concentração bancária
do Brasil em relação a vários países não é tão alta. O estudo leva
em consideração o período 1995-1999 e mostra que a concentração
brasileira é proporcionalmente
mais baixa que a média. No Brasil,
a média foi de 0,40, enquanto a
média dos 74 países foi de 0,60.
Quanto mais perto de 1, maior a
concentração bancária.
Segundo Erivelto Rodrigues,
presidente da Austin Rating, durante os anos de elevados índices
de inflação, os bancos ganharam
muito dinheiro com o chamado
"floating", que era caracterizado
pelas aplicações no "overnight"
com o dinheiro do depósito à vista. Os bancos ganhavam sem o
menor esforço.
A concentração bancária tem
relação direta com a estabilização
da economia. Após o Plano Real,
em 94, muitos bancos se mostraram ineficientes e desapareceram.
Nos últimos anos, os grandes
bancos começaram a incorporar
instituições menores que se mostraram eficientes em determinados nichos do mercado. Foi o caso
da compra do banco Zogbi, especializado em crédito direto ao
consumidor, pelo Bradesco, por
R$ 650 milhões.
Além disso, a saída de alguns
bancos estrangeiros, nos últimos
dois anos, contribuiu para aumentar a concentração. O processo continua. Erivelto Rodrigues
estima que, nos próximos cinco
anos, 20 bancos deixem de existir.
Para Rodrigues, o fato de aumentar a concentração bancária
no país não significa que não haja
competição entre os bancos. Ele
diz que existe, sim, competição. O
que não há é o hábito entre os
clientes de procurar os bancos
com as taxas mais competitivas.
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