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ATALHO RURAL
Cerca de 70% dos R$ 100 bilhões necessários para financiar a safra vêm de empresas, cooperativas e produtores
Crédito agrícola cresce à margem do governo
MARCELO SAKATE
DA REDAÇÃO
Único segmento da economia
brasileira em franca expansão, a
agricultura não depende do governo nem do sistema bancário
para financiar a maior parte da safra 2003/04. Cerca de 70% dos recursos necessários têm sido financiados por empresas, pelos
próprios produtores e até por
meio de um sistema de trocas.
Desse montante, pouco menos
da metade (ou 30% em relação ao
total de R$ 100 bilhões necessários
para financiar o setor) tem como
origem tradings (empresas que
negociam produtos agrícolas),
companhias de insumo ou instrumentos como as CPRs (Cédulas
do Produto Rural). A estimativa é
da Secretaria de Política Agrícola,
do Ministério da Agricultura.
Outros 40% vêm de recursos
dos próprios produtores. A modalidade tem crescido, segundo
analistas, na esteira das sucessivas
safras recordes desde 1999, dos
preços elevados das commodities
e da estabilidade da economia.
"As últimas safras e os bons preços dos produtos têm permitido
ao agricultor se capitalizar. Mesmo que não seja sempre mais barato, ele cada vez mais prefere investir do próprio bolso do que depender do banco", diz Robson
Mafiolette, assessor técnico e econômico da Ocepar (Organização
das Cooperativas do Paraná).
Presidente da Kepler Weber, líder do país no setor de armazéns,
Othon Cals de Abreu afirma que
70% das vendas da empresa em
2003 foram pagas com recursos
próprios dos produtores. "Os
agricultores reclamam da demora
e das garantias exigidas pelos
bancos para liberar os recursos."
O analista André Pessoa, da
consultoria Agroconsult, afirma
que o uso de recursos próprios
depende da região. "Em Estados
como Mato Grosso e Goiás, por
exemplo, ainda há muito financiamento via tradings. A capitalização tem ocorrido mais no Sul."
Esse financiamento é visto com
bons olhos por analistas na medida em que mostra a capacidade
do setor de encontrar alternativas
à escassez do crédito oficial. Mas
também existem empecilhos, como o fato de os produtores arcarem sozinhos com os riscos.
Nos últimos anos, as opções para financiar a produção agrícola
têm se fortalecido. A CPR, criada
em 1994, é um dos principais instrumentos. Ela funciona como
um título e permite ao agricultor
custear a safra por meio da venda
antecipada de produtos que serão
colhidos. As cédulas do produto
passam pelo aval de bancos e destinam-se a investidores finais.
Existem as cédulas física, no
qual o pagamento é feito com o
próprio produto, e a financeira,
quitada com dinheiro.
O Banco do Brasil, principal instituição financeira a dar aval às
CPRs, prevê dobrar o total avalizado em 2004, para R$ 3 bilhões.
O valor já havia dobrado em 2003.
Produtor de milho e cana-de-açúcar em São Paulo, de soja em
Goiás e de batata em Minas Gerais, Mário Carvalho Dias, 48, diz
que deve financiar 60% do custeio
da atual safra por meio de CPRs.
"Para um produtor maior, os
R$ 200 mil [limite de crédito na linha oficial do governo para quem
planta soja] têm um peso pouco
significativo", afirma Dias.
O empecilho às CPRs são os juros, maiores que os do crédito rural oficial, de 8,75% ao ano. Analistas estimam esses juros em torno de 20% ao ano, na média, percentual que já inclui a taxa de administração pelo aval.
Para evitar o pagamento à instituição financeira, produtor e
comprador podem acertar diretamente a transação: são as CPRs de
"gaveta". Não há dados oficiais,
mas se estima que o volume delas
supere o das cédulas "oficiais".
Outro instrumento usual é o da
compra de insumos com intermediação das cooperativas. Waldomiro Bognar, vice-presidente
da Coopermibra (Cooperativa
Mista Agropecuária do Brasil),
com sede em Campo Mourão
(PR), diz que os fornecedores oferecem insumos com taxas de juros de até 2% ao mês.
Colaborou José Alan Dias, da Reportagem Local
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