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São Paulo, domingo, 11 de maio de 2003

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TANQUE SEM FUNDO

Veículos leves consomem 40% do óleo no país e têm pior média de consumo de combustível desde 81

EUA tentam conter dependência do petróleo

Jeff Kowalsky/France Presse
Executivos da GM com carro movido a células de hidrogênio


ROBERTO DIAS
DE NOVA YORK

É como um comercial normal de carro. Com o veículo coberto, o locutor entra em ação: "É o primeiro carro construído para a estrada e para o mundo ao redor. Pode levar a América ao trabalho pela manhã sem mandá-la para a guerra à tarde, com um sofisticado sistema de frenagem que pára nossa dependência do petróleo estrangeiro. Faz 40 milhas por galão [17,2 quilômetros por litro" e economiza milhares de dólares na bomba. O único problema é: Detroit não vai produzi-lo".
A propaganda, levada à TV americana na última semana por uma ONG, aproveita o barulho criado por um estudo recém-divulgado pelo governo americano. Sua conclusão: em 2002, os veículos leves vendidos nos EUA tinham a pior média de consumo de combustível desde 1981.
Mais que problema para o bolso dos consumidores, os 7,7 quilômetros por litro na cidade são questão geopolítica para o país que mais importa petróleo no mundo, e o debate troca os postos de gasolina pelos gabinetes.
São duas as discussões principais. A primeira, recorrente, tenta achar uma alternativa ao petróleo. O governo Bush acena com investimentos na pesquisa das células de hidrogênio, o mercado ensaia passos no campo dos carros híbridos. De qualquer forma, isso levaria tempo para produzir resultado.
A segunda discussão, mais imediata, tenta diminuir as importações americanas de petróleo baixando o consumo dos carros.
Do consumo mundial de petróleo, um quarto ocorre nos EUA. Desse volume, 40% são usados pelos veículos leves, classificação que se divide em dois grupos: o dos carros e o dos chamados "light trucks", que agrupa utilitários esportivos, picapes, vans e minivans.
É esse último grupo o responsável pelo aumento no consumo de combustível nos EUA nesses 22 anos, segundo os dados da Environmental Protection Agency.
O problema não é que os "light trucks" tenham aumentado seu consumo -ele ficou estável, só que maior do que o dos carros. Fizeram a média geral baixar porque sua venda cresceu muito. Tinham 24% do mercado há 20 anos. Hoje detêm o dobro.
Nesse ponto, porém, a matemática simples dá lugar a uma conturbada discussão entre ambientalistas, consumidores, fabricantes de veículos e governo.
A indústria diz que não pode mudar o gosto dos consumidores, que penderam para o lado dos utilitários esportivos, já donos de um quarto do mercado.
"Os fabricantes oferecem mais de 50 modelos com índices acima de 30 milhas por galão [12,9 quilômetros por litro", mas os consumidores compram poucos desses veículos", informa a Alliance of Automobile Manufacturers, associação da indústria de carros.
Os consumidores de utilitários esportivos, por sua vez, cansados de ouvir acusações como a que de "fomentam o terrorismo", fundaram sua própria associação.
"Estudos mostram que é possível sim reduzir o consumo. Mas há um preço a pagar, com aumento do custo do carro, redução da performance e diminuição do tamanho, o que diminui sua segurança", diz Ron de Fore, diretor da SUV Owners of America, associação dos donos de utilitários esportivos do país. "Vamos colocar isso para os consumidores e ver como eles se sentem."
Já as ONGs pressionam para que o governo reveja as antigas metas de consumo -que têm números bem menos rígidos para utilitários esportivos e foram criadas em 1975, após a primeira crise do petróleo, quando a venda de carros de passeio ainda liderava com folga as vendas.
Agora, para pressionar por mudanças, o governo quer erguer as metas dos "light trucks" para forçar os fabricantes a melhorarem o consumo dos veículos.
A Casa Branca propõe erguer as marcas em 0,7 km/l em cinco anos -número que os ambientalistas acham muito pequeno, mas os fabricantes consideram grande demais.

Hidrogênio
Na última quarta-feira, a General Motors entregou a deputados americanos seis carros impulsionados pela energia de células de hidrogênio, que ficarão com eles durante dois anos.
É mais uma etapa para tentar engrenar a máquina pública num projeto lançado no início do ano pelo presidente George W. Bush: colocar um carro movido a hidrogênio para andar nas estradas americanas até 2015.
Os obstáculos até lá, porém, são muitos. Por exemplo: cada um dos carros, mesmo tendo sido montados a partir de um veículo comum, custa US$ 1 milhão.


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