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LUÍS NASSIF
Nosso amigo Esmê
Esmeraldino é uma das
lendas mais consistentes e
desconhecidas do choro nacional. Cavaquinhista, compositor,
conheci-o em 1978, durante o
Festival do Choro da TV Bandeirantes, pouco antes de ele
morrer. Fui cumprimentá-lo, ele
me convidou para uma rodada,
mas a conversa ficou nisso. Morreu no ano seguinte.
Apresentada no festival, sua
música "Arabiando" era um
primor de complexidade, herdeira da geração do início dos
anos 50 que promoveu a modernização do choro. Do regional
que o acompanhou, participava
o João Macacão, meu amigo e
companheiro de noitadas.
Esmeraldino era do time de
Severino Araújo, Guio de Moraes, Radamés, K-Ximbinho,
Luiz Americano, Orlando Silveira e outros instrumentistas
que foram beber na grande evolução do jazz no pós-guerra,
ajudando a renovar o choro.
Era um negro retinto, alegre,
dono de um sorriso largo. Em
1980, eu já no "Jornal da Tarde",
o crítico e produtor Armando
Aflalo me deu a honra de escrever a contracapa do mais importante disco de choro do período: o "São Paulo no Balanço
do Choro - Ao Meu Amigo Esmê", que transportou o pianista
Laércio de Freitas ao panteão
dos gênios da música instrumental brasileira.
O "amigo Esmê" era Esmeraldino. Egresso da rádio paulistana e da TV Tupi, assim como
Armandinho, o violonista redescoberto pelo jornalista Sérgio
Gomes nos anos 70, fez parte de
um grupo de músicos talentosos,
mas que não tinham uma caixa
de ressonância como o Rio para
fazer ecoar seu trabalho.
Laércio conheceu Esmeraldino aos 11 anos, quando sua mãe
o levou para assistir ao "Gurilândia", programa de auditório
da rádio Tupi. Desde então, Esmeraldino transformou-se em
referência maior de Laércio e
responsável pelo primeiro cachê
recebido por ele, aos 16 anos.
Não foi o único gênio formado
por Esmeraldino. O acordeonista Orlando Silveira foi outro. A
parte mais substanciosa da obra
de Esmeraldino, aliás, foi uma
série de parcerias com Orlando
Silveira, o grande mestre do instrumento ao lado de Chiquinho
do Acordeom, mas que ganharia projeção nacional só depois
de ele se mudar para o Rio de Janeiro, onde firmou reputação
também como grande arranjador. Nos anos 90, um mês antes
de sua morte, entrevistei Orlando em seu apartamento no Rio.
Na entrevista, falou bastante de
sua parceria com Esmeraldino.
Agora, o conjunto Um x 0,
com o qual tive a honra de tocar
domingo desses no bar Piratininga, da Vila Madalena, acaba
de lançar "Tributo a Esmeraldino", um CD particular, aliás como 90% dos CDs relevantes que
estão sendo lançados no país, e
com dez composições inéditas
do mestre. O conjunto foi criado
por Osvaldo Colagrande, que
assina as oito composições restantes, sozinho ou em parceria
com Esmeraldino, e que integrou o conjunto de Esmeraldino
na rádio Tupi, em 1957.
No início de carreira, Esmeraldino participou do regional
do Rago -violonista- e do
clarinetista Siles. Depois, formou o Conjunto Moderno Siles
Esmeraldino e passou a chefiar
o Conjunto da Tupi. Além de
cavaquinho, tocou violão e contrabaixo acústico. E, especialmente, o violão dinâmico, onde
interpretava "standards" do
jazz que muito o influenciaram,
especialmente Benny Goodman
e Louis Armstrong.
É desse período sua parceria
com Orlando Silveira, que gerou
obras-primas como "Noites do
Sumaré", "Equilibrando", "Dedilhando", "Perigoso", e que Orlando relançaria em 1979, no LP
"Ontem, Hoje e Amanhã".
Hoje em dia, nem todos -só
os melhores- ousam interpretar outras preciosidades como
"Bons Tempos", "Moderno",
"Por Acaso", "É Isso Aí, Bicho!".
É uma das figuras referenciais
do choro moderno brasileiro.
E-mail - lnassif@uol.com.br
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