São Paulo, domingo, 11 de agosto de 2002

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MEGAPACOTE

Mas liberação dos US$ 24 bi dependerá do cumprimento das metas

Socorro do FMI cobre buraco das contas externas em 2003

NEY HAYASHI DA CRUZ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA


Graças ao novo socorro oferecido pelo FMI (Fundo Monetário Internacional), o Brasil não deve ter dificuldades para fechar suas contas externas no ano que vem. A linha de crédito acertada na semana passada será suficiente para cobrir mais da metade das necessidades de financiamento do país em 2003.
Na quarta-feira passada, o FMI anunciou um novo acordo com o Brasil, o terceiro em quatro anos. Pelo entendimento, o país terá direito a um financiamento no valor de US$ 30 bilhões, que poderá ser sacado em parcelas ao longo dos próximos 15 meses. Até o final deste ano, o país poderá sacar US$ 6 bilhões, em duas parcelas. Como previsto em todos os acordos, o direito à liberação dos recursos ocorre após técnicos do FMI confirmarem que o país cumpriu as metas negociadas. Ou seja, o saque das parcelas de 2003 dependerá do cumprimento das metas.
O dinheiro do FMI, US$ 24 bilhões no próximo ano, vai cobrir boa parte dos US$ 45,8 bilhões de que o Brasil necessita para equilibrar seu balanço de pagamentos em 2003, reduzindo a preocupação de que possa haver uma fuga de dólares do país que torne as contas externas insustentáveis.
Segundo o Banco Central, o Brasil deverá pagar US$ 26,1 bilhões em parcelas da dívida externa no ano que vem. O número se refere aos compromissos do governo e do setor privado. Além disso, de acordo com levantamento feito pelo BC entre bancos e consultorias, o déficit em transações correntes deverá ficar em US$ 19,7 bilhões no ano que vem.
O saldo das transações correntes é formado pela soma dos resultados da balança comercial (exportações menos importações), balança de serviços (viagens internacionais, gastos com juros e remessas de lucros para o exterior, entre outros) e transferências unilaterais (dinheiro enviado para o país por residentes no exterior, e vice-versa).
Somados, o déficit em transações correntes e os pagamentos da dívida externa representam o total esperado de saída de dólares. Ou seja, precisam ser compensadas por ingressos de capital de igual valor para que o balanço de pagamentos fique equilibrado.
Os US$ 24 bilhões do FMI representam 52% do total de recursos que o Brasil precisa para fechar suas contas. O dinheiro só pode ser sacado se o governo cumprir as metas previstas no acordo, como a obtenção de superávit primário de 3,75% do PIB (Produto Interno Bruto). Nos últimos quatro anos, porém, não houve problemas em relação ao cumprimento de metas.
Os US$ 21,8 bilhões restantes necessários para equilibrar o balanço de pagamentos podem entrar no país de duas formas: por meio de investimento estrangeiro direto e por meio de novos empréstimos que podem ser obtidos por empresas ou pelo governo.

Equilíbrio delicado
O mercado espera que o Brasil receba US$ 18 bilhões em investimento estrangeiro em 2003. Se a projeção se confirmar e se o Brasil realmente sacar os US$ 24 bilhões do FMI no ano que vem, restará apenas uma pequena parcela que precisará ser obtida com financiamento internacional.
No ano passado, o dinheiro emprestado pelo FMI foi importante para o equilíbrio das contas. O país precisou de US$ 58,4 bilhões para fechar suas contas, sendo que US$ 6,6 bilhões vieram do acordo fechado com o Fundo. Num regime de câmbio flutuante, um desequilíbrio no balanço -ou seja, saída de dólares maior do que o ingresso- pode ser resolvido com uma alta do dólar. Nesses casos, a desvalorização do real estimula as exportações e desestimula as importações.
Isso significa que mais dólares passam a entrar no país, o que acaba amenizando o desequilíbrio inicial entre ingressos e saídas de capital.


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