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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Nacionalismo e Estado ganham força na Cepal
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
A reação à globalização
ganha força a cada dia.
Na semana passada foi a vez da
Cepal (Comissão Econômica
para a América Latina e o Caribe), que deu peso expressivo à
defesa de políticas nacionais e
regionais em seu encontro bienal. O documento apresentado
("Globalização e Desenvolvimento") está disponível em
www.eclac.cl.
As políticas de liberalização
(comercial, financeira, de investimentos e tecnologias) recebem os elogios de praxe, mas a
insuficiência das políticas de estabilização é declarada abertamente. Para tentar corrigi-las,
os técnicos da Cepal defendem
políticas setoriais centradas no
interesse nacional e a mobilização de redes políticas regionais.
Claro que a própria Cepal se
candidata a ser o cérebro articulador dessas redes.
Uma nota pessoal: há uns dois
anos, em seminário na própria
Cepal, tive uma discussão bastante acesa com uma das suas
técnicas, que contribuiu para a
elaboração desse documento
publicado na semana passada.
Na época, ela rejeitava totalmente a visão intervencionista
tingida por argumentos de teor
nacionalista.
Agora, Bárbara Stallings, diretora da Divisão de Desenvolvimento Econômico da instituição, subscreve uma abordagem
da globalização que põe em evidência a necessidade de "estratégias nacionais para a globalização".
Em termos práticos, isso reflete uma "lição essencial da história": não basta resistir à globalização, é preciso agir, construindo uma agenda positiva.
Ainda mais decisiva é a forma
de construir essa agenda. Em
contraste com as receitas do
FMI, por exemplo, os técnicos
da Cepal agora insistem no fato
de que não há "modelos de validade universal". Isso vale tanto
para as políticas macroeconômicas quanto para as estratégias de investimento e de promoção da competitividade, as
políticas ambientais e os modelos de proteção social.
Conclusão: há um "amplo
campo de ação para a aprendizagem institucional", pois "um
dos grandes erros cometidos no
último quarto do século 20 foi
fomentar a adoção de soluções
únicas em todos esses campos,
baseadas no princípio de máxima liberalização dos mercados".
E mais: a tendência a "equiparar integração bem-sucedida no
mundo global com liberalização econômica leva a ignorar a
natureza de muitas estratégias
igualmente bem-sucedidas que
não se baseavam na liberalização irrestrita dos mercados,
mas em diversas formas de articulação virtuosa de Estado e
mercado".
Resta saber quais serão os
agentes econômicos e políticos
capazes de promover e sustentar essa "articulação virtuosa".
Há dois problemas simultâneos. Um é definir o que é "virtuoso". Outro, ainda mais complicado, é identificar quem faz a
pretendida articulação.
É virtuoso, por exemplo, buscar a competitividade com base
no conhecimento.
A virtude também está na
cooperação, pois a competição
centrada nos esforços "isolados
das empresas" é insuficiente.
Finalmente, a virtude está na
ação do Estado, pois o "desenvolvimento de bons mercados
de tecnologia e de encadeamentos produtivos depende, em
grande medida, dos esforços
conscientes do Estado, das associações empresariais e, especialmente, das formas de colaboração entre o Estado e o setor
privado".
É quase um anticonsenso de Washington ou, nas atuais circunstâncias do poder mundial, um consenso anti-Washington.
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