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FINANÇAS
Instituições estrangeiras conquistam fatia de depósitos das nacionais
Banco de fora triplica participação
CHICO SANTOS
DA SUCURSAL DO RIO
A participação do capital estrangeiro no sistema bancário
brasileiro mais que triplicou nos
anos 90, dependendo do critério
usado para fazer a medição. Mas,
pelo menos em relação ao total de
ativos, a presença estrangeira no
Brasil só é maior do que no México, entre os sete países mais populosos da América Latina.
Pelo critério dos ativos, a participação no Brasil passou de 9%
para 21% de 1996 para 1999. Pelo
patrimônio líquido, houve um
salto de 7,5% para 25,9%. Já pelo
critério da fatia do mercado de
bancos, a presença estrangeira
passou de 7,1% para 23,3%.
Em relação a outros países da
América Latina, o crescimento da
participação estrangeira no total
de ativos dos bancos foi modesta.
Na Argentina, a evolução foi de
17,9% em 1994 para 48,6% em
1999. No Chile, de 16,3% para
53,6% no mesmo período. Na Venezuela, o salto foi ainda maior,
de 0,3% para 41,9%.
Os números constam do trabalho "Liberalização Financeira no
Brasil no Período 1990-2000: Revisão da Literatura, Fatos e Implicações", que acaba de ser concluído pelos economistas Fernando
Blumenschein, da FGV (Fundação Getúlio Vargas) e da USP
(Universidade de São Paulo), e
Ana Carla Costa Guinle.
Blumenschein disse que, desde
1999, as alterações não têm sido
significativas a ponto de mudar o
quadro geral. No Brasil, o único
fato relevante foi a compra do Banespa pelo espanhol Santander.
O economista avalia também
que a crise da Argentina ainda
não provocou alteração significativa na composição do sistema
bancário do país vizinho. "A crise
argentina é macroeconômica,
não é uma crise bancária", diz.
Em relação ao total de depósitos, a participação dos bancos estrangeiros no Brasil passou de
9,1% no início da década para
17,5% em 1999.
Apesar das privatizações, o
avanço dos estrangeiros sobre os
depósitos roubou fatia dos bancos privados nacionais, cuja participação no total caiu de 33,4% em
1990 para 26,4% em 1999. Os depósitos em bancos estatais ficaram estáveis, em cerca de 50%.
Já em relação ao total de bancos,
o crescimento estrangeiro ocorreu sobre a fatia dos estatais. A
participação destes caiu de 61,3%
para 43,3% no período estudado.
Também no critério do patrimônio líquido foram os estatais que
perderam terreno. A participação
destes caiu de 51,9% para os mesmos 25,9% dos estrangeiros.
Blumenschein avalia que o
avanço do capital estrangeiro representou um salto de qualidade
para o sistema financeiro do Brasil. Cresceu a competição, contribuindo para redução de 20% nos
custos administrativos de 1994 a
1999, tornou o sistema menos vulnerável a crises e melhorou a eficiência da alocação de crédito em
relação aos bancos estatais.
"Há quem diga que a alocação
de crédito dos bancos estrangeiros privilegia o financiamento a
exportações, em detrimento do
capital de giro para as empresas
que vendem no mercado interno.
No caso brasileiro, não há evidência de que isso esteja ocorrendo."
No trabalho sobre a liberalização financeira, os autores consideram que, ao longo dos anos 90,
a legislação brasileira foi sempre
liberalizante, com exceção de medidas de curto prazo, como as tomadas para o controle de capital
volátil em momentos de crise.
A respeito do controle de capitais de curto prazo, Blumenschein
considera que a experiência internacional mostrou que, salvo em
momentos de crise, as políticas
com esse objetivo acabam tornando-se inócuas.
"O mercado sempre encontra
formas de driblar as medidas, que
acabam servindo apenas para aumentar os custos da intermediação financeira", afirmou.
O trabalho dos economistas cita
vários estudos internacionais que
relacionam a liberalização financeira com crises bancárias sistêmicas. A receita para evitar que isso ocorra é ter um aparato forte
para regular o mercado.
Sobre isso, eles concluem que,
apesar de a adequação do sistema
de fiscalização brasileiro ainda ser
deficiente, embora em evolução, é
"difícil determinar se o processo
de liberalização de alguns aspectos do sistema financeiro no período 1990-2000 aumentou a probabilidade de crise bancária".
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