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TRABALHO GLOBAL
Empresas especializadas ajudam na integração e na segurança de executivos e suas famílias no Brasil
Executivo estrangeiro cria rede de proteção
SANDRA BALBI
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma rede de proteção e de serviços cerca os executivos expatriados por multinacionais para
trabalhar no Brasil. Eles são parte
de um contingente de mais de 14
mil estrangeiros que, até agosto,
obtiveram visto do Ministério do
Trabalho e Emprego para trabalhar no país.
Esse grupo de elite está muito
distante da figura mítica dos antigos imigrantes que desbravaram
o mercado local vencendo dificuldades no peito e na raça. Hoje, os
expatriados contam com grupos e
clubes de apoio, podem malhar e
fazer terapia em inglês e têm até
uma rede de empregados domésticos que só trabalham para estrangeiros. Um luxo para quem,
nos países de origem, lavava a
própria louça.
As multinacionais, além de terem uma estrutura de apoio para
receber e orientar os expatriados,
ainda oferecem os serviços de empresas especializadas na integração dos executivos e de suas famílias à cultura local.
Essas empresas são verdadeiras
babás das famílias estrangeiras:
de aulas de história para entender
o novo mundo a um "tour" por
supermercados e shoppings para
orientar as primeiras compras
quase nada escapa de seu pessoal
- todos poliglotas, claro.
Nem por isso a vida de quem
chega dos EUA, Inglaterra, França ou Alemanha é um mar de rosas. "Os expatriados estranham o
tamanho da cidade, o tempo que
se demora para fazer tudo em São
Paulo, o trânsito louco e a violência. Muitos, após dois ou três meses, entram em depressão", diz
Celina Sampaio, gerente administrativa da American Society.
A entidade, criada há 54 anos,
para promover a cultura americana, mantém uma rede de trabalhos comunitários. O voluntariado funciona como terapia ocupacional e via de integração das esposas dos executivos na comunidade. E também de alguns maridos de expatriadas.
Carreira e família
A presidente da Timken, Christelle Orzan, 40, chegou a cogitar a
abrir mão da proposta que a empresa lhe fez, há dois anos, para
assumir o comando das operações no Brasil.
Para Christelle galgar um novo
degrau na carreira - era diretora
de marketing da Timken nos
EUA- seu marido Yannick Orzan, teve de deixar o emprego e
acompanhá-la nessa travessia.
"Tomamos a decisão juntos, mas
se fosse o caso eu abriria mão do
convite pela família", diz ela.
No primeiro ano no Brasil, desempregado, Yannick ocupou-se
dando aulas de informática e inglês na Casa do Menor, em Santo
Amaro, participando do voluntariado da American Society.
"Quando chegamos ficamos chocados com tanta desigualdade no
país. Ele viu a oportunidade de
dar algo de si", diz.
Como quase todos os expatriados, os Orzan também se espantaram com os riscos de segurança,
conseqüentes da desigualdade social que descobriram. "Até hoje
meu marido não quer que eu vá
sozinha ao shopping, tenho carro
blindado e não uso bolsa quando
ando a pé nas ruas", diz.
A violência é a primeira coisa
que vem à cabeça dos executivos
estrangeiros quando convidados
a se transferir para o Brasil. E, enquanto permanecem no país continua sendo uma preocupação
constante. "A violência, aqui, é
opressiva. Tenho um carro blindado, pois há coisas, como um assalto, que não se pode prever", diz
Thomaz Crane Trynin.
Ele vive no país há oito anos e
fincou raízes. Veio para montar a
subsidiária local da PageNet, que
domina o mercado de "pagers"
nos EUA, quando a telefonia celular local ainda engatinhava. Em
2000, casou-se com uma das primeiras funcionárias que recrutou.
Apesar de ter se "abrasileirado",
Trynin diz que ainda estranha a
forma de se fazer negócios no
país. Hoje ele tem sua própria empresa, de comércio exterior, e ainda luta com as diferenças de cultura. "Nós, americanos, somos
muito diretos. Fechamos um negócio em cinco minutos; já os brasileiros são desconfiados, cheios
de rodeios. Para romper essa barreira temos de ser apresentados
por uma pessoa da confiança do
interlocutor", diz ele.
Segurança
A preocupação com segurança é
o principal item nos pacotes de
serviços que as multis contratam
para relocação de seu pessoal.
"Curso de direção defensiva é um
item obrigatório", conta Ana Maria Linhares Giesbrecht, sócia da
Focal Point, especializada na relocação de executivos estrangeiros.
A escolha do bairro e do tipo de
imóvel onde morar também é
norteada pela mesma preocupação. Algumas empresas de segurança chegam a fazer auditorias
nos imóveis, para conferir o seu
grau de inviolabilidade.
Peter von Wartemberg, gerente
de controle econômico da unidade de sistemas a gasolina da
Bosch, com sede em Campinas,
conta que morou cinco meses em
um hotel, com a mulher, Andrea,
pois teve dificuldade de encontrar
um imóvel que atendesse às exigências do casal.
"Temos um cachorro, por isso
precisávamos morar em uma casa, mas queríamos segurança",
diz ele. Wartemberg acabou alugando um imóvel em um condomínio fechado em Vinhedo, cidade vizinha a Campinas. "É muito
seguro, nossa vida, agora, é entre
condomínios onde moram muitos expatriados."
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