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Crianças mostram dificuldade em aprender; mulheres ficam perdidas
DA REPORTAGEM LOCAL
As mulheres e as crianças são as
que mais sofrem no processo de
expatriação. "As mulheres, acostumadas a trabalhar no país de
origem, chegam aqui e ficam perdidas. Ocorre uma mudança de
papel e perda de identidade", relata a psicoterapeuta Pamela
Wax, que atende expatriados.
A mudança de cultura, segundo
ela, perturba a educação das
crianças. No país de origem, elas
arrumavam a própria cama, mas
no Brasil têm domésticas para
servi-las. "A nova vida mexe com
os valores de origem da família."
Outro tipo de novidade - a escola particular- também afeta os
pequenos. Eles pertencem a famílias de classe média e vêm de escolas públicas. Mas aqui passam a
freqüentar os colégios ingleses e
americanos, onde também estudam os filhos da elite local.
O medo de não ter um desempenho à altura do novo modelo
provoca distúrbios físicos e emocionais. "As crianças ficam nervosas, com medo da nova situação,
pois não entendem a língua. Procuram faltar às aulas, têm dores
de barriga e de cabeça", conta.
Um psicólogo que atende famílias de expatriados, e prefere não
se identificar, relata casos de mudanças de comportamento, irritabilidade e dificuldades de aprendizado nas crianças, por conta das
mudanças. Elas também manifestam ansiedade e tristeza por terem deixado para trás os amigos,
primos e avós. Têm saudades até
do quarto da casa antiga. "Esses
problemas podem durar de três a
seis meses. Depois, elas se adaptam", diz Wax.
Se o expatriado tem filhos adolescentes, a situação ferve. "Eles
demoram mais para se adaptar,
pois deixaram namorados e amigos aos quais são muito unidos",
acrescenta. Nos primeiros meses
a garotada passa o dia plugada na
internet, em salas de bate-papo
com os amigos do país de origem.
"Os pais não se conformam."
As dificuldades de adaptação
atingem inclusive alguns executivos. Segundo um psicólogo que
atende expatriados, eles se sentem
fora do seu ambiente e acabam
apresentando dificuldades para
dormir, ansiedade e ataques de
pânico. Ele relata vários casos de
depressão e de abuso de bebidas
alcóolicas.
Para Ana Maria Linhares Giesbrecht, sócia da Focal Point, o estresse da mudança de ambiente
acaba levando as pessoas a superdimensionar os problemas. "Um
dos nossos clientes entrou em pânico porque uma das paredes do
apartamento começou a apresentar manchas de bolor. Ele alegava
que estava correndo sério risco de
saúde, mas o mofo foi só o detonador de uma crise de insegurança com a nova situação."
Segundo Giesbrecht, "no caso
do Brasil não há meio-termo: ou
os expatriados odeiam ou adoram o país". O que todos amam
são as mordomias inexistentes
nos países de origem. O que
odeiam: a violência e o trânsito.
Para Jenny da Costa, 36, inglesa
apesar do sobrenome, a primeira
impressão de São Paulo -"feia,
grande e caótica"- foi substituída pelo encantamento após quase
dois anos na sede local do JP Morgan. "Saio às 6h de casa para evitar o trânsito e aproveito para fazer ginástica todos os dias e ir à
manicure, coisas que não conseguia fazer em Londres", diz. (SB)
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