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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Exclusão digital limita a inserção global do Brasil
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
Um complexo de tecnologias determinantes do futuro das economias, dos governos e das sociedades, conhecido
como "tecnologias de informação e comunicação" (TICs), está
subdesenvolvido no Brasil.
Segundo o "Mapa da Exclusão
Digital" publicado na semana
passada pela FGV-RJ, em parceria com o Comitê para a Democratização para a Informática
(CDI), a Sun Microsystems e o
programa USAID, há no país
150 milhões de excluídos. Apenas 12,46% dos brasileiros têm
computador em casa. E o percentual dos que estão conectados à internet é de apenas 8,31%.
O problema, no entanto, pode
ser muito mais grave do que o
mapa deixa transparecer. A
questão de fundo é técnica e metodológica, mas também política e empresarial.
Como em todo o mundo essas
TICs estão mudando muito rapidamente, os indicadores disponíveis provavelmente deixam
de captar boa parte do processo
de exclusão. Ou seja, há novas
formas de exclusão. Além disso,
há desafios tecnológicos que estão muito além do número de
máquinas instaladas em lares,
escritórios ou telecentros.
O desafio estratégico maior,
imposto pelas tendências tecnológicas globais, é incluir as pessoas e organizações em redes.
Colocar à disposição dos
"sem-micro" computadores
sem conexão a redes digitais interativas, por exemplo, é perda
de tempo.
Mas no Brasil ainda se gastam
muitos recursos (públicos e privados), tempo e saliva nesse tipo
de inclusão primária e potencialmente inútil. A inclusão digital não será determinada pela
máquina, embora os novos modos de organizar empresas, governos e países exijam de fato a
produção de novas máquinas de
informar e comunicar.
Indicadores como a disponibilidade de máquinas em residências devem ser encarados
com enorme cautela. Parece
apenas mais um dado "inocente", mas valorizar esse indicador
significa contrabandear um modelo de sociedade da informação talvez relevante nos EUA,
mas inviável no Brasil. Fotografar a inclusão digital exige uma
câmera com lentes focadas num
horizonte pertinente.
Há outras tendências internacionais que exigem uma ampliação do foco quando se fala de inclusão digital. A computação
distribuída e onipresente (conhecida como "ubiquitous
computing") e principalmente a
visão da convergência digital
que faz da televisão um meio de
acesso mais significativo que o
"micro" são dois exemplos óbvios e que colocam em cena setores industriais nas áreas de telecomunicações e eletrônica que
vão muito além do fabricante de
computadores e de softwares
para o seu uso.
Aliás, a Sun, empresa que patrocina o mapa da FGV, do CDI
e da USAID, sempre adotou como lema a idéia de que "a rede é
o computador".
Formar redes de informação e
comunicação é um desafio estratégico que exige mudanças
organizacionais e culturais que
vão muito além de saber digitar
num teclado ou dominar um
software de navegação na internet ou datilografia digital.
É também óbvio que o destino
de setores inteiros pode estar em
questão, pois nada garante que
as redes digitais interativas da
TV futura coincidam com os
modelos de negócios hoje vigentes na rede de canais abertos da
TV comercial.
Enquanto não houver políticas fortes de formação de redes e
indicadores socioeconômicos
correspondentes, a presença de
mais ou menos PCs no país pode até causar algum alarme, sem
que o caminho para superar o
atraso seja mesmo trilhado.
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