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ARTIGO
México precisa de um choque
DAVID HALE
ESPECIAL PARA O "FINANCIAL TIMES"
Um dia , os historiadores
do México talvez possam
argumentar que o país avançou
economicamente com base em
ganhos inesperados e avançou
politicamente com base em desastres, como o principal historiador econômico da África do
Sul descreveu o país nos anos
30. C.W. de Kieviet estava se referindo às grandes descobertas
sul-africanas de ouro do final
do século 19. No caso do México, os ganhos inesperados do
século 20 vieram do petróleo.
Os dois choques que deram
forma à história política mexicana foram a revolução de
1910-1916 e o colapso do comunismo em 1989. A revolução
gerou muitos anos de conflitos
civis e abriu caminho para um
Estado de partido único. Sob o
PRI (Partido Revolucionário
Institucional), o México desenvolveu uma economia corporativista. A política econômica
mudou dramaticamente nos
anos 80, devido à crise da dívida e ao colapso do comunismo.
Depois que assumiu a Presidência, em 1989, Carlos Salinas
começou a promover o México
como destino do capital internacional. Mas, no Fórum Econômico Internacional de Davos, em 1990, descobriu que os
investidores estavam entusiasmados com a Europa Oriental,
e não com a América Latina.
Decidiu apostar em um novo e
audacioso conceito: o Nafta
(Tratado de Livre Comércio da
América do Norte).
O Nafta ajudou a transformar
a economia e o sistema político
do México. As exportações subiram de 15% do PIB, em 1985,
a quase 30% no ano passado. O
investimento estrangeiro direto subiu de US$ 4 bilhões ao
ano para US$ 14 bilhões. Por
meio da liberalização econômica, o sistema político se tornou
mais aberto. O PRI perdeu o
controle do Congresso em
1997, pela primeira vez desde o
final da década de 20, e em 2000
o país elegeu o primeiro presidente de outro partido.
O choque que pode agora
romper o impasse político que
emperra as reformas é a ascensão da China. A elite mexicana
teme que a China em breve ultrapasse o país como segundo
maior parceiro comercial dos
EUA. Por isso, o México foi o
último país a aprovar a adesão
chinesa à Organização Mundial do Comércio, em 2001.
As preocupações são legítimas. As indústrias perderam
mais de 200 mil empregos desde 2000, em parte porque empresas transferiram produção
para a Ásia. Os custos trabalhistas do México são três vezes
superiores aos da China. A eletricidade mexicana é o dobro
da chinesa, devido a uma falta
de investimentos no setor. O
México depende pesadamente
de exportações de produtos
tradicionais, como automóveis
e televisores, enquanto companhias chinesas vêm expandindo as exportações de alta tecnologia. Os investimentos estrangeiros diretos no México
são de US$ 14 bilhões ao ano,
enquanto na China o total atinge US$ 55 bilhões, US$ 16 bilhões no setor de tecnologia.
A questão para o México é
determinar se a China vai precipitar uma mudança econômica tão dramática quanto a
viagem de Salinas a Davos. Caso não haja um avanço político,
não só o México perderá mercado nos EUA, mas haverá um
êxodo constante de empregos.
É irônico que um país não democrático como a China desempenhe papel tão crítico na
revitalização das instituições
democráticas mexicanas. Trata-se de mais um exemplo da
globalização em ação. A liberalização econômica prepara o
cenário para uma abertura política mas só terá sucesso se a
democracia produzir políticas
que promovam a competitividade. O México agora precisa
de cooperação multipartidária
para realizar seu pleno potencial econômico e encarar o desafio da expansão mundial chinesa.
David Hale é presidente do conselho da organização China Online
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