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TENDÊNCIAS INTERNACIONAIS
Economia global fortalece empresas e países
GILSON SCHWARTZ
ARTICULISTA DA FOLHA
É comum a comparação entre o PIB de alguns países e
o tamanho de certas empresas.
As grandes do mundo são hoje
maiores que a maioria das nações, em termos de posse de riqueza. Menos frequente é a radiografia dessas empresas, de
um ponto de vista qualitativo.
Os resultados anunciados pela
GE (General Electric) nos EUA,
na semana passada, são um
exemplo didático. No terceiro
trimestre, a empresa faturou
pouco mais de US$ 4 bilhões. Sinais dos tempos são as fontes de
maior impacto positivo no balanço da empresa.
Primeiro, a venda de uma empresa de internet. A operação foi
comprada por um fundo de investimento em sucata virtual.
Outra fonte de boas receitas e lucros foram as operações estritamente financeiras da GE. Finalmente, a lucratividade de sua
unidade de mídia, a rede de televisão NBC, foi a vedete: aí os lucros subiram 59%.
A GE notabilizou-se por operar nos setores de energia elétrica, turbinas, aviação, lâmpadas.
Hoje, somente em ativos financeiros a empresa detém US$ 473
bilhões. Ou seja, apenas a parte
financeira da GE bate o PIB de
boa parte dos países pobres ou
em desenvolvimento.
Sustentáculos
As finanças e a mídia servem
como claros sustentáculos "em
última instância" das perspectivas de sobrevivência e acumulação de capital da GE. De empresa que lidava com matéria e
energia, a General Electric transformou-se numa rede sustentada pelas finanças e pela mídia.
A GE segue o velho ditado:
nunca deixe todos os ovos na
mesma cesta. Essa capacidade
de adaptação aos altos e baixos
do ciclo econômico (seu setor
industrial sofre com a desaceleração da indústria aeronáutica
mundial) é a chave da sobrevivência da empresa-país. As receitas operacionais da GE cresceram 10% ou mais ao longo dos
últimos nove anos.
Para quem está no país receptor de capital da GE, é comum a
ilusão de que empresas globais
do setor industrial são apenas
indústrias (e que por isso esse
capital estaria mais solidamente
ancorado no território nacional). As grandes empresas globais, mesmo as mais consagradas em setores industriais, como
no caso da GE, são também potências financeiras, tecnológicas
e midiáticas.
"Capital midiático"
Se é real essa dificuldade de
distinção entre o que é capital
"produtivo" e o que é capital "financeiro", o mesmo tipo de problema aparece quando se coloca
em cena também o "capital midiático".
A GE é proprietária da NBC
(que aliás lhe rende lucros maiores que o de unidades industriais do mesmo grupo). Que garantias há de que o noticiário da
NBC sobre questões de interesse
da área de motores ou de cartões
de crédito da GE seja isento?
Para quem está no país receptor de capital da GE, onde aliás
também se recebe a programação da NBC, é estratégico saber
se a mídia da GE opera em defesa dos interesses de outros setores da empresa. Ocorre que é
uma empresa do tamanho de
um grande país.
O governo Fernando Henrique Cardoso acaba de editar,
por meio de medida provisória,
a legislação que viabiliza a abertura do setor de comunicação ao
capital estrangeiro. Amanhã estará reunido o pleno do Conselho de Comunicação Social
(CCS), que pretende agendar
um debate sobre o tema com os
candidatos presidenciais.
Está em jogo a difícil arte de
diferenciar entre as empresas-países e os países que recebem
essas empresas.
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