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Analistas divergem sobre alcance e momento ideal para mudança
DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo entre economistas
que defendem mudanças no regime de metas de inflação, há
dúvidas sobre como e quando
implementá-las.
Alguns especialistas avaliam,
por exemplo, que este não é o
momento ideal para o governo
modificar as regras do regime
de metas.
"Acho que um momento em
que o PT fica discutindo com o
próprio PT os rumos da política
econômica não é o ideal para
mudanças desse tipo", diz Fernando de Holanda Barbosa,
professor da FGV (Fundação
Getúlio Vargas).
Outro ponto de discussão diz
respeito a quais mudanças poderiam ser feitas. Nos países que
adotam expurgos no índice de
inflação, os preços excluídos variam. Alguns deixam de fora da
meta apenas os efeitos que aumentos de juros têm sobre o índice, outros excluem as variações dos preços de petróleo e de
alguns alimentos.
"As medidas de núcleo também apresentam problemas. É
complicado decidir o que excluir no caso de um índice por
exclusão ou o que o aparar no
sistema de metas aparadas", diz
José Júlio Senna, sócio-diretor
da MCM Consultores.
Segundo Tito Nícias, economista do BC, seria errado, por
exemplo, excluir da conta os
preços administrados que, ironicamente, na opinião dele, são
os maiores responsáveis pelas
pressões inflacionárias que levaram ao descumprimento da
meta nos últimos anos:
"O governo FHC fez uma privatização absurda que, em vez
de buscar maximizar o bem-estar social, fez contratos corrigidos por índices indexados ao
dólar que buscavam atrair compradores e maximizar a receita
das vendas", diz Nícias, que faz
doutorado na Universidade Oxford, no Reino Unido.
Apesar disso, Nícias é contra o
expurgo dos preços administrados do núcleo inflacionário.
"Se você exclui os preços administrados, a inflação real, sentida pelos consumidores, será
sempre maior que a inflação
perseguida, porque esses preços
apenas sobem", diz Nícias.
Horizonte
Alguns analistas acreditam
que a mudança ideal no sistema
seria o abandono do período fechado no calendário de um ano
para o cumprimento da meta.
Os países que praticam o regime de metas de inflação perseguem seus alvos em períodos
que variam, em média, de um
(caso do Brasil) a três anos.
"Isso daria maior flexibilidade
à política monetária", diz Alexandre Maia, economista-chefe
da Gap Asset Management.
Outros economistas acreditam que basta o BC perseguir
um ponto acima do centro da
meta neste ano para resolver a
ameaça de que os juros altos
prejudiquem o crescimento.
"Eu defendi, em 2001 e 2002,
que o BC tivesse adotado alguma medida de núcleo. Mas acabou-se optando por alargar a
banda. Hoje, acho que isso já
traz flexibilidade suficiente ao
sistema", diz Sérgio Werlang,
considerado um dos pais do regime de metas brasileiro, que
deixou o BC em 2001.
Embora a política monetária
restritiva tenha efeitos negativos
sobre a economia, especialistas
enumeram outros freios à retomada do crescimento.
"Falta melhorar muito a situação fiscal e promover uma abertura maior da economia", diz
Paulo Leme.
Alexandre Bassoli, economista-chefe do HSBC, acrescenta
que o afrouxamento da política
monetária no Brasil teria efeitos
limitados sobre a atividade econômica. Como há limites à expansão da economia impostos,
por exemplo, por baixa capacidade instalada em alguns setores, a tendência é que, a partir de
certo patamar de juros reais, as
pressões inflacionárias voltem.
"O BC teria de aumentar os juros novamente. Além disso, a
experiência mostra que os ganhos de um afrouxamento dos
juros para fins de crescimento
são efêmeros, e os custos, altos."
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