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Núcleo de inflação, sem preços administrados e efeitos sazonais, subiu 8%; IPCA cheio foi de 9,3%
Pela regra do Fed, BC acertaria meta em 2003
PEDRO SOARES
DA SUCURSAL DO RIO
Se o BC (Banco Central) tivesse
adotado em 2003 o núcleo de inflação como parâmetro para o regime de metas, teria atingido seu
objetivo. O índice ficou em 8%,
menos do que o IPCA "cheio" de
9,30%. A meta ajustada era de
8,5%.
O cálculo é do Grupo de Conjuntura da UFRJ (Universidade
Federal do Rio de Janeiro) e o modelo usado é o de exclusão -que
retira do índice alimentos, tarifas
públicas e preços administrados
(energia, combustíveis, telefonia e
outros). Esse é o núcleo que o Fed
(BC dos EUA) usa informalmente
como parâmetro para a inflação
-lá, não há uma meta explícita.
Para alguns especialistas ouvidos pela Folha, o sistema permite
mais flexibilidade à política monetária. Ou seja: os juros não precisam subir tanto ou deixar de
cair para conter o consumo e,
conseqüentemente, a inflação.
Já na análise de outros economistas, o intervalo de tolerância
-de 2,5 pontos percentuais para
cima ou para baixo- adotado
pelo BC assegura um bom manejo da política monetária. Há um
consenso, porém, de que o regime
de metas é o mecanismo mais eficiente para combater a inflação.
Para Carlos Thadeu de Freitas
Filho, da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro), ao adotar
o índice "cheio" o BC acaba combatendo a inflação "com o remédio errado". Segundo ele, as mudanças na taxa de juro não afetam
as tarifas públicas, principais responsáveis pelo aumento da inflação nos últimos anos e cujos preços são indexados -sobem independentemente da demanda.
O ex-presidente do Banco Central Gustavo Loyola, entretanto,
acha que não é a hora de mexer no
regime de metas. "Determinar
um núcleo é bastante arbitrário.
Fica menos transparente. A inflação que a sociedade percebe é a
cheia", disse.
Para Loyola, o regime de metas
no país ainda é bastante recente
para utilizar um índice expurgado. O intervalo de tolerância, diz,
assegura ao BC uma margem para
lidar com eventuais choques.
Tarifas
A cada ano, o peso das tarifas
aumenta no IPCA. Era de 20,1%
em 1999, contra 79,9% dos preços
livres -estes, sim, sujeitos aos
efeitos da política monetária e ao
nível de atividade econômica. Em
2003, a participação dos chamados preços administrados no índice subiu para 28,6%.
O motivo é que eles sobem sempre mais do que a inflação média.
Em 2003, os preços administrados subiram 13,2%. Os preços livres, 7,8%. Desde 1999, as tarifas
sempre aumentaram mais do que
os preços de mercado.
Para Loyola, o problema das tarifas é o indicador de correção: "A
indexação pelo IGP-M [Índice
Geral de Preços do Mercado, da
Fundação Getúlio Vargas, definida nos contratos de privatização]
foi um equívoco. É um índice
muito influenciado pelo câmbio".
Loyola sugere uma negociação
com as concessionárias de energia e telefonia para mudar para
um índice setorial, que reflita os
custos de cada setor.
Segundo Alexandre Sant'Anna,
da administradora de recursos
ARX, o erro do governo neste ano
foi a meta fixada -responsabilidade da Fazenda, não do BC.
"Ninguém mais duvida que o BC
é transparente e tem credibilidade. O problema é que a meta deste
ano é muito ambiciosa."
Freitas Filho concorda que a
meta, de 5,5%, é baixa. As projeções apontam inflação de cerca de
6,5% neste ano. "Não dá para sair
de uma inflação de 9,3% num ano
e no seguinte reduzi-la num período tão curto."
Para Loyola, a meta de 2004 é
factível: "Será ambicioso baixar a
inflação ainda mais nos próximos
anos". Uma das principais dificuldades é a fragilidade externa, que
torna instável a taxa de câmbio,
diz. A meta para 2005 é de 4,5%.
Na avaliação do economista
Luiz Roberto Cunha, da PUC-Rio,
há uma preocupação excessiva
com a taxa de juro, cujo efeito é
superdimensionado. "Em 2000, o
juro real era maior e o país cresceu. Existe uma série de outras
condições para o crescimento:
questões regulatórias, um ambiente favorável aos negócios
etc." Em 2000, o PIB subiu 4,36%.
Em 2003, houve queda de 0,2%.
Uma outra possibilidade para
aperfeiçoar o sistema de metas é
deixar de usar o ano calendário
como referência e substituí-lo por
uma meta de 12 meses, segundo
Sérgio Lima, da administradora
de recursos Mellon. Com isso, diz,
o BC não precisaria "correr" no
começo do ano (período no qual
sazonalmente a inflação sobe com
chuvas, mensalidades escolares e
tributos), apertando a política
monetária para cumprir a meta.
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