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Entidades do setor pedem ao banco estatal cerca de R$ 5 bi para dívidas e R$ 1,2 bi para a compra de papel-jornal
BNDES estuda financiar dívidas e papel
DA SUCURSAL DO RIO
O presidente do BNDES (Banco
Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social), Carlos Lessa, informou que está em análise a
criação de uma linha de financiamento para a compra de papel de
imprensa. Será um empréstimo
de médio prazo, para aliviar a situação financeira dos grupos de
mídia impressa.
Lessa defendeu o socorro ao setor, mas demonstrou desconforto
com a situação. Disse que o financiamento para a compra de papel
é uma operação típica de capital
de giro, "que o banco não gosta de
fazer", e que as empresas de comunicação têm capital fechado e
um "peso muito grande das personalidades que as dirigem".
Representantes de alguns dos
principais grupos do setor -entre eles, a Folha da Manhã S.A.,
que edita a Folha- estiveram
com Lessa, em outubro, para pedir a criação de linhas de crédito
para a compra de papel e para recomposição de dívidas.
Na ocasião, foi apresentado um
estudo com a estimativa de endividamento total do setor, de R$ 10
bilhões. O estudo foi encomendado pela ANJ (Associação Nacional de Jornais), pela Abert (Associação Brasileira das Emissoras de
Rádio e Televisão) e pela Aner
(Associação Nacional das Editoras de Revistas). As associações
pediram crédito equivalente a um
ano de consumo de papel, cerca
de R$ 1,2 bilhão, com três anos de
prazo para pagamento, dois anos
de carência e pagamento semestral dos juros. As beneficiárias seriam empresas de jornais e revistas. O programa teria duração de
um ano e meio, até a regularização das linhas de financiamento.
Segundo Carlos Lessa, o pedido
implicaria um desembolso muito
alto e deve ser atendido em parte.
O quanto disso será atendido ele
não esclareceu: "O financiamento
é parecido com o cobertor e a fogueira. Se o cobertor for menor
do que a fogueira, ela reacende.
Tem de ser grande o suficiente para abafar o fogo".
Em entrevista à Folha, ele disse
que o setor fez dívidas em dólar
nos anos 90 para modernizar e expandir instalações e, depois, foi
frustrado pela falta de crescimento econômico. Segundo ele, o choque cambial desequilibrou financeiramente as empresas, que recorreram aos bancos a curto prazo. No caso da mídia impressa, segundo Lessa, houve um outro
agravante: com o aumento do risco Brasil, reduziu-se o crédito para financiamento da importação
de papel, e as empresas tiveram de
comprar à vista.
Refinanciamento
As três entidades pediram uma
linha especial de crédito, cerca de
R$ 5 bilhões, de longo prazo, para
substituir dívidas com bancos e
mercado de capitais, no Brasil e
no exterior, contraídas ou garantidas por empresas de comunicação. A maior devedora é a Globopar, cuja dívida no exterior é garantida pela TV Globo.
O documento entregue ao
BNDES, em outubro, sugere que
sejam refinanciados 50% das dívidas existentes em 31 de dezembro
de 2002, o que significaria uma linha de crédito de R$ 5 bilhões,
com dez anos para pagamento.
Segundo Carlos Lessa, o BNDES
é favorável a auxiliar a mídia
-"uma nação que não tenha sua
própria mídia não sustenta sua
identidade nacional a longo prazo", diz-, mas o assunto foge à
alçada do banco e exige decisão
superior, da Presidência da República, por envolver a indústria de
comunicação e pelo fato de o setor se encontrar em situação
"muito especial, muito grave".
"Um programa desse tipo tem
de ser muito bem desenhado, para que não seja instrumento de interferência e de manipulação.
Não podemos construir nada que
seja interpretado como favorecimento a grupo, grupos ou segmento do setor", completou.
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