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Empresas divergem sobre pedido ao banco estatal
DA SUCURSAL DO RIO
O pedido de socorro financeiro
do BNDES tem sido objeto de discussão, e de críticas, dentro do
próprio setor de mídia. Há consenso de que as empresas de mídia são pouco transparentes no
que se refere à divulgação de seus
próprios números, embora cobrem transparência dos outros
setores.
A Folha ouviu dirigentes dos
principais grupos de comunicação sobre o pedido de empréstimo ao BNDES. Há duas questões
em jogo: se o empréstimo vai afetar a independência da mídia e se
representa privilégio ao setor. A
posição das empresas pode ser
vista a seguir:
Jorge Nóbrega, diretor de planejamento e controle da Globopar:
"Achamos o empréstimo importante. As empresas se endividaram em dólar. O câmbio triplicou,
e a receita do setor caiu, por causa
da redução da atividade econômica. Não queremos subsídio, mas o
alongamento da dívida. Se o projeto for aprovado, é claro que as
condições dos empréstimos serão
de conhecimento público".
Roberto Civita, presidente do
Grupo Abril: "O BNDES é a única
fonte de recursos de longo prazo
do Brasil. Se todos os setores básicos da economia recebem recursos, não sei por que a mídia deveria ser excluída. O tratamento às
empresas sérias não pode ser diferente de um setor para outro. [...]
Se o BNDES exigir "full disclosure"
[abertura total de informações]
das empresas, não vejo problema.
[...] Transparência de informações é bom. Mas acho que está se
esperando demais do BNDES. Há
gente sonhando, se iludindo".
Luís Frias, presidente do Grupo
Folha: "A posição da empresa e
do jornal é favorável à participação da mídia nos programas de financiamento do BNDES, desde
que em condições iguais às dos
demais setores da economia e
desde que haja rigor total em relação à transparência e à qualidade
dos números das empresas".
Francisco Mesquita Neto, presidente do Conselho de Administração do Grupo O Estado de
S.Paulo: "O BNDES entendeu a
importância do setor para o país,
do ponto de vista institucional, e
vai fazer uma análise transparente
do assunto, como nós gostaríamos. A preocupação em preservar a autonomia da imprensa está
na cabeça de todos. Não vi nenhum sinal de que o BNDES queira influir na linha editorial das
empresas. Acho que vai exigir que
as empresas passem a publicar
balanços e sejam mais transparentes. Se o setor não estiver preparado para isso, é melhor se preparar. E vai ser extremamente positivo".
Luiz Sandoval, presidente do
Grupo Silvio Santos: "A indústria
de radiodifusão tem de ter uma linha de financiamento. É justo,
correto. Não somos diferentes de
uma fábrica de sabonetes, mas
sou contra financiamento para
recomposição de dívidas, pois o
BNDES é um banco de fomento.
O SBT não tem dívida externa".
Ariane de Carvalho, presidente
do jornal "O Dia": "Qualquer
banco de fomento tem de atender
às indústrias que necessitam de
capital. Os grupos de mídia investiram em parque gráfico e em tecnologia. Houve uma forte desvalorização cambial, e nosso principal insumo, que é o papel, é dolarizado. O projeto encaminhado
ao BNDES faz sentido. O que eu
não acho correto é a forma como
a ANJ, a Abert [associação das
emissoras comerciais] e a Aner
[Associação Nacional das Editoras de Revistas] encaminharam a
questão. A iniciativa de um grupo
foi apresentada em nome das associações. Estou entre os cinco
maiores jornais do país, faço parte
da ANJ e não tive acesso ao projeto. [...] A mídia tem de dar sua
contrapartida e profissionalizar a
administração. Os grupos são
muito fechados, tentam esconder
informações, não falam realmente a verdade sobre os preços que
praticam. [...] Não acho que o dinheiro do BNDES vá colocar a imprensa de joelhos".
Jayme Sirotsky, vice-presidente
da Associação Mundial de Jornais
e acionista do Grupo RBS: "Estamos [a RBS] há 47 anos no mercado, preocupados em prestar o
melhor serviço, e isso pressupõe
independência. Se as empresas
têm sua missão clara e condição
de operação sadia, não vejo por
que um empréstimo do BNDES
afetaria sua independência editorial. O alijamento de uma indústria pelo BNDES não é coerente".
Dennis Munhoz, presidente da
TV Record de São Paulo: "A Record vai ficar muito atenta e não
vai tolerar que uma emissora seja
beneficiada em detrimento de outra. Precisamos saber por que vai
ser dado o empréstimo, a quem e
em que condições, para depois
manifestarmos nossa opinião. [...]
A coisa está sendo tratada sem a
transparência que merece, porque é dinheiro público. Se for empurrada goela abaixo, a Record
não vai aceitar. A sociedade precisa participar do debate. [...] Não
tive acesso à proposta entregue ao
BNDES. [...] Se for para gerar emprego, para estimular o setor e para ele se defender do capital estrangeiro, o empréstimo é válido.
Mas não se pode premiar quem
administrou mal. Quem não está
para quebrar não pode ser punido
para que outro não quebre".
Antonio Teles, consultor da
presidência da Rede Bandeirantes: "O BNDES foi criado para financiar a indústria. E é legítimo, e
justo, que ele coloque recursos à
disposição da mídia para que ela
refinancie suas dívidas e incremente os negócios. [...] Não acho
que um empréstimo público vá
afetar a imparcialidade da imprensa. Se o governo quisesse ter a
mídia de joelhos, a publicidade
seria uma forma de pressão muito
mais efetiva".
Walter de Mattos Júnior, presidente do jornal "Lance": "O Estado não deve refinanciar as dívidas
nem fazer a mudança estrutural
de custos sem exigir contrapartidas, como a publicação de balanços e a governança corporativa. O
BNDES discriminou negativamente a mídia. [...] Como cidadão, quero discutir que mídia,
principalmente a impressa, queremos ter. Não há país desenvolvido sem grande penetração da
mídia impressa. Vivemos um
apartheid da informação".
(ELVIRA LOBATO)
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