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ANÁLISE
Se nada mais der certo, Fed pode tentar o Plano B
PHILIP COGGAN
DO "FINANCIAL TIMES"
Plano b . Essa é a expressão
que os estrategistas da corretora Dredner Kleinwort Wasserstein vem empregando para
descrever as medidas "não convencionais" que o Federal Reserve (banco central dos EUA)
poderia adotar.
A idéia é que o Fed estaria agora o mesmo dilema que atingiu
o Banco do Japão na década de
1990 e que continua a afligi-lo.
As taxas de juros estão se aproximando do zero. (As taxas de
juros norte-americanas estão
em 1,25% ao ano) Não há muita
margem para cortes.
Pior, se a deflação vier, o Fed
perderia a iniciativa. As taxas
nominais de juros não podem
ficar abaixo de zero. Assim, se os
preços estiverem caindo, as taxas reais de juros devem sempre
ser positivas. Ben Bernanke, um
dos diretores do Fed, deu a entender que o Fed fará tudo para
evitar esse tipo de problema. Os
cortes nas taxas de juros talvez
não sejam o bastante. Daí surge
a necessidade do Plano B.
O que o Plano B poderia envolver? O Fed poderia declarar
que adotaria uma meta mais elevada para a inflação, mas é pouco provável que uma declaração
desse tipo, se não for acompanhada por medidas práticas, seja o bastante.
Uma possibilidade seria que o
Fed tentasse controlar as taxas
de juros de prazo mais longo,
por meio de aquisições nos mercados de títulos públicos. Em
sua forma mais simples, a instituição poderia "rodar a gráfica"
e imprimir dinheiro para a compra de papéis, e dessa forma injetaria liquidez na economia.
Rendimentos mais baixos para
os títulos poderiam estimular o
setor empresarial a tomar mais
empréstimos e a investir mais,
particularmente se o Fed estipular uma meta explícita para o
rendimento dos títulos.
Uma iniciativa como essa seria
aceita sem dificuldades pelos investidores. Se os investidores temessem que uma medida assim
levasse a uma alta posterior da
inflação, poderiam forçar para
cima os rendimentos de longo
prazo, negando parte dos benefícios da ação do Fed.
O banco central talvez se visse
compelido a adquirir outros ativos, tais como títulos municipais, debêntures ou até mesmo
ações. Isso provocaria algumas
interessantes questões políticas
sobre uma nacionalização
"clandestina" e sobre favorecimento na seleção dos ativos.
Alguns não acreditam que
qualquer banco central, nem o
Fed, seja realmente capaz de deter as forças deflacionárias mundiais que já em ação. Os pesados
níveis de endividamento nos
países desenvolvidos significam
que as empresas e os consumidores vão querer ampliar sua
poupança, reduzindo a demanda agregada, enquanto a indústria encontra problemas devido
à globalização e à crescente
ameaça da China.
Talvez um dos motivos para a
recente alta das Bolsas seja o fato
de que os investidores acreditem que o Plano B não está longe
de ser implementado. De fato, o
Fed vem bancando os mercados, exatamente como no final
dos anos 90, quando os investidores acreditavam na disposição do BC de resgatar o setor financeiro diante da crise asiática
e o colapso da corretora Long-Term Capital Management.
A equipe do Dresdner acredita
que o Plano B vá terminar funcionando para reanimar a economia e que isso servirá de gatilho para que o banco abandone
sua já antiga postura pessimista
quanto às ações. Mas eles argumentam igualmente que as notícias teriam de ser muito ruins
antes que o Plano B seja adotado. E é ação do Fed, e não conversa, que reanimará os mercados. Por isso, argumenta a
Dresdner, não há motivo para
otimismo, por ora.
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