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Socorro do governo para aviação é
insuficiente, afirma dono da Vasp
GUILHERME BARROS
EDITOR DO PAINEL S.A.
O empresário Wagner Canhedo, 66, dono da Vasp, afirma que,
a exemplo do que ocorreu em
2001, a empresa irá, neste ano,
apresentar lucro no balanço, apesar de toda a crise que atravessa o
setor. No ano passado, a Vasp foi
a única das grandes empresas aéreas a fechar o balanço no azul,
com um lucro de R$ 36 milhões.
"A Vasp é a que está menos
ruim nesse mercado", diz. Sobre a
fusão entre as três maiores companhias aéreas (Varig, Vasp e
TAM), Canhedo diz que essa é a
melhor solução para o setor. Para
ele, a fusão não aconteceu ainda
porque falta uma decisão das outras companhias.
Canhedo considera também o
pacote aéreo do governo insuficiente para resolver os problemas
do setor. Ele espera medidas adicionais, como o fim da cobrança
do ICMS sobre os combustíveis,
"Seria um alívio". A seguir, os
principais trechos da entrevista:
Folha - O que o sr. achou do pacote aéreo do governo?
Wagner Canhedo - Foi pelo menos o primeiro passo, mas o setor
necessita de muito mais. O pacote
não atende as necessidades das
empresas aéreas e o governo tem
consciência disso, tanto que está
estudando outras medidas para
melhorar as condições do setor.
Folha - Que medidas seriam essas?
Canhedo - Não sabemos o que o
governo vai decidir. Há uma série
de medidas que o governo pode
tomar para ajudar o setor. A eliminação do ICMS sobre o combustível, por exemplo, é uma reivindicação do setor e, se fosse
adotada, iria dar uma grande ajuda às companhias, já que teria um
efeito imediato sobre o caixa das
empresas. Nós estamos precisando de medidas que possam melhorar o nosso caixa.
Folha - A Vasp também irá recorrer ao BNDES?
Canhedo - A Vasp está aguardando a decisão do BNDES em
relação ao pedido da Varig para
também seguir o mesmo caminho. Nós vamos solicitar ao
BNDES o que for possível.
Folha - Como estão as finanças da
Vasp?
Canhedo - A Vasp é a que está
menos ruim nesse mercado. A situação da Vasp não é ótima, mas
ninguém está numa situação ótima. Afinal, nós vendemos em real
e compramos em dólar.
Folha - A que o sr. atribui o fato
de a "Vasp ser a menos ruim do mercado'?
Canhedo - Eu acho que fizemos o
dever de casa antecipadamente.
Foi isso que nos ajudou a termos a
posição confortável de agora. Nós
cortamos custos, paramos de fazer viagens internacionais, adaptamos a empresa à realidade. A
Vasp promoveu duas grandes
reestruturações desde quando
compramos a empresa (em 1990).
Hoje, temos quatro mil funcionários para 32 aeronaves. Ou seja,
pouco mais de 100 funcionários
por aeronave, praticamente sem
terceirização. Nós já tivemos mais
de o dobro de pessoal por aeronave.
Folha - As empresas de aviação
estão operando no vermelho.
Quais são as perspectivas da Vasp
para este ano?
Canhedo - Nós não estamos no
vermelho. Nós fecharemos o ano
no azul.
Folha - E a dívida?
Canhedo - A dívida da Vasp é pequena (só ao INSS, a Vasp deve
R$ 600 milhões), mas, além disso,
temos créditos a receber do governo federal. Esses créditos são
suficientes para quitarmos a dívida. Só estamos aguardando a decisão final da Justiça. Quando isso
acontecer, vamos fazer uma limpeza no nosso balanço. Na verdade, vamos até ter créditos a receber.
Folha - O que o sr. acha da fusão
entre as empresas aéreas?
Canhedo - Sou totalmente favorável à fusão das três grandes empresas (Varig, Vasp e TAM). Essa
será a solução do futuro e, se pudermos antecipá-la, vamos ganhar tempo e dar mais conforto
aos passageiros.
Folha - O que falta para a fusão?
Canhedo - Acho que está faltando uma decisão comercial das outras companhias.
Folha - Como se daria a fusão?
Canhedo - Não vejo muitas dificuldades. Se partirmos para uma
fusão, acho que o que precisa ser
considerado é o ativo real e não o
valor intangível das empresas.
Folha - Quais os planos da Vasp
para o futuro?
Canhedo - A Vasp está pronta
para crescer. Nós devemos dobrar
o número de aeronaves dentro de
um a dois anos. Para isso, estamos
conversando com a Embraer, a
Airbus e a Boeing. A Vasp irá dar
seu grande salto.
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